Raiva

publicado na Ed_11_abr/jun.2019 por

Falei com ela na quarta e nos encontramos na quinta para a entrevista. Raphaela, mais comumente chamada por Rapha, se voluntariou para conversar comigo após uma postagem no Facebook que fiz atrás de pessoas que estivessem dispostas a conversar sobre a perda de um ente querido que tivessem sofrido.

Apesar de não ter comentado, eu me lembrava do seu caso. Seu pai tinha morrido há alguns anos e, na época, até tentei chegar a tempo do enterro para confortar uma amiga, mas não foi possível. O trânsito de São Paulo não cooperou com a situação.

Começamos a falar pelo Messenger, aplicativo de mensagens do Facebook, e expliquei um pouco para ela sobre o projeto. Sua resposta foi rápida e disposta, no que concordou em conversar comigo para contar a sua história. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte, em uma padaria, para adentrar nas próximas linhas desse livro.

Após um breve café e uma rápida conversa para colocar o assunto em dia, abordo ela sobre o tema que de fato tínhamos nos encontrado para falar: a morte de um ente querido.

Rafa comenta que me procurou com o intuito de contar sobre a experiência de perda que sofreu com seu pai. Para dar início ao assunto, conta que, desde pequena, nunca teve contato com os seus tios, pois um deles — seu padrinho, inclusive — morreu de infarto quando ela tinha três anos e, na época, a jovem não entendeu o que acontecia. Dez anos após seu padrinho morrer, seu outro tio também morreu do mesmo jeito.

Ela afirma que, apesar de ser um tema tratado como tabu pela sociedade, para ela nada mais era do que um assunto a ser comentado e que a sua forma de lidar com isso era tranquila.

Sua família

Primeiro, vamos entender como a família de Raphaela é formada: por parte de pai, ela tem três irmãos, sendo que um deles nunca conheceu, mais dez primos. Por parte de mãe são quatro tios e sete primos. Além disso, Rapha tem duas irmãs mais velhas, uma de 32 e outra de 34 anos.

A relação de seus pais sempre fora perturbada e imprevisível. Desde que ela era pequena, eles brigavam muito e, por inúmeras vezes, chegaram a se separar para, mais tarde, reatarem.

Em uma dessas vezes, a mais séria de todas, seus pais se divorciaram no cartório e, após um ano que estavam apartados, voltaram a se juntar.

Seu pai, Roberto, não era uma pessoa amorosa e que dava abertura para uma conversa, mas sim, fumante inveterado, espaçoso e que não respeitava o espaço alheio.

Sua mãe, Silvia, se preocupava em fazer tudo pelo marido, ou seja, ela cozinhava para ele, colocava a mesa e nunca pensava em si mesma.

Em seguida, temos a relação entre Rapha e seu pai. Apesar dos defeitos que Roberto tinha, ele e sua filha gostavam muito de jogar videogame. Por isso, seu pai era o player um nas noites de jogos, quando os dois sentavam no sofá e passavam horas se divertindo com jogos de tiro.

Seu pai, macaco velho, sabia como irritar a filha por pura diversão e, enquanto jogavam, ele encostava seu pé nela, ato esse que Raphaela repudiava e ficava nervosa.

Rapha era a filha preferida de seu pai. Apesar de ele não ser a pessoa mais amorosa do mundo, esse fato ficava claro no dia a dia quando se relacionavam e se comparado com o relacionamento com as duas irmãs.

Apesar de esse cenário ser uma oportunidade de aproximação, tanto a filha quanto o pai usavam o fator “filha preferida” um contra o outro de forma pejorativa.

Em paralelo, Rapha se caracteriza como uma pessoa muito carinhosa, principalmente com a sua mãe. Por outro lado, era o oposto com seu pai até o momento em que ele saiu de casa.

Trabalho

Seus pais sempre trabalharam juntos, independente das separações pelas quais passaram. Ambos tinham uma loja de tecidos, na qual vendiam material para terceiros.

O avô de Raphaela, por parte de mãe, era dono da loja e sempre trabalhara neste ramo. Por isso, o negócio passou de geração em geração e os pais de Rapha assumiram a demanda.

