Do jornalismo na fabulação do real: narrativa jornalística e ficção (03)

publicado na Ed_23_abr/jun.2022 por

A CONSTRUÇÃO DO ACONTECIMENTO (Parte 03)

JORNALISTA DE TELEVISÃO

And that’s the way it is, a famosa expressão proferida durante os anos 60 e 70 pelo jornalista e apresentador Walter Cronkite ao final de cada emissão do The CBS Evening News with Walter Cronkite[1] é um bom exemplo de como os noticiários de televisão trabalham com o ideal de reprodução do real, ou seja, da transmissão dos fatos como eles realmente aconteceram, ainda que princípios como o de objetividade, neutralidade e imparcialidade no jornalismo não mais sejam entendidos como possíveis na prática diária do jornalismo.

Hackett (Apud, TRAQUINA,1999) em seu artigo Declínio de um paradigma? A parcialidade e a objetividade nos estudos dos media noticiosos destaca o caráter realista do noticiário televisivo, lembrando que a narrativa em questão encontra-se centrada em um discurso realista[2], que faz da voz do repórter a voz da verdade, ao qual é outorgado o privilégio de encarar de frente a câmara, apresentar as notícias, enfim, de dar voz à narrativa.

O autor nos mostra que “todos os entrevistados ou actores não jornalísticos ocupam os degraus mais baixos na escala de acesso.” O noticiário televisivo é uma forma potente de realismo porque combina narrativa com um nível visual do discurso. Assim, observa Hackett (Apud, TRAQUINA,1999, p. 125), citando Schudson:

“a narrativa verbal procura constantemente ‘restringir o significado, unificar os fios soltos da interpretação, apresentar uma visão da nossa sociedade a qual existam formas institucionalizadas de conflito, mas sem contradições fundamentais. O discurso visual procura transmitir uma sensação de imediatismo, uma sensação de que ‘você está ali’ a ver os acontecimentos narrados a desenvolverem-se perante os seus olhos. O filme funciona como o garante da validade da narrativa.”

O autor propõe que o realismo televisivo presente nos noticiários funciona como um suporte das relações capitalistas de uma forma geral. Em parte, ressalta, ajuda a disfarçar o enquadramento ideológico dos acontecimentos, além disso, prossegue (Apud, TRAQUINA, 1999, p.125) lembrando que “o reflexo (ilusório) do mundo real nos sistemas de signos verbais e visuais da televisão pode ser uma pré-condição para a capacidade da televisão naturalizar as relações sociais dominantes.”

Por fim, Hackett (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 126) cita Skirrow, autor que defende a ideia de que, ao apresentar os fatos de modo imparcial, pretensão do noticiário televisivo, este lega ao espectador a possibilidade dele julgar os fatos, que permite “uma sensação de estar acima e fora das ações exibidas, e de ter uma relação divina com eles.”

Uma tal posição, segundo Hackett (1999), é compatível com a necessidade capitalista de sujeitos que se sintam autônomos, livres e determinados e que, em consequência, acabam por se submeter de forma voluntária a relações de troca entre indivíduos iguais e livres mas que são relações de exploração.

Comparando o noticiário televisivo com as notícias de jornal, Weaver ( 1999) destaca entre as características em comum entre as duas narrativas o fato de ambas se apresentarem como um relato atual dos acontecimentos atuais, “uma crítica do momento no momento”. Para o autor, essa característica se mostra como uma dupla contemporaneidade, ou seja, o presente é tratado como assunto, ao mesmo tempo em que se dá enquanto perspectiva no tempo em que é descrito.

Outra característica em comum entre as duas narrativas é o uso da técnica da reportagem como cobertura dos acontecimentos atuais. Reportagem, na definição do autor, é a descrição factual daquilo que um observador em cima do acontecimento em questão viu e ouviu. Essa técnica apresenta como características o concreto, o imediato e a fidelidade à particularidade dos acontecimentos. No entanto, observa Weaver (Apud, TRAQUINA,1999, p. 296):

“através do mesmo testemunho, também estão sujeitas a falhas de reportagem, sendo a principal a instabilidade relativa para narrar a complexidade e a ambiguidade e a não propensão para formular questões metaobserváveis que clarifiquem a complexidade e a ambiguidade.”

