O início do jogo

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O futebol e sua criação é algo que tem se mantido ininterruptamente presente em nossa compreensão e cultura ao longo do tempo, desde pequeno a paixão que passa de pais para filhos é constante em nossas raízes. Desta maneira, somos influenciados por grau de parentesco a seguir uma determinada paixão, e, consequentemente, definir o time ao qual você demonstrará o amor. Há aqueles que o coloquem acima de qualquer situação, digo por mim que decidi seguir a carreira jornalística pela minha paixão a este esporte, em especial ao Palmeiras, amor que passou do meu pai, José Crenes Leite, hoje distante, mas que foi responsável por definir o meio de sustento que iria decidir no ano de 2019.

Meu nome traz essa questão levantada acima, Alex, o eterno camisa 10 (dez) do Palmeiras, foi nome dado a mim por meu genitor, demonstrando essa afeição por este esporte. Da mesma forma, Felipão, técnico lendário do nosso futebol brasileiro, primeiro treinador a ser campeão pelo Palmeiras na Libertadores do ano de 1999 e último a ser Campeão do Mundo pela Seleção Brasileira, no ano de 2002, inspiração para o epíteto do meu irmão, Felipe de Amurim Leite.

O surgimento do futebol ocorreu ao longo de diversos séculos passados, chegando próximo a 1830. No Colégio Harrow, estabeleceram-se as primeiras regras para este esporte, definindo 11 jogadores para cada clube, gols e o local para conduzir a bola. Com diversas normas estipuladas em 1848, após uma reunião entre os diretores das escolas que praticavam essa modalidade recém-criada, surgiu o código comum. Isso levou à aceitação nos meios educacionais e à sua popularidade nas classes sociais mais altas da época.

Voltando ao tema, em 1863, foi criada a Football Association (FA), que é a entidade que controla o futebol inglês, sendo a mais antiga a gerir campeonatos e o futebol local. Essa entidade foi responsável pela elaboração das primeiras regras oficiais para a prática profissional da peleja. Sendo assim, o esporte passou a ter mais visibilidade após as criações dos campeonatos e partidas oficiais, expandindo-se, universalmente, e tornando-se o esporte que conhecemos hoje em dia.

O futebol sempre está em constante mudança. Novas regras, novas orientações são discutidas nas entidades máximas do esporte. Podemos definir a Federação Internacional de Futebol Associado, conhecida mundialmente por FIFA, a entidade responsável pela supervisão de diversas associações, federações e confederações de futebol ao redor do mundo.

Esta prática esportiva já tem sua história, porém, conseguimos analisar o preconceito estabelecido com outros gêneros, seu nome “futebol”, sendo no masculino já podemos analisar essa questão, a dificuldade de outros gêneros praticarem, seja profissionalmente ou por hobbie. Recentemente, essa questão está tendo seus paradigmas quebrados pela mídia e na sociedade, podemos analisar o crescimento do futebol feminino nas nossas telas diante a Copa do Mundo realizada na Austrália no ano de 2023. Com aumento de torcedores acompanhando os times/seleções no estádio, com crescimento iminente, a questão começou a ser discutida como equidade salarial entre o gênero masculino e feminino, patrocínios, e a criação de campeonatos envolvendo exclusivamente outros gêneros.

Seguindo essa questão, em 2004, a jogadora da Samoa Americana, Jaiyah Saelua, tornou-se a primeira pessoa a se identificar como transgênero a atuar em uma partida oficial. Na ocasião, se tratava do torneio qualificatório para a Copa do Mundo, que aconteceria em 2006, na Alemanha. O jogo ocorreu entre a seleção da Samoa Americana e Fiji, com a partida terminando 11 a 0 para a seleção fijiana. A jogadora realizou sua estreia ainda no primeiro tempo. Marcando seu nome na história do futebol, sendo a primeira pessoa trans a praticar o futebol de forma profissional.

Este fato foi importante para a história e a propagação para que outras pessoas pudessem se enxergar naquela jogadora, como sendo a primeira abertura de portas ao gênero neste esporte de forma profissional. Mas, a luz está em crescente sobre a criação de times, campeonatos e iniciativas em prol dos transgêneros no futebol. Aliás, traremos a explicação aos não conhecedores sobre essa nomenclatura, a palavra ‘transgênero’ é a definição de alguém que não se enxerga nas atribuições que lhe foram concedidas durante o seu nascimento, se vendo com outros olhares, fora aquele que podemos enxergar a olho nu.

Para praticarem uma modalidade esportiva, muitos enfrentam o preconceito estabelecido na sociedade atual. “Especialistas” discutem questões sobre cromossomos, dizem que há certos privilégios que podem ocasionar em vitória para certo estereótipo.

Mas isso pode ser um mito a ser quebrado, questões físicas e de capacidade de gênero foram colocados em prova durante um jogo entre TRUK United FC, que é composto apenas por atletas homens transgêneros e no dia 31 de março de 2023, durante uma partida árdua contra o Dulwich Hamlet FC, onde o jogo foi disputado em suma aptidão física e mental. O placar final foi o que menos importou naquela oportunidade, o resultado foi 8×1 para o Dulwich. O confronto trouxe esperança à comunidade trans, sendo a primeira partida realizada entre a população trans e o gênero masculino cisgênero.