Roberto era amigo dos tios de Raphaela e trabalhou junto com eles na loja durante muito tempo. Foi funcionário do avô e, por fim, tornou-se o dono.

Toda a família trabalha com lojas de tecidos, exceto Raphaela, suas irmãs e sua mãe.

Até o ano de 2017, elas trabalharam com a loja de tecidos; mas, por falta de dinheiro, foram obrigadas a mudar de local de trabalho.

Saída repentina de casa

Cinco anos antes de Roberto morrer, Rapha estava na casa de sua avó e pressentiu que havia algo de errado. Ela, então, pediu para voltar e, ao chegar, descobriu que seu pai havia abandonado o lar: foi morar afastado da família.

Em um primeiro momento, pensei que Rapha ficaria com raiva do pai ter se afastado; porém, o inverso aconteceu: a relação entre os dois melhorou.

Com Raphaela crescendo, os dois costumavam viver em pé de guerra e, com o afastamento de ambos, havia, finalmente, espaço para todos.

Outro fator que chama a atenção é que o pai apenas chegou a dizer “eu te amo” para a filha após ter saído de casa. Ela tinha 15 anos.

Das irmãs, Raphaela era a que tinha a melhor relação com Roberto. Sua irmã do meio chegara a ficar algum tempo sem falar com ele, cenário esse que era comum na relação entre os dois.

Tanto seu pai quanto sua mãe mudaram bastante após deixarem de morar juntos. Silvia, que antes fazia tudo apenas para o pai e pensava só nele, passou a pensar em si mesma. Seu pai, por sua vez, deixou de ter as mordomias e começou a perceber que estava distante da família e que, ainda que dormisse na mesma casa que suas filhas todos os finais de semana, ele não via a sua família todos os dias.

Rapha conta que seus pais voltaram a ser, praticamente, namorados. Seu pai dormia aos finais de semana na casa de sua mãe, roncava e ela não gostava. Por isso, Roberto dormia na sala.

Vida pré-morte

Rapha conta que seu pai não era uma pessoa que frequentava o médico. Ao longo de sua vida fora um fumante inveterado. Sua mãe, inclusive, brincava que se colocassem um saco na cabeça do pai ele não morreria asfixiado devido à quantidade de fumo que consumia: alcançava incríveis cinco maços de cigarro por dia.

Sua alimentação sempre fora errada: comia de todas as guloseimas e besteiras um pouco.

Ao falar sobre exercício, Roberto não era exemplo. Aliado ao fumo e à alimentação fora de ordem, seu corpo era extremamente sedentário e o estresse lhe ocupava diariamente, o que lhe proporcionaria problemas de saúde, tais como apneia do sono. Ao falarmos sobre altura e peso, ele contava com 1,60 m e 100 kg.

— Eu já tinha visto meu pai passar mal algumas vezes e, tipo, ele já teve uma convulsão na minha frente uma vez e eu não sei socorrer as pessoas — comenta a moça, com certo desespero.

Raphaela comenta que não é o indivíduo mais adequado para atuar no socorro de outras pessoas, pois não consegue agir, como se seu corpo travasse durante o processo.

A morte

Seus pais tinham uma loja de tecidos, na qual comercializavam e vendiam o produto para terceiros. Rapha e sua irmã trabalhavam na loja para ajudar no negócio da família.

Em determinado dia, mais precisamente no ano de 2015, estavam na loja sua mãe, Rapha, sua irmã, seu pai e mais uma moça e um menino que trabalhavam lá.

Das pessoas presentes, sua irmã e a moça estavam grávidas e, em determinado momento, conversavam em pé. Rapha estava deitada em um sofá, o menino havia saído para resolver um assunto da empresa e sua mãe tinha ido para a zona sul buscar tecido.

Dessa vez, diferentemente das outras, Roberto não quis ir, pois afirmou que não estava se sentindo bem. Ele, então, ligou para a esposa a fim de comentar algo sobre o trabalho, desligou o telefone e, cinco minutos depois, encontrava-se caído no chão, aos 57 anos de idade.