Weaver (Apud, TRAQUINA,1999) lembra ainda que outra problemática inerente à técnica da reportagem é a maior probabilidade de o jornalista alterar o acontecimento enquanto apura as informações, pelo simples fato de estar no local. O que pode parecer uma incoerência do autor, se justifica, segundo ele, pela omnipresença hoje nas redações dos chamados ‘pseudo-acontecimentos’, que são aqueles acontecimentos engendrados por fontes com o objetivo de se tornarem notícia.

Outra semelhança entre as duas narrativas está no fato de serem o relato de acontecimentos produzidos por organizações com objetivos especiais. As notícias são o resultado da produção de profissionais cuja função é apurar e redigir as notícias. “Assim, pode-se dizer que os jornalistas são especialistas – membros de uma comunidade ocupacional distinta que tem as suas tradições, preocupações e modos de fazer as coisas.”

Conclui então Weaver (1999) que a notícia reflete o ethos especializado da comunidade jornalística, sendo, portanto, moldado pela estrutura e processos desta, mesmo quando o objetivo daquela seja personificar as preocupações do cidadão médio.

O autor também aponta como característica comum às duas narrativas a tendência em descrever os acontecimentos como ações que veiculam uma linha implícita e normalmente de um modo extremamente simplista da ação dramática. Uma consequência desta prática, aponta, é que a notícia define o presente historicamente como uma fase de transição, ao mesmo tempo que é também uma consequência do passado e uma prefiguração do futuro, mas diferente de ambos. “Como um tempo de descontinuidade mais do que continuidade, de instabilidade, mais do que de estabilidade, e de perigo, crise, luta e aventura, mais do que o reverso.” (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 296).

Após demarcar as semelhanças entre o noticiário televisivo e as notícias de jornal, o autor parte para as diferenças que marcam as duas formas narrativas, a começar pela organização e coesão, bem mais presentes na primeira. O autor justifica essa diferença lembrando que a televisão está organizada e apresentada no tempo, enquanto a edição do jornal se encontra somente no espaço.

E continua Weaver (1999) observando que, ao contrário da edição de um jornal, que oferece uma gama variada de assuntos ao leitor e este pode escolher entre as notícias que deseja ler, o que torna esta mídia “solta”, “aberta” e “discursiva” em relação ao seu conteúdo e estrutura de edição, o noticiário televisivo é estruturado como uma coleção de “estórias” apresentadas de forma integral ao telespectador, contendo “muito menos ‘estórias’, e as que contêm são cuidadosamente escolhidas devido ao seu interesse e equilíbrio e são apresentadas como um pacote relativamente coerente e integrado”. Dessa forma, contrastando com o conteúdo do jornal, que se apresenta como um agregado diverso, numeroso e incompleto, o noticiário televisivo apresenta elementos que formam um todo unificado, ainda que raramente atinjam uma unidade perfeita. “O objetivo subjacente do noticiário televisivo é alcançar a condição de totalidade, exibindo tema, estrutura e unidade.” (Apud, TRAQUINA,1999, p. 296-297). A consequência disso é a tendência do noticiário televisivo apresentar uma interpretação única e unificada dos acontecimentos do dia como se fosse um todo, bem como a mostrar períodos de tempo em um único movimento, ação ou tons definidos. Escreveu Weaver

“na medida em que pensamos ou falamos, de modo ‘sagrado’, dos acontecimentos do dia como bons, maus, promissores, desencorajadores, dramáticos, aborrecidos, ou o que quer que seja — e é claro que todos nós fazemos isto constantemente —, estamos a pensar no mesmo modo que o jornalismo televisivo. Nos jornais, em contraste, os acontecimentos do dia raramente têm uma identidade temática tão clara; o dia do jornal é sempre uma confusão comparativa.” (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 298).

