Genshibakudan*

publicado na Ed_03_abr/jun.2017 por

A ilha de Tinian, localizada no Oceano Pacífico, servia de base para as tropas norte-americanas. Dela partiram os B29 que, entre outras ações, promoveram o bombardeio incendiário em Tóquio e lançaram as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Na madrugada de 6 de agosto de 1945 uma tripulação especial se preparava para partir para uma missão sobre a qual a maioria deles nada sabia. Paul Tibbets, um dos poucos que tinham conhecimento da missão, já havia definido seu alvo sobre a ponte Aioi em Hiroshima; ele pilotaria o B29 Enola Gay, que levaria a bordo a primeira bomba atômica, na história, a ser usada contra a humanidade.

Além do Enola Gay, participavam da missão o avião Great Artist (Grande Artista), pilotado por Charles Sweeney, e o Necessary Evil (Mal Necessário), pilotado por George Marquart. Duas horas antes já havia decolado um avião de observação meteorológica, batizado de Straight Flush, que, além de verificar as condições climáticas no alvo primário, fazia parte de uma estratégia de disparar os alarmes antiaéreos. Dessa forma, o voo seria identificado como tantos outros de reconhecimento fotográfico, e o alarme seria cancelado para logo em seguida soar a sirene de “tudo limpo”, ou seja, o avião não oferecia perigo. Por volta das 7h30 no horário japonês, o Straight Flush enviou uma mensagem codificada aos seus companheiros, de que o tempo estava limpo no alvo primário.

Era uma segunda-feira de verão, o sol brilhava no céu azul e claro. Depois de despertarem com o alarme disparado pelo avião de reconhecimento e correrem para os abrigos antiaéreos, vários japoneses retornavam para casa e se preparavam para começar o dia.

Alguns preparavam os filhos para ir à escola e outros partiam para mais um dia de trabalho. Os bombardeios americanos tinham destruído diversas cidades japonesas, mas Hiroshima até então tinha sido poupada.

Às 8h15 do dia 6 de agosto de 1945, o bombardeiro pilotado por Paul Tibbets lançou a Little Boy (como foi batizada a bomba de aproximadamente 3 metros de comprimento e pesando 4 toneladas, feita de urânio 235) sobre a cidade.

A bomba detonou 43 segundos depois, 600 metros acima de Hiroshima. Todos os relógios da cidade pararam nesse exato instante, eternizando o momento da explosão.      Hiroshima foi atingida por uma onda de calor com temperaturas que chegaram entre 3000 e 4000ºC, gerando uma explosão de vento e radiação que rapidamente varreu a cidade, com a força de 16 mil toneladas de TNT. A bola de fogo em um segundo atingiu 280 metros de diâmetro.

A pressão atmosférica gerada pela explosão atômica era de aproximadamente 19 toneladas por metro quadrado, e se expandiu rapidamente. Em dez segundos o vendaval já tinha atingido um raio de quase quatro quilômetros.

Quando a poeira diminuiu, a pressão do ar caiu rapidamente no centro da explosão, fazendo com que o ar retornasse em um movimento centrípeto, formando o cogumelo atômico, que não foi visto ou percebido por aqueles que por ele foram atingidos. Como consequência, uma grande escuridão e o ar pesado tomaram conta da cidade.

As construções de madeira foram destruídas; apenas os edifícios construídos com ferro e concreto permaneceram em pé, mas sofreram sérios danos. Em um raio de 3 quilômetros, mais de 80% das construções se incendiaram e desabaram.

Muitos que conseguiram sobreviver ficaram desesperados tentando retirar os familiares dos destroços. Eles escavaram os escombros com as próprias mãos. Mas com o fogo se aproximando tiveram que fugir para salvar a própria vida. Um número incontável de pessoas ficou soterrado e foi queimado vivo.