— Eu já sabia o que tinha acontecido. Eu olhei e falei “aconteceu a mesma coisa que aconteceu com os meus tios”, porque a gente sempre falou que meu pai ia morrer assim e ele sempre falou que não queria viver muito — lembra Rapha, pesarosa.

A moça não viu seu pai caindo, mas ao notar o que tinha acontecido, saiu do ambiente e não conseguia mais voltar para dentro da loja. Ao lembrar, ela acrescenta:

— As outras vezes que eu vi meu pai passando mal foi tão ruim e, se eu não tenho capacidade de socorrer uma pessoa, eu estaria lá atrapalhando na hora de socorrer.

A jovem ligou para a mãe, que questionou: “Mas ele só caiu?”. E Rapha retrucou: “Mãe, você tá entendendo o que eu estou falando?”.

No momento, a filha não quis descrever o fato para a mãe em alto e bom tom, provavelmente porque, ao fazê-lo, a morte de seu pai se concretizaria.

Sua irmã, grávida, socorreu o pai. Apesar de terem ligado para o SAMU, a ambulância nunca chegou.

Ao chegarem ao hospital, os médicos afirmaram que não sabiam o que havia ocasionado a morte de Roberto e que ele apenas havia caído morto pelo infarto fulminante. Não fora por falta de atendimento ou qualquer outra causa que pudesse onerar a família emocionalmente.

Para confirmar o que havia acontecido, seria necessária uma autópsia — mas a avó de Rapha recusou que o procedimento fosse realizado feito em seu filho.

O fato de ter perdido seus tios e seu pai preocupou Raphaela, pois uma doença hereditária pode existir em sua linhagem genética e, por não terem feito nenhuma autópsia em nenhum dos casos, não há como identificar claramente.

Pós-morte

— Eu não vi meu pai no caixão, eu não vi nada disso. Eu não vou ver de novo. (…) A minha avó estava tão desesperada e as pessoas estão em cima de mim, das minhas irmãs, que eu não queria. Sabe aquele olhar de pena? De dó? Eu não queria mais disso.

Raphaela comenta que, dentre os que estavam presentes no velório, ela foi a pessoa da família que não chorou, que ficou calma. Como havia pessoas em estados piores do que o dela, sua vontade era que não tivessem terceiros lhe apoiando quando outras pessoas precisavam mais.

Além disso, a moça conta que não desejava olhar para o caixão, pois não queria desabar em choro como estava acontecendo com as pessoas presentes no velório.

— A minha avó colocou a culpa na gente, porque a gente não tinha uma boa relação com ele. Eu fiquei com muita raiva quando descobri isso.

Em seguida, a jovem comenta que, após o velório e o enterro, todos seguiram para casa e ficaram acordados a noite toda, pois não conseguiam dormir e conversavam sobre o ocorrido. Em paralelo, Raphaela estava desesperada para dormir, pois o sono a consumia aos poucos e, nesse cenário, ela encontrou um canto de paz, repousou e adentrou em um sono profundo.

Rapha afirma que não ficou com raiva do seu pai por ele ter morrido, mas sim de sua avó quando, por meio de um primo, descobriu que ela havia culpado as filhas de Roberto pela morte.

Do próprio pai, a raiva só veio quando ela notou que ele estava sentindo dor nas costas e no braço há alguns dias e negligenciou aqueles fatores. Segundo Raphaela, um dos primeiros sintomas de infarto é a dor nas costas e no braço esquerdo.

— Não era raiva dele. Era da burrice — comenta a jovem.

Até hoje ela não entende o porquê de seu pai não ter tido a oportunidade de conhecer os sobrinhos deles. O maior desejo de sua vida era ter um neto homem e, após a sua morte, nasceram dois.

Raphaela não teve uma tristeza mais profunda durante o pós-morte de seu pai. Hoje em dia ela chega a sentir falta, a saudade aparece, mas a tristeza não lhe afeta profundamente.

Hoje se sente resolvida com a situação da morte do seu pai. Ela afirma que aceitou o ocorrido e que está bem com isso.

Em seguida, pondera uma situação hipotética e afirma que, se tivesse acontecido o contrário — sua mãe falecido e seu pai ficasse vivo — ela não sabe como seria a sua reação. Apesar de ser seu pai, pelo fato de ele não morar mais com ela e a dependência ser menor, foi uma situação relativamente mais fácil de lidar.