O autor também critica a crença de que as notícias de jornal são mais analíticas em relação às notícias de televisão, tidas como mais superficiais e ligeiras. Ele defende que as estórias veiculadas nos noticiários televisivos são as mais analíticas e consistentes, indo além da superfície dos acontecimentos, como forma de evidenciar os significados dos assuntos da atualidade.

Ele justifica sua tese lembrando que as noticias de jornal seguem padrões estabelecidos como o lead, Pirâmide Invertida (com exceção dos artigos, editorias e resenhas) e o esquema quem, o quê, onde, quando…, o que possibilita ao leitor, entre outras coisas, interromper a leitura quando achar que já obteve acesso às informações mais relevantes. A notícia de jornal não é concebida para ser lida em sua totalidade.

O contrário se dá com as notícias de televisão, que somente são inteligíveis quando visionadas na sua totalidade. Assim, ressalta o autor, a “estória” televisiva não se limita à simples denominação do acontecimento e, tampouco, à função bordadora desempenhada pela “estória” de jornal. Escreveu o autor:

“inevitavelmente a ‘estória’ televisiva entra, por baixo, ou para lá do acontecimento em si para se fixar em algo mais – um processo, um modo, uma tendência, condição, ironia, relação ou qualquer outra coisa que pareça um tema adequado na circunstância.” (WEAVER, 1999, p. 299).

Ainda de acordo com a avaliação de Weaver (1999), a televisão é muito mais monolítica quanto à interpretação dos acontecimentos atuais, o que pode ser observado quando um único tema ou modo determina o conteúdo de todo um programa noticioso, acabando por moldar com detalhes a descrição das notícias como um todo, característica praticamente inexistente numa edição de jornal.

Essa estrutura do noticiário televisivo corrobora para que seu conteúdo se encontre muito mais sob o controle prático, diário e discricionário do executivo, quando comparado com o jornal, cujo conteúdo é mais influenciado por acontecimentos, fontes e demais fatos externos e incontroláveis. O tom pessoal do narrador das notícias de televisão é outro diferencial em relação à voz narrativa marcadamente impessoal das notícias de jornal.

Lembra Weaver (1999) que a “estória” do jornal narra o fluxo dos acontecimentos da atualidade da mesma forma que a voz remota e rigorosa do jornal científico um contraste com a voz pessoal que narra as notícias na televisão.

Além de se ouvir de fato a voz do narrador, também é possível ver seu rosto, seu corpo e sua postura. O narrador impõe à notícia personalidade de forma quase contínua. “De fato, quase não há um momento na ‘estória’ televisiva em que o olhar, a voz, a maneira, o pensar e a personalidade do repórter-narrador não esteja visível e audivelmente presente.” (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 301).

Uma pessoa real, de carne e osso, o repórter de televisão se apresenta ao espectador em toda a sua individualidade, o que não significa dizer que se mostre humanamente falível. Ao contrário, esse narrador possui uma postura tranquila e de mestre, uma voz de comando e uma dicção e aparência perfeitas. “Ele pode ser uma pessoa, mas está claramente a desempenhar um papel, e na maioria dos casos … a postura que ele assume é de omnisciência”. Weaver. (Apud, TRAQUINA,1999, p. 301).

Quase sempre na cena do acontecimento, o repórter aparece com maior destaque (cabeça e dorso em geral) na tela em relação às pessoas e objetos que compõem seu relato. Nas palavras do autor:

“ao longo da reportagem as próprias ocorrências são como ‘massa’ nas suas mãos de mestre. Ele interrompe a cada passo; interrompe o Presidente a meio da frase; faz observações sobre imagens de reis, congresso, guerras e cidadãos. A cada passo transmite a sugestão subterrânea mas não menos poderosa de que o repórter é maior que a vida, que literal como figurativamente está acima dos simples mortais cujos feitos e não feitos ele tão fácil e infalivelmente agarra e cujas pretensões vê num instante.” (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 302).