O encontro teve proporções significativas, mais de 500 pessoas acompanharam o jogo no campo do Champion Hill, localizado em Londres. Nesse dia também era celebrado o dia da Visibilidade Trans.

O clube foi fundado pela primeira árbitra de futebol que se identificou como transgênero no mundo, Lucy Clark. De acordo com a matéria publicada no IG Queer, a iniciativa se deu pela procura da população trans em praticar o futebol, porém, não possuindo muito acesso ao gênero neste esporte. Então Lucy criou o clube para acolher a população e começar a sua jornada de inclusão.

Aprendendo a não repetir os erros do passado, tais como no dia 14 de abril, quando o até então Presidente da República, Getúlio Vargas, baixou o Decreto-lei n° 3.199/41, que entre os seus artigos estabelecidos, proibia a prática do futebol pelas mulheres. A decisão durou anos, só apenas em 1983, durante várias lutas para legalização do esporte para o gênero, ficou estabelecido o direito à prática esportiva ao gênero. Sendo uma grande conquista para as mulheres até então, mas, quem pensa que a luta finalizou por aí, está muito enganado. A luta pela equidade salarial dura até os tempos atuais.

Outros gêneros lutam pela inclusão… Já outros reclamam pela falta de contratações, resultados, ou dados que não atrapalham o pessoal e sim o emocional…

Desta maneira, o primeiro time composto por pessoas trans, conhecido nacionalmente, trata-se do Instituto Meninos Bons de Bola, fundado por Raphael Martins e localizado na cidade de São Paulo, tendo sua fundação no final do ano de 2016, tendo sido fundamental para que o primeiro passo fosse dado para a inclusão do gênero.

O futebol é uma modalidade esportiva que abrange diversos públicos, entre amplos gêneros e classes sociais, mas, podemos detectar que sua prática não é como imaginamos.

A luta árdua, que reconhecemos, enfrentada pelas mulheres em sua labuta na busca de praticarem este esporte, também é a causa de discussões sobre como devem ser tratados outros gêneros no esporte. Daí, a ideia do Instituto, que surgiu como uma forma de acolher as pessoas trans na sociedade, num local onde pudessem desenvolver suas técnicas, habilidades e outros quesitos. O mais importante de tudo, a parte psicológica, que será abordada ao longo dos capítulos.

Tinha que ser na ‘Selva de Pedra’, onde se daria o surgimento do primeiro time. Em 28 de agosto de 2016, data em questão onde não há nada em histórico, neste mesmo dia em outros anos, tais como, em 1937, quando a Toyota Motor transformou-se em uma empresa independente, também havia uma marcha em Washington, em homenagem ao ativista político americano, Martin Luther King Jr.

Voltando ao século XXI, o Instituto Meninos Bons de Bola originou-se pela estimulação da união entre os garotos transexuais. A ideia prolifera em Raphael, durante sua jornada de trabalho no Centro de Referência em Defesa da Diversidade, onde percebeu a pouca presença da comunidade trans no meio do LGTB.

O propósito tomou proporções que de começo não era imaginável, no primeiro encontro contou com mais de 30 pessoas, que puderam colocar seus conhecimentos em um bate papo, além de poderem praticar o futebol. Novidade que se propagou até os dias atuais.

O futebol se tornou rotina após o primeiro encontro, a atividade se fixou no centro onde Raphael trabalhava. Colocando, assim, em prática aquilo que fora proposto, de unir o gênero em um só lugar, a fim de praticar e poder proporcionar atividades em conjunto, estimulando a parceria e, também, o gênero transgênero no esporte.

Tudo era além do futebol, o bem-estar dos presentes no primeiro encontro ao demonstrarem quem são, sem terem que lidar com o preconceito e o julgamento que vivenciavam, trazia a consistência, união e fortalecimento no grupo no início da jornada.

O projeto é referência para que outras pessoas se inspirem e criem seu próprio time, instituição ou um campeonato em prol da categoria.

Deste modo, este livro-reportagem terá o intuito em relatar histórias de personagens e times transgêneros. Cada história abordará a importância do esporte na vida de cada um dos entrevistados. Além de estarem praticando algo em prol do seu físico, também exercitam o psicológico.

Imagine, você é quem realmente você é dentro de um ciclo que não se sente à vontade? Ser julgado ou sofrer preconceito de pessoas intolerantes. Então, essas agremiações promovem o encontro e a união do gênero.

Vamos contar histórias, porque é isso que um bom jornalista faz, além de contadores de histórias também relatamos à sociedade fatos poucos abordados, fazendo com que o conhecimento da população cresça, evoluindo cada vez mais. O propósito da obra é incentivar novas narrativas e mostrar que o futebol é para todos, todas e todes.

Crédito das fotos: Autor
Capítulo 01 do livro-reportagem: Pontapé inicial: times, atletas e campeonatos de futebol trans no Brasil

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