Para quem está acostumado a trafegar pela rodovia Presidente Dutra em São Paulo durante a semana, passar por esse local em um domingo e encontrá-lo vazio causa uma sensação de estar em um mundo paralelo. No entanto, é o mesmo cenário de todos os dias, com a presença de um sol de 27 °C e a ausência de muitos carros. É esse fluxo livre na região que me permite chegar em 15 minutos no maior aeroporto do Brasil: o Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Aparentemente, uma esfera de tranquilidade invadiu a segunda maior cidade do estado, pois ao sair do Uber noto poucas pessoas circulando pelo Terminal 1 do aeroporto. Chego à conclusão de que a combinação do dia e horário não é muito favorável para a criação de um aglomerado de pessoas no local, afinal o relógio marca que ainda são 12:50, horário em que todos estão preocupados com o almoço de domingo.
Na parte externa, há apenas três taxistas conversando em uma área ampla, enquanto esperam algum passageiro surgir. É nesse local que os ônibus do aeroporto param para realizar o traslado gratuito dos passageiros entre os Terminais 2 e 3. Para os moradores da região, também há a opção do desembarque efetuado por umalinha de ônibus municipal, a linha 331.
Caminho com o intuito de acessar a parte interna do local, cujo acesso está logo à frente. Paro diante de uma porta transparente o tempo suficiente para a minha presença ser reconhecida e a abertura automática realizada. O ambiente está silencioso e toda essa calmaria me causa estranhamento, pois da última vez que estive nesse mesmo aeroporto, em 2015, me lembro de ter feito parte de um ambiente bem mais agitado. Novamente, atribuo a culpa de toda essa serenidade ao horário.
Logo à minha frente está a área de embarque e desembarque, mas aparentemente não há nenhum voo programado para aquele momento. Vejo que à esquerda há um restaurante da Heineken com uma televisão ligada no SporTV reprisando a goleada do Vasco sobre o São Paulo, no dia anterior, que resultou no placar de 4×1.
Avisto à minha direita alguns bancos de espera e me sento em um deles para observar melhor o ambiente, que não parece ser muito extenso. Começo a especular as opções culinárias que podem ser exploradas ali, mas não são muitas.
Em minha frente está a Casa de Pão de Queijo e o Bob’s, mas apenas o último está aberto. Uma moça apanha para o painel da rede de fast food, enquanto tenta fazer o pedido, até que é vencida pelo cansaço, desiste e vai para a máquina ao lado.
Logo em seguida, um homem de cabelo grisalho e mochila grande tenta usar a máquina abandonada. Ele faz o pedido e realiza o pagamento com seu relógio. Nesse meio tempo, a moça também consegue finalizar o pedido na outra máquina.
Tem cerca de 10 minutos que estou sentada, mas já consegui observar a chegada de três ônibus do aeroporto que fazem as conexões entre os terminais. Enquanto isso, um aviso sonoro em espanhol, inglês e português é emitido no ambiente como um alerta para os sintomas do sarampo e com a orientação de que os viajantes não devem viajar nessas condições.
Vejo que no outro lado fica o check-in, resolvo ir nessa direção para descobrir se há algum atrativo. No caminho, observo apenas uma farmácia e um espaço vazio com um adesivo que diz “Vem aí Ventana Express, mais uma novidade do Grupo 3T”.
Uma passageira aborda uma senhora que estava limpando o chão para perguntar se tinham outras lojas ali. A senhora explica que não, e, naquele momento, descubro que a Azul é a única companhia aérea que opera naquele terminal. O que de certa forma explica o espaço não ter ganho nenhuma ampliação e ser tratado como o primo pobre da família, já que o fluxo de operações não é tão extenso.
O funcionamento do aeroporto, tal qual minha visita, iniciou em um domingo. Mais precisamente no dia 20 de janeiro de 1985. Naquele período, o Aeroporto de Congonhas estava congestionado devido à alta demanda de voos, dessa forma a construção de um novo espaço aeroportuário se tornou essencial para desafogar esse fluxo. As tratativas para a inauguração de um novo espaço se arrastaram desde 1947, quando o Aeroporto de Congonhas deu seus primeiros indícios de superlotação, resultando na instauração de um inquérito em 1951 para a definição do espaço do novo aeroporto.
Envolta em discordâncias sobre a melhor localização, condições climáticas, o menor impacto possível em relação a desapropriações e custos aos cofres públicos, a definição do local que abrigaria o novo aeroporto do estado levou pelo menos mais 27 anos, quando, em 1974, os primeiros decretos de desapropriações de terra para a construção do aeroporto foram emitidos, dando uma sequência que se prolongou até o ano de 1983.
Enquanto observo o ambiente, vou puxando em minha memória a história de como tudo começou.
Crédito imagem da capa: Israel Dideoli
Capítulo 01 do livro-reportagem: Origens: o passado, o presente e o futuro do aeroporto de Guarulhos