Entre as irmãs, ela foi a que lidou melhor com a situação. Sua irmã mais velha não esboçou uma reação em nenhum momento. Sua irmã do meio, por sua vez, sentiu-se culpada, pois eles não se davam bem na época.

Mortes anteriores

A morte de seu pai não foi a primeira que Raphaela vivenciou. Sua avó, há 30 anos, fizera uma lipoaspiração e o médico, na hora de aplicar a anestesia, deu a substância errada, o que colocou a avó em coma e, apesar de ter acordado, ela nunca voltou totalmente a sua normalidade.

Silvia ficara dependente da mãe de Raphaela. Precisava de ajuda para tomar banho e comer. Sua memória de curto prazo fora deteriorada e ela nunca soube quem sua neta de fato era.

Por isso, a perda da avó não surtiu efeito em Raphaela. Ela morreu no quarto ao lado do atual quarto da jovem, após um tumor no estômago estourar aos seus oitenta anos.

Além disso, Rapha comenta que, em sua família, existe a mania de praticarem bullying uns com os outros e que, por isso, ela sempre fora repreendida desde cedo por falar muito, por chorar. Então, ela se acostumou com o cenário e decidiu que, a partir daquele momento, não esboçaria mais reação aos acontecimentos, mas sim, fingiria que nada estava acontecendo.

— Eu não tenho mais paciência para eles. Eu não vejo, eu não falo, eu não gosto dos parentes. Eu só vou às reuniões familiares quando sou obrigada — confessa a jovem.

A religião na vida de Raphaela

Ela nunca tentou barganhar a vida de Roberto. Apenas orou para que Deus lhe desse alguma esperança, mas não tentou trocá-lo. A partir do momento em que foi confirmada a morte de seu pai, ela se afastou da Igreja.

Em seguida, seu carro foi roubado e seu sobrinho, com apenas seis meses de idade, teve um câncer, chamado de neuroblastoma, que foi tratado por seis meses e curado. Apesar de o resultado ter sido positivo, no último caso, esse foi mais um motivo para Raphaela se afastar cada vez mais da Igreja, ato esse repudiado por sua mãe.

— Você não tem noção. Minha vida virou 360 graus e deu mais uma viradinha. (…) Foi ridículo.

Durante um ano, aproximadamente, Raphaela culpou Deus pela morte do pai. Essa manifestação acontecia em sua mente e ela não chegou a verbalizar.

Hoje, para ela, o fato de culpar Deus foi uma desculpa e uma saída para achar um culpado para o ocorrido. Sua raiva de Deus passou quando ela sentou com sua mãe para conversar e chegaram ao consenso de que Deus não tinha culpa sobre a morte do seu pai e, nesse ponto, Silvia é católica de carteirinha.

Para Raphaela, a Igreja ajudava em alguns quesitos como fazer amigos, criar relações sociais e um local onde poderia ser ela mesma, sem as amarras da convivência em sociedade.

— Era um lugar onde eu era eu. Era escandalosa, chorona e, lá na Igreja, eu podia ser. Não necessitava ser uma pessoa que fingia ser o que não era.

Apesar de ter se distanciado da Igreja, Rapha comenta que hoje ela não mostra a sua verdadeira essência em nenhum lugar que frequenta. Na bateria de sua faculdade, onde toca, ela é uma pessoa diferente.

— Infelizmente, ou você muda, ou as pessoas te odeiam.

Rapha afirma que acredita em Deus, mas depois de seu pai ter morrido, muita coisa mudou. Ela cresceu e amadureceu em muitos sentidos.

Por outro lado, não concorda com as pregações da Igreja Católica, mas acredita em Deus e que é possível se comunicar com Ele. Em relação ao seu pai, a moça não culpa Deus nos dias atuais.

Hoje, Raphaela se considera uma “católica do seu jeito”. Para ela, não é necessário ir à missa todo o domingo para falar com Deus.

A vida social e seus afazeres diários

Em 2015, ano da morte de seu pai, Rapha tinha mudado de turno na faculdade.

