Sentar para uma entrevista com Mauro Beting é como assistir àquele jogo de Libertadores com o estádio lotado, onde cada lance é imprevisível, cheio de emoção e, claro, com aquela dose de humor e ironia que torna tudo mais saboroso. A gente se preparou para falar sobre técnicos estrangeiros no Brasil, mas, com Mauro, você nunca sabe onde a conversa vai parar. Não que isso seja um problema. Pelo contrário: cada desviada de assunto é uma aula, um comentário afiado, uma lembrança engraçada.
Eu ainda estava me ajeitando na cadeira quando ele soltou a primeira provocação: “E aí, pronto pra ouvir umas verdades inconvenientes sobre esses gringos que estão invadindo o nosso futebol?” Com Mauro, tudo é direto, sem floreios. A conversa começou daquele jeito que todo mundo gosta: como um bate-papo que divide o amor por futebol, mas também as críticas e frustrações.
Logo de cara, Mauro afirma que a presença de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro é um reflexo das mudanças rápidas e constantes que o esporte está vivendo no mundo todo. Ele explica que, com a globalização, o futebol se tornou uma grande rede conectada, onde as ideias e filosofias estão em constante intercâmbio. O Brasil, sendo uma potência nesse cenário, não pode ficar de fora dessa troca.
Destaca que esses profissionais não vêm apenas para ensinar; eles trazem uma bagagem cultural capaz de mudar nossa perspectiva sobre o jogo. Ele expressa seu entusiasmo ao mencionar figuras que marcaram época, como Jorge Jesus, o português que fez história no Flamengo ao conquistar a Libertadores em 2019. O treinador implementou um estilo de jogo intenso e envolvente, transformando o Flamengo em uma verdadeira máquina de vencer. Sob sua liderança, a equipe não apenas conquistou o título da Libertadores, mas também o Campeonato Brasileiro, criando uma era de ouro para o clube. É evidente que sua passagem deixou uma marca profunda na história do futebol brasileiro.
Esse fenômeno não é isolado. Mauro menciona que muitos treinadores de várias partes do mundo têm vindo ao Brasil nos últimos anos. Por exemplo, o argentino Jorge Sampaoli, que, após uma passagem marcante pelo Santos, apresentou uma abordagem tática agressiva e dinâmica que encantou a torcida. Ele se destacou pelo estilo de jogo ofensivo e pela capacidade de fazer com que seus jogadores se entregassem totalmente em campo.
Ressaltou que esses treinadores não estão apenas no Brasil para impor suas ideias; eles também aprendem com os jogadores locais. Ele descreve isso como um verdadeiro intercâmbio cultural, onde os técnicos se beneficiam da habilidade única dos atletas brasileiros, enquanto os jogadores absorvem novas ideias e metodologias. Esse jogo de vai-e-vem é o que torna a experiência tão rica, criando um ambiente propício para a evolução de todos os envolvidos.
É fascinante notar como essa troca de experiências e culturas enriquece não apenas os técnicos, mas também os jogadores e o próprio futebol brasileiro. Quando um treinador traz uma nova metodologia, seja no treinamento físico ou nas táticas de jogo, ele está contribuindo para a formação de atletas mais completos. E isso, para Mauro, é a essência do que torna o futebol tão especial no Brasil. O país tem uma história rica no esporte, e cada nova ideia que entra no cenário é uma oportunidade de se reinventar e se manter relevante no palco mundial.
Assim, enquanto Mauro se anima ao discutir essas questões, fica claro que a presença de técnicos estrangeiros não é apenas uma curiosidade ou uma tendência passageira. É uma parte fundamental da evolução contínua do futebol brasileiro, algo que todos, desde torcedores até jogadores e dirigentes, devem abraçar e valorizar. A interação de culturas, táticas e filosofias promete um futuro vibrante e cheio de possibilidades para o nosso amado esporte.
