Mulheres agredidas que revidam é um livro-reportagem, que narra a história de um grupo de mulheres que vivem em São Paulo e, que após sofrerem violência (física, psicológica, estupro e assédios) fizeram defesa pessoal. Como ponto de partida a autora tem uma informação vinda de seu instrutor de defesa pessoal: 90% das mulheres que procuravam o curso de autodefesa em sua escola já haviam sofrido violência. Com o intuito de confirmar, ou refutar tal afirmação ela frequentou por dois meses uma oficina de defesa pessoal só para mulheres, com a finalidade de conhecer a motivação delas ao procurar o curso. O livro foge da cobertura sensacionalista da imprensa. Para o Estado as mulheres vítimas são apenas números de uma estatística.
Mas elas são seres humanos que tem sonhos, medos e anseios. As marcas físicas deixadas pela agressão somem com o tempo. Mas as dores moral e emocional são como uma tatuagem na alma que o tempo não pode apagar. A autora traz a história de vida de três dessas mulheres, ressaltando o lado humano e características que as diferenciam de outras pessoas. A cada página uma nova dose de emoção, um detalhe que permite ao leitor refletir e desenvolver pensamento crítico sobre problemas, velhos conhecidos, da nossa sociedade. As personagens relatam de que forma sofreram violência e quem foram os seus algozes. Revelam ainda como deram a volta por cima e falam dos sonhos para o futuro.
De maneira delicada a autora identifica mudanças pós violência no comportamento, no visual e emocional dessas mulheres. Transformações que muitas vezes são inconscientes. Duas psicólogas e psicanalistas discorrem sobre essas mudanças pós-trauma. “A violência é um fenômeno extremamente democrático”, disse a juíza da Vara da Violência Doméstica, Tatiane Moreira Lima, em entrevista longa e descontraída. Tatiane que julga e condena homens agressores, foi agredida dentro do Fórum onde trabalha. A magistrada surpreendeu a autora com sua simplicidade e humildade, que desconstroem o esteriótipo de juiz autoritário, que em nada combina com ela. Através do bate- papo com a juíza o leitor terá oportunidade de conhecer a mulher que existe atrás da toga e que a mídia não mostrou, com a finalidade de explorar de maneira sensacionalista o atentado por ela sofrido.
Delegacias de Defesa da Mulher(DDM) são um problema, ou solução? A resposta depende do ponto de vista de quem fala. Com a palavra: uma blogueira feminista, que nunca pisou numa DDM, até que a amiga apanhou do parceiro. Uma delegada de polícia, que tirava dinheiro do próprio bolso para fazer pequenos reparos na DDM. Uma advogada que fala o que pensa e que abriu mão de um cargo executivo, numa multinacional para estudar Direito da Mulher, na França. Por que morrem tantas mulheres? Essa pergunta foi respondida pela delegada, a advogada e pela juíza. A obra começa com a experiência pessoal da autora, que no primeiro capítulo narra uma ameça de agressão. No último capítulo a autora e sua mãe se transformam em personagens, ao serem agredidas fisicamente por um vizinho. A jornalista não teve outra saída a não ser revidar concluindo essa obra, que não faz apologia à violência, mas se torna um instrumento que amplia a voz dessas mulheres que dizem basta.
Resenha do livro: “Mulheres agredidas que revidam”
Autora: Andreia Barros
Capa: Israel Dias de Oliveira
Editora: Casa Flutuante
ISBN: 978-85-5869-015-7