— Eu não conhecia ninguém na sala, tinha mudado de turno, meu pai tinha acabado de morrer. Eu estava super bem, né? — ironiza — (…) e até hoje eu não tenho amigos que estudam comigo à noite — diz a moça.

Rapha comenta que nunca se preocupou em construir relacionamentos de amizade na sala de aula, principalmente durante o período em que seu pai falecera.

Ela conta que tocava — e ainda toca — na bateria da faculdade e que não contou nada para seus colegas de percussão. A descoberta veio de forma natural quando o assunto vazou por um meio que Raphaela desconhece.

Durante seu processo de luto, a jovem começou a sair mais com os colegas e amigos, tendo como destino bares para beber e tentar deixar de lado a situação que havia acontecido. Durante alguns meses ela bebia mais e mais, a fim de ficar bêbada para tentar amenizar o momento pelo qual passava.

Além da bebida, outra escapatória que encontrou foi por meio da comida: engordou cinco quilos em uma semana e dez no ano. Não somente pela perda do pai, mas com qualquer estresse que surja ela desconta na comida e aumenta a quantidade que ingere nas refeições.

Raphaela afirma que nunca se deixou ficar triste, tanto por suas responsabilidades quanto pela vontade de lutar contra isso. Seus compromissos diários e suas saídas foram uma forma para não entrar em depressão. Seu pai, quando vivo, tinha um quadro depressivo nos momentos em que a família passava por dificuldades financeiras e era justamente isso que ela desejava evitar. Para complementar, a jovem afirma que:

— Minha mãe fala que ele morreu porque ele se preocupava muito para frente, era muito estressado. Se ele não tivesse morrido naquela época, ele teria morrido um mês depois, pois a loja enfrentaria sérios problemas financeiros.

Nessa mesma época, Rapha namorava e decidiu continuar o relacionamento. No entanto, era um laço tóxico. Apesar de não gerar agressões físicas, tratava-se de um namoro emocionalmente abusivo.

Ela e o namorado se conheceram antes de Roberto falecer e, na véspera da morte, ambos tinham conversado sobre um possível término do relacionamento. Após a morte do pai, o casal ficou com receio de um terminar com o outro. Rapha não encerrou seu namoro por medo de ficar sozinha. Por fim, após três meses, o relacionamento chegou ao fim.

Sua rotina em casa não demorou a voltar ao normal, pois seu pai, antes de morrer, já não morava na mesma residência que Raphaela, fator esse que ajudou a facilitar a retomada do dia a dia.

Ao ser perguntada sobre buscar ajuda psicológica com um profissional, ela comenta que não procurou por falta de dinheiro, não de vontade. Apesar de não ter efetuado essa busca, a jovem afirma que hoje não tem mais medo de ficar sozinha.

— Prefiro andar sozinha do que mal acompanhada — reflete, pensativa.

Próximos passos

Depois de passar por essa situação, hoje Rapha é uma pessoa precavida e se sua mãe espirra, por exemplo, ela já encaminha Silvia, que hoje tem 57 anos de idade, ao médico para ver se está tudo bem.

Por outro lado, seu modo de lidar com o socorro de terceiros continuou da mesma forma: ela não consegue socorrer alguém, pois seu corpo trava e ela foge.

— Eu me tornei assim quando meu pai ainda estava vivo, porque engasgava direto e tinha medo de alguma coisa acontecer. Depois da morte do meu pai, piorou, né?

Em breve, Raphaela se mudará com a mãe para morarem em Santos — e isso lhe preocupa. Não pelo fato da mudança, mas porque tem receio de que algo de ruim aconteça com Silvia e ela não consiga socorrer sua mãe a tempo.

Questiono, por fim, o que Raphaela diria para seu pai caso tivesse mais uma oportunidade de vê-lo. A jovem pensa por algum tempo, se concentra e responde:

— Pai, desculpa por muitas vezes não ter acreditado na sua depressão, porque na época eu tinha 16 anos e eu não entendia. Espero que eu não tenha te magoado muito.

typewriter

Crédito das imagens: Hiago Catirsi

Capítulo do livro:Luto: O processo após a morte de alguém querido

Imprimir

Tags:

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

*

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.