Beting também destaca a importância de reconhecer as contribuições de treinadores que moldaram a história do futebol brasileiro. Ele menciona a influência de Telê Santana, um nome que dispensa apresentações. Liderou a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, que ainda hoje é comentada. Integrou jogadores técnicos como Zico, Sócrates, Falcão, entre outros. Foi também múltiplo vencedor pelo Clube São Paulo, elevando a nível mundial com títulos como a Copa Libertadores e a Copa Intercontinental, ambas em 1992 e 1993. Para muitos ainda hoje, o melhor treinador brasileiro da história. Embora tenha uma formação brasileira, Telê era aquele tipo de treinador que estava sempre de olho nas novidades que surgiam no futebol europeu. Para ele, o aprendizado era constante, e a ideia de que sempre havia algo novo a absorver fez toda a diferença.
Telê implementou um estilo de jogo que mesclava talento individual com uma visão coletiva, algo que se tornou uma marca registrada de suas equipes. Para ele, o futebol não era apenas um conjunto de jogadas; era uma arte que envolvia a conexão entre os jogadores.
A forma como ele conduziu os jogadores, respeitando suas individualidades enquanto construía um jogo coeso, é um legado que ainda reverbera nas novas gerações de treinadores e jogadores.
É essencial reconhecer a contribuição de Telê e outros grandes treinadores brasileiros para entender como o futebol nacional se desenvolveu. Mauro ressalta que não se pode esquecer que o nosso futebol é construído sobre os ombros de gigantes. Ele lembra que, independentemente das novas influências, a rica tradição brasileira sempre será uma base sólida sobre a qual novas ideias podem florescer.
A capacidade de Telê de unir o melhor do que havia de novo no futebol internacional com a essência do nosso jogo é algo que muitos treinadores, tanto brasileiros quanto estrangeiros, tentam replicar. Essa combinação de inovação e respeito pela tradição é uma das chaves para o sucesso no futebol e algo que Mauro acredita ser fundamental para o futuro do esporte no Brasil. Assim, enquanto a nova geração de treinadores estrangeiros chega ao país, as lições de grandes nomes como Telê Santana continuam a ecoar, lembrando a todos nós da importância de aprender com o passado enquanto olhamos para o futuro.
A conversa logo mergulha nos desafios que os técnicos estrangeiros enfrentam ao se integrar ao futebol brasileiro. Ele fortemente acredita, adaptar-se ao nosso estilo vibrante e cheio de emoção é um verdadeiro quebra-cabeça. Ressalta que não se trata apenas de táticas, mas sim de compreender a essência do nosso futebol. Esse entendimento é crucial, pois, enquanto os técnicos trazem suas próprias metodologias, o Brasil possui uma cultura futebolística rica que frequentemente desafia a rigidez. A improvisação e a criatividade estão no DNA do nosso jogo.
Betting citou um técnico europeu que tentou impor um estilo de jogo superestruturado, quase militar. Ao invés de se conectar com a alma do futebol brasileiro, ele ficou insistindo em jogadas ensaiadas que simplesmente não se encaixavam no jeito espontâneo de jogar dos atletas. O resultado? Um vestiário tenso e uma performance que deixou a desejar. Essa experiência reforça a ideia de Mauro de que, enquanto os treinadores precisam se adaptar ao estilo vibrante do futebol brasileiro, é igualmente importante que eles tragam suas próprias ideias para a mesa.
A troca de experiências e o respeito pela cultura local são, para Mauro, essenciais para o sucesso. E não é apenas uma questão de estratégia; é mais sobre integrar a lógica dos treinos com a liberdade que caracteriza nossos jogadores. Os craques brasileiros, como Neymar e Ronaldinho, são ícones que exemplificam essa liberdade, criando jogadas desconcertantes que encantam o mundo. Essa habilidade de improvisação é uma das razões pelas quais o futebol brasileiro é tão respeitado globalmente.
“Os técnicos que conseguem equilibrar essa estrutura com a espontaneidade, não apenas ganham respeito, mas também criam um ambiente onde os jogadores se sentem valorizados.” Para ele, a verdadeira mágica do futebol está na habilidade de juntar planejamento e improviso. É nesse espaço que os grandes momentos acontecem, e onde o futebol brasileiro continua a brilhar como um espetáculo mundial.