Essa omnisciência do jornalista de televisão também se faz notar na forma como fala, marcada pela autoridade e autoconfiança a respeito de tudo o que ocorre no seu campo de visão. Segundo Weaver (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 301), os “homens, acontecimentos, motivos, intenções, significados, tendências, ameaças, problemas, soluções – tudo está evidentemente dentro da sua compreensão perfeita e ele pronuncia-se sobretudo sem quaisquer se […] ou mas […]”

Por fim, o autor vê de forma preocupante outra consequência do que ele chama de pose de omnisciência do jornalista de televisão: a relação dos espectadores com o real. Escreveu:

“pelo exemplo que os seus narradores apresentam, pelas ‘verdades’ que tão confiadamente proclamam, e pelo extraordinário poder do próprio meio de comunicação, o jornalismo televisivo encoraja os telespectadores a ter uma noção exagerada de quanto é possível saber e fazer no mundo real.” (Apud, TRAQUINA, 1999, p. 303).

A espetacularização presente hoje no noticiário televisivo também é vista de forma preocupante pelo autor. Essa ênfase no espetáculo, ao seu ver, promove, entre outras consequências, a divulgação de notícias e acontecimentos mais interessantes visual e emocionalmente e mais estimulantes do que ocorre na vida “real”. Escreveu sabiamente o autor:

“A ênfase ao espetáculo empresta à notícia televisiva formas adicionais de autoridade e interesse: o interesse e a emoção que são característicos do espetáculo e a autoridade largamente enganadora, mas contudo bem real, ou a ‘credibilidade de filme como um modo de observação testemunhal.” (Apud, TRAQUINA 1999, p. 304).

Conclui o autor que, ao enfatizar o espetáculo, se apoiar no observador omnisciente (repórter) e promover uma descrição unificada e temática dos acontecimentos, a televisão se torna um mobilizador muito poderoso de atenção do público e da opinião pública. O noticiário televisivo também mereceu a atenção do sociólogo francês Pierre Bourdieu. No livro Sobre a Televisão[3], ele cita o filósofo Berkeley[4] para quem “ser é ser percebido”, para afirmar que hoje “ser é ser percebido na televisão”, uma crítica que o sociólogo faz aos filósofos e escritores que escrevem com a finalidade de aparecer com frequência nesse veículo, mas que podemos estender para os demais “campos” que compõem a sociedade. Bourdieu (BOURDIEU, 1997, p. 17) pontua de maneira clara sobre “a tela da televisão que se tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica.”

Lembrando que a televisão é um formidável instrumento de manutenção da ordem simbólica, nesse livro, Bourdieu faz dos jornalistas o “objeto” da sua análise, não sem antes reconhecer que as pessoas não gostam muito de ser tomadas como objeto de estudo e, em sua opinião, os jornalistas gostam menos ainda de ser objetivados. Escreveu o sociólogo:

“eles se sentem visados, alfinetados, quando, ao contrário, quanto mais se avança na análise de um meio, mais se é levado a isentar os indivíduos de sua responsabilidade ...e quando melhor se compreende também que aqueles que dele participam são tão manipulados quanto manipuladores.” (BORDIEU, 1997, p. 21).

Bem mais radical em sua crítica ao noticiário televisivo, começa sua análise propondo desmontar os mecanismos que fazem com que a televisão exerça o que ele define como “violência simbólica”, Bourdieu (BOURDIEU, 1997, p.22) observa “que se exerce com a cumplicidade tácita dos que a sofrem e também, com frequência, dos que a exercem, na medida em que uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la.”

O sociólogo se volta primeiramente para as notícias de variedades, por considerá-las “fatos omnibus”, ou seja, não devem chocar o telespectador e nem dividir ou envolver disputa, ao contrário, devem trazer consenso, interesse geral e, o mais importante, não abordar nada de relevante. Escreveu o sociólogo:

“as notícias de variedades consistem nessa espécie elementar, rudimentar, da informação que é muito importante porque interessa a todo mundo sem ter consequências e porque ocupa tempo, tempo que poderia ser empregado para dizer outra coisa.”. (BOURDIEU, 1997, p. 23).

