Fabiane

publicado na Ed_04_jul/set.2017 por

Fabiane Maria de Jesus nasceu em 1981 no Rio de Janeiro. No mesmo ano ocorria a união chamada de “casamento do século” entre Charles e Diana, príncipe e princesa de Gales. Foi também neste ano que entrou em operação o Sistema Brasileiro de Televisão – SBT, com a transmissão do discurso de seu proprietário, apresentador e empresário Silvio Santos. O Brasil dava os primeiros passos fora da ditadura militar, que durou mais de 20 anos, e o país enfrentava uma situação econômica delicada depois do período denominado “milagre econômico” dos anos 70. A família de Fabiane, afetada pela concentração de renda e desigualdade da época, estava sem dinheiro. A opção, naquele momento, era de arriscar a vida em outro lugar em busca de novas oportunidades. O destino escolhido: São Paulo. Ela, ainda criança, com seus pais e irmãos, foi morar em Guarujá́, no litoral Sul do Estado. No bairro periférico de Morrinhos cresceu ao lado de familiares e amigos de escola.

A pouco mais de 1.700 quilômetros da cidade natal de Fabiane, sete anos antes, uma história muito semelhante aconteceu. Em 1974, nasceu Jaílson Alves das Neves, no interior da Bahia. Paripiranga é o nome da cidade que fica no nordeste do estado e faz divisa com Sergipe. O pai de Jaílson decidiu mudar-se para São Paulo em busca de melhorias de vida e com a garantia de um emprego que lhe fora prometido. Jaílson, com apenas um ano de idade, passou a morar no bairro de Morrinhos onde anos depois conheceria sua futura esposa e mãe de seus filhos.

O bom convívio dos amigos, desde muito cedo, anunciava o futuro a dois. Foram poucos encontros amorosos até que Jaílson a pedisse em namoro. O casamento nunca foi oficializado, mas isso não impediu que morassem juntos com o apoio da família. Aos 21 anos, Fabiane deu à luz a sua primeira filha, Yasmin; e, aos 31, à Ester.

Fabiane sofria de transtorno bipolar médio, um tipo de alteração de humor que pode provocar depressão e episódios de obsessão, mas não foi o problema psiquiátrico que a fez abrir mão de um trabalho para cuidar da casa. O lazer preferido de Fabiane, além de pintar panos de prato e fazer crochê, era andar de bicicleta. Pedalar durante as tardes na cidade era uma espécie de terapia para ela. Em dias de crise, ela chegava a percorrer até incríveis 40 quilômetros; já em outras, ela apenas empurrava a bicicleta e andava a pé, lado a lado, por todo o bairro.

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Crédito da imagem: CC0 Public Domain

Capítulo do livro “O linchamento de Fabiane Maria de Jesus

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