Betting também destacou a importância da cultura e do contexto social em que os técnicos estrangeiros estão inseridos. Não é apenas sobre chegar e aplicar uma metodologia. É fundamental entender as nuances do ambiente, como as expectativas dos torcedores e a pressão por resultados imediatos. Um técnico que não compreende isso pode se sentir perdido e acabar em situações complicadas, sem saber como lidar com a intensidade da torcida e a paixão pelo jogo.
A habilidade de se conectar emocionalmente com os jogadores e entender suas realidades pode fazer toda a diferença. Essa conexão ajuda os técnicos a criarem um clima de confiança e camaradagem, que é vital para o desempenho da equipe. É isso que, em sua visão, torna a presença de técnicos estrangeiros tão interessante: a possibilidade de um intercâmbio cultural que não apenas eleva o nível do futebol, mas também enriquece a experiência de todos envolvidos no jogo.
A importância da comunicação entre técnicos e jogadores é fundamental, e não se limita apenas a dominar o português. Compreender as sutilezas do futebol brasileiro e, principalmente, a cultura que o envolve é essencial. Observou que, quando há um bom diálogo, o resultado pode ser incrível. Ele menciona novamente Jorge Jesus, que fez história no Flamengo ao traduzir suas ideias de forma clara. Os frutos dessa comunicação foram visíveis em uma campanha vitoriosa que encantou os torcedores.
Mas Jesus não é o único exemplo. Abel Ferreira, que conquistou o coração da torcida Palmeirense, soube se conectar com os jogadores e a cultura local. Essa habilidade resultou em títulos importantes e em uma ligação emocional profunda com os fãs. É esse tipo de relação que transforma um técnico em um verdadeiro líder, alguém que vai além do tático e se torna uma figura carismática dentro e fora de campo.
Quando falamos de futebol, a emoção é uma parte essencial. Os jogadores precisam sentir que estão jogando para alguém que os entende, que reconhece suas habilidades e respeita suas individualidades. A conexão não se limita ao campo; ela também se reflete nas interações diárias e nas conversas informais antes e depois dos treinos. A forma como um técnico se comunica pode criar um clima de confiança, onde os jogadores se sentem à vontade para expressar suas ideias e ousar em campo.
Essa troca de experiências não é unilateral. Os técnicos estrangeiros também aprendem com os jogadores brasileiros, absorvendo a paixão, a criatividade e a alegria que caracterizam o futebol do país. Essa mistura de influências, onde cada lado traz algo à mesa, enriquece o jogo e ajuda a criar um ambiente em que todos podem prosperar. É um ciclo de aprendizado que, quando bem equilibrado, pode levar a um futebol ainda mais emocionante e competitivo.
A química que surge desse diálogo é algo que faz a diferença. Um técnico que escuta, que está disposto a aprender com os jogadores e que entende a essência do futebol brasileiro, tem muito mais chances de ser bem-sucedido. Essa capacidade de construir pontes, criar laços e cultivar um ambiente de respeito e colaboração é fundamental na busca por resultados e títulos. É a base para um futebol vibrante e cheio de emoção, que é a verdadeira essência do esporte no Brasil.
O futuro dos técnicos estrangeiros no Brasil é visto com otimismo. Há uma crença de que, com o crescimento dos clubes brasileiros no cenário internacional, cada vez mais treinadores de fora ficarão interessados em assumir essas equipes. O país tem muito a oferecer, tanto em termos de talento quanto de história no futebol. Esse ambiente atrativo pode trazer mais profissionais dispostos a aprender e colaborar.
A movimentação do mercado global é um fator que não pode ser ignorado. O aumento dos investimentos em clubes brasileiros, aliado a uma liga que tem se mostrado competitiva, cria um cenário ideal para a chegada de novos técnicos. Com isso, não só jogadores, mas também treinadores de diversas partes do mundo, como europeus, sul-americanos e até asiáticos, podem trazer suas visões e metodologias, ampliando o leque de opções para os clubes.