Essa característica cresce em relevância quando se pensa no mundo de pessoas cuja principal, senão a única fonte de informação é a televisão[5].

Para Bourdieu (1997), ao preencher o tempo que ele acredita ser raro com o vazio, a televisão acaba por afastar as informações pertinentes ao cidadão para que ele exerça seus direitos democráticos[6]. Bourdieu se mostra ainda preocupado com o mecanismo do “ocultar mostrando” que também é exercido pela televisão, ou melhor, pelos jornalistas de televisão, que parecem ter “óculos especiais com os quais veem certas coisas e não outras” e, mais do que isso, veem de certa maneira as coisas que veem. Esse é o princípio de seleção que se pauta pela busca do sensacional, do espetacular. Segundo o sociólogo (BOURDIEU,1997, p. 25), “a televisão convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade, e o caráter dramático, trágico.” No exemplo utilizado por Bourdieu (1997) em relação ao seu país, a França, referente aos fenômenos ditos de subúrbio, o que desperta o interesse jornalístico (e a suas visões de mundo, formações e disposições) são as rebeliões, uma “realidade” não muito diversa da brasileira, se trocarmos os subúrbios pelas periferias e favelas das grandes cidades brasileiras, às voltas com a violência gerada principalmente pelo tráfico de drogas, e que são notícias quase que diárias dos telejornais.[7]

Nesse “ocultar mostrando”, as palavras também desempenham um papel relevante, ao determinar o que se deve ler e ouvir. Para Bourdieu (BOURDIEU, 1997, p. 26), “a foto não é nada sem a legenda que diz o que é preciso ler — legendum –, isto é, com muita frequência, lendas, que fazem ver qualquer coisa. Nomear, como se sabe, é fazer ver, é criar, levar à existência.”

Bourdieu (1997) se mostra indignado com apresentadores que, em sua forma de avaliar, falam levianamente, sem saber da dificuldade e da gravidade das suas palavras e nem mesmo do quão responsáveis são por evocá-las “diante de milhares de telespectadores, sem as compreender e sem compreender que não as compreendem.” São palavras, lembra, que criam fantasias, medos, fobias ou representações falsas.” ( BOURDIEU,1997, p.26). Citando Flaubert, que dizia ser “preciso pintar bem o medíocre”, Bourdieu lembra que é uma tarefa difícil “fazer sentir a realidade em sua banalidade”. Por isso, o jornalista precisa trabalhar com o inusitado, o extra-ordinário, precisa buscar a exclusividade, o furo jornalístico. Mas essa opção pelo não ordinário ou por transformá-lo no seu oposto, no extraordinário, tem suas conseqüências, uma vez que, segundo o sociólogo (BOURDIEU, 1997, p.28), “o fato de relatar, to record,como repórter, implica sempre uma construção social da realidade capaz de exercer efeitos sociais de mobilização (ou de desmobilização).”

Por fim, o autor observa que a televisão tornou-se um instrumento de criação da realidade, quando deveria ser apenas um instrumento de registro dos fatos. Ele (BOURDIEU, 1997, p.29) lembra, então, que “caminha-se cada vez mais rumo a universos em que o mundo social é descrito-prescrito pela televisão. A televisão se torna o árbitro do acesso à existência social e política.” O sociólogo francês aborda ainda em Sobre a Televisão o tema da homogeneização da informação jornalística, uma consequência da prática entre os jornalistas de se manterem atualizados a respeito do que os colegas dos outros veículos estão produzindo[8].

Nas redações, também é comum equipes se reportarem ao trabalho dos veículos concorrentes, uma forma de avaliação do próprio trabalho e definição das pautas do dia. Bourdieu (