A bomba continha cerca de 550 gramas de urânio 235, que entrou em fissão, emitindo a princípio uma explosão de luz que se expandia em todas as direções, com raios de calor e radiação. Menos de 1 segundo depois da ativação da bomba, o clarão inicial já tinha percorrido um raio de cerca de 300 metros, com temperatura centenas de vezes superior à necessária para carbonizar o corpo humano. No centro da explosão a temperatura chegou a mais de 1 milhão de graus Celsius. As pessoas que estavam sob a bomba talvez tenham experimentado a morte mais rápida de toda a história humana. Elas deixaram de existir antes que qualquer nervo percebesse a dor.

Estima-se que 50% das pessoas que estavam a até 1.200 metros morreram no momento da explosão ou algumas horas depois.

Cerca de 30 minutos após aconteceu o fenômeno que ficou conhecido como “chuva negra“ (caiu sobre a cidade a partir da nuvem de radiação uma espécie de chuva escura e espessa como petróleo), levando a radiação e suas consequências a lugares mais distantes do hipocentro da bomba.

Os primeiros socorros prestados às vítimas foram precários. Como vários hospitais, instalações militares e abrigos foram destruídos, não havia medicamentos, instrumentos e provisões para tratar os feridos, que aumentavam cada vez mais. Médicos e enfermeiras dispunham apenas de gazes, antissépticos, ataduras e mercúrio. Alguns chegaram a usar óleo de cozinha para passar nas queimaduras. Como o número de feridos só aumentava, o atendimento se concentrava naqueles com chance de sobreviver. Muitos morriam antes de receber os primeiros cuidados.

Foi estimado que na cidade havia cerca de 350 mil pessoas no momento da explosão, entre militares e civis, incluindo prisioneiros coreanos e chineses, que estavam sob domínio japonês. Além de outros estrangeiros, como estudantes chineses e do sudeste asiático, religiosos de várias nacionalidades e soldados norte-americanos.

Diferentemente de outros ataques a bomba, a bomba atômica emitiu uma grande quantidade de radiação que causou diversos danos à saúde. A radiação penetrava profundamente no corpo, provocando males às células, alterando o sangue, prejudicando a medula óssea, danificando pulmões, fígado e outros órgãos.

Além de sentir os efeitos instantâneos da radiação, grande número de pessoas desenvolveu sintomas posteriores; elas morreram dias ou meses depois. A radiação residual permaneceu no solo por um período maior; pessoas que entraram na cidade depois da explosão também desenvolveram sintomas similares àqueles de quem foi a ela diretamente exposto. Os principais sintomas foram vômito, perda de apetite, diarreia, dor de cabeça, perda de cabelo, cansaço, febre, hemorragia e alteração nos glóbulos brancos.

Ferimentos externos, como queimaduras e lacerações, apresentaram complicações por causa da baixa imunidade, causada pela radiação e má nutrição.

Os sintomas agudos persistiram por cerca de cinco meses. Porém, os efeitos da radiação se prolongaram por prazo indeterminado. Durante anos surgiram sequelas dos efeitos da radiação. Um ano após a bomba várias cicatrizes de queimaduras se transformaram em queloides. Bebês que ainda estavam no útero nasceram com microcefalia. Alguns apresentaram problemas mentais e físicos.

A partir de 1950 o número de pacientes com leucemia aumentou. De 1955 em diante cresceram os casos de câncer de tireoide, mama, pulmão, entre outros tipos.

De acordo com estimativas feitas pela prefeitura de Hiroshima, calcula-se que até dezembro de 1945, ou seja, quatros meses após a explosão, 140 mil pessoas morreram em decorrência dos efeitos da bomba atômica.

Até os dias atuais há pesquisas sobre as consequências da bomba e os efeitos da radiação. Os sobreviventes receberam o nome de hibakusha.

*Bomba Atômica

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Crédito da imagem: Arquivo pessoal de Takashi Morita

Capítulo do livroAdeus, Hiroshima – sobreviventes da bomba recomeçam a vida no Brasil

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1 Comentário

  1. Nessa imagem, o primeiro do lado esquerdo é Takashi Morita, sobrevivente que mora em São Paulo e escreveu o livro “A última mensagem de Hiroshima”

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