A influência desses técnicos vai além dos resultados em campo; é uma oportunidade de inovar e melhorar a formação de jogadores. Com a chegada de profissionais que já têm experiência em competições internacionais, há uma chance de que os jovens talentos brasileiros aprendam novas táticas, filosofias de jogo e até mesmo formas de se preparar fisicamente e mentalmente para o esporte. Essa troca é valiosa, pois o Brasil é conhecido por produzir alguns dos melhores jogadores do mundo, e a integração de novas ideias pode ser um catalisador para elevar ainda mais o nível do futebol brasileiro.
Além disso, a diversidade cultural que esses treinadores trazem pode enriquecer a experiência dos jogadores. Em um país onde o futebol é quase uma religião, a chegada de alguém com uma visão diferente pode inspirar novas formas de jogar e até mesmo estimular a criatividade em campo. O futebol, afinal, é uma arte, e a interação entre estilos diferentes pode criar um espetáculo ainda mais bonito e emocionante.
Destaca também que, para que essa tendência se mantenha, é fundamental que os clubes continuem a valorizar o diálogo e a integração. Os técnicos, por sua vez, devem ser flexíveis e abertos para entender a cultura do futebol brasileiro. Essa adaptabilidade pode fazer toda a diferença. Ele acredita que a sinergia entre as tradições do futebol brasileiro e as novas abordagens que estão chegando do exterior é o caminho para um futuro mais promissor, onde a inovação e a identidade local caminham lado a lado.
O cenário está em constante evolução, e a presença de técnicos estrangeiros promete trazer desafios e oportunidades que, se bem aproveitados, poderão impulsionar ainda mais o futebol no Brasil. Para Mauro, essa é uma era de possibilidades, e ele está animado para ver como as próximas gerações de treinadores e jogadores irão moldar a história desse esporte que tanto amamos.
Mauro fecha sua reflexão de forma empolgante, ressaltando que a presença de técnicos estrangeiros não deve ser encarada como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade de evolução para o futebol brasileiro. “A troca de ideias é enriquecedora. Cada técnico traz sua própria filosofia, e isso pode levar a uma revolução no nosso futebol”, ele diz, com um brilho nos olhos que deixa claro o entusiasmo pela transformação que está por vir.
Essa visão positiva é contagiante. Acredita que, ao abraçar a diversidade de estilos e metodologias, o Brasil pode se reinventar no cenário do futebol mundial. A ideia é que a união de diferentes culturas e abordagens táticas não apenas enriqueça o jogo, mas também crie um ambiente onde todos — jogadores, técnicos e torcedores — possam crescer juntos. Afinal, o futebol é uma paixão que une, e essa nova onda de treinadores só tem a acrescentar.
Com esse espírito, ele nos deixa com a expectativa de um futuro vibrante. É um momento emocionante para o futebol brasileiro, onde as oportunidades de aprendizado e inovação estão à frente. Para Mauro, cada partida é uma nova chance de ver essa revolução em ação, e ele mal pode esperar para ver como tudo isso se desenrola nos gramados do Brasil.
Assim, a conversa com Mauro Beting nos mostra que a presença de técnicos estrangeiros no futebol brasileiro é uma aventura repleta de aprendizado e desafios. A mistura de culturas, a paixão pelo jogo e a disposição para inovar podem transformar nosso futebol em um verdadeiro espetáculo. Cada novo técnico que chega traz consigo não apenas táticas e estratégias, mas também uma visão diferente sobre o que significa jogar e vencer. Essa troca, que vai além do campo, enriquece a todos: jogadores, torcedores e, claro, os próprios treinadores.
É uma história que continua a se desenrolar, prometendo capítulos emocionantes para o futuro do esporte que amamos. Com cada partida, cada vitória e cada desafio enfrentado, o futebol brasileiro se torna mais diverso e inovador, refletindo a rica tapeçaria de talentos e histórias que compõem a nossa cultura futebolística. E, enquanto olhamos para frente, o que se vê é um horizonte repleto de possibilidades, onde cada treino e cada jogo pode ser uma nova lição. O futuro está a caminho, e com ele, novas histórias estão prestes a serem escritas nos gramados do Brasil.
Crédito imagem da capa: Israel Dideoli
Capítulo 02 do livro-reportagem: Futebol sem fronteiras: A influência dos técnicos estrangeiros no cenário brasileiro