Thaísa Torres, ativista que participa há anos de movimentos sociais e que, nos últimos tempos decidiu atuar na pauta do feminismo com políticas públicas voltadas às mulheres, se considera uma jovem mulher, num país onde a desigualdade na política é muito grande, principalmente para mulheres ou para jovens.
É formada em gestão pública pela Universidade de São Paulo (USP) e viu uma oportunidade de crescer profissionalmente e destinar conhecimento às mulheres que precisam, em especial pelo financiamento da educação ser realizado de forma pública até hoje para quem passa no vestibular, então enxergou um nicho para trabalhar e auxiliar no sonho de outras mulheres, assimilando à sua experiência.
Dentro da instituição participou de movimentos estudantis em prol de melhorias da universidade e como ativista social na Marcha da Maconha em São Paulo, reivindicando uma nova política de drogas. Atuou em projetos sociais, dentro e fora de sua faculdade e trabalhou para outros políticos, em campanhas eleitorais.
Ingressei numa faculdade pública e tive o privilégio de receber um conhecimento técnico de muita qualidade, em um curso de políticas públicas e que sempre quis reverter isso para a população.
Trabalhando com políticos homens durante muito tempo percebeu que faltava algo em sua vida, que não dava para continuar da maneira que estava.
Filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT) há 10 anos, buscando seguir projetos sociais, notou um isolamento entre as mulheres do partido, sem muito lugar de fala e de poder, sempre tendo que ouvir seus superiores, todos praticamente homens.
Nesse período intercalado, quando ainda estava estudando, fez estágio na Câmara Municipal de São Paulo com o ex vereador Nabil Bonduk (PT). Aprendeu muito a ver como é a política na prática no legislativo e a mobilizar jovens para o mandato, já que havia uma experiência significativa com movimentos estudantis.
Embora tenha aprendido a exercer política na prática, também sentiu a desigualdade social e de gênero nos gabinetes, com pessoas com maior poder aquisitivo trabalhando, sendo geralmente homens brancos e menos mulheres periféricas nesse meio.
Eu realmente acredito que é possível termos uma sociedade justa e igualitária e acredito que a política é uma ferramenta para alcançar seus objetivos.
Assim fundou a Iniciativa Brasilianas[1], uma ação que visa desenvolver políticas públicas para mulheres, a partir de pesquisa e prática e a diminuir a desigualdade de gênero que boa parte das mulheres enfrentam.
Sua atuação de fato começou em 2018 e não é apenas um curso de incentivo para mulheres entrarem na política, é também um diagnóstico para mulheres estarem em outros setores de trabalho, desenvolvendo o seu engajamento profissional.
Trabalhando então em campanhas eleitorais na última eleição de 2018 e notando a dificuldade que muitas candidatas tiveram em se eleger, mesmo já tendo mandato e experiência política, decidiu divulgar ainda mais o projeto, para alcançar mais mulheres.
Esse processo de diagnóstico e de alcançar mais mulheres durou de outubro até fevereiro desse ano, quando enfim foi criado um projeto oficial, de Mulheres na Política, para apresentar a parceiros e mulheres interessadas, desde a trabalharem de forma voluntária como oficineiras, em outras atividades necessárias, até a própria divulgação mesmo desta formação.
O curso
Com o projeto já oficializado e estruturado realizaram no 1º semestre de 2019 o Curso de Formação Política para Mulheres na Câmara Municipal de São Paulo, apoiado pelo vereador Eduardo Suplicy (PT).
As inscrições estavam abertas de forma plural para qualquer mulher se inscrever. Obtiveram em torno de 400 inscritas, mas precisariam escolher apenas 60, por conta da logística de todo o curso, desde espaço até a organização das próprias colaboradoras.
Perceberam uma diferenciação no perfil das participantes, de mulheres já engajadas no meio político, mas sem nenhuma candidatura ainda, até mulheres que não tiveram nenhuma experiência pessoal com o assunto por diversos fatores, como trabalho, cuidar da família, do lar, etc, mas estavam querendo mudar essa realidade.
“Na seleção, muitas disseram que gostariam de ser candidatas, mas na hora que começamos a executar os trabalhos, já repensaram essa ideia.”
“A autoconfiança foi uma dificuldade muito notável. Elas sempre queriam estar na posição de alunas, sentadas, ouvindo o que nós tínhamos para falar e não conseguiam ver um futuro de liderança política.”
Futuro
O Brasilianas não atua apenas com a temática política em si, também existem algumas colaboradas de outros segmentos que proporcionam oficinas de estudo sobre a saúde da mulher, por exemplo.
Realizam também nesse sentido, doações de livros para mulheres encarceradas, almejando estruturar um projeto autêntico para a população carcerária porém, enfrentam dificuldades nesse sistema, mas buscam um dia conseguirem uma abertura para este grupo.
O legislativo é um desafio muito grande, mas é um desafio que a gente ainda consegue lidar, diferente do executivo que é muito mais fechado, mas estamos confiantes.
Embora dependam de poucos patrocínios para sobreviverem, Thaísa sonha com o crescimento contínuo do Brasilianas e em um dia virar uma organização não governamental (ONG) de fato, com muitos colaboradores e atuando em várias frentes de trabalho, não apenas com política, como empreendedorismo e renda, acesso a direitos, entre outras.
A gente fez uma escolha de começar com o escopo de São Paulo porque é um estado grande, tendo um público muito grande para se trabalhar, mas pretendemos ir para outros estados e conseguir ter um programa do Mulheres na Política a nível nacional.
Espero um dia que esse cenário mude completamente, que não precisemos mais ser necessárias, porque a desigualdade entre homens e mulheres já não vai mais existir. Sonho com um mundo mais justo, entre pobres, trabalhadores, negros ocupando espaços e lugares de poder e ajudando ainda mais pessoas.
Para as eleições municipais de 2020 acredita num cenário com mais mulheres motivadas a estarem dentro dos parlamentos.
[1] Acesse pelo link: http://www.iniciativabrasilianas.org/
Crédito da imagem: Autora/Entrevistada
Capítulo do livro: Privilégio ou luta? A história de mulheres que não deixaram o seu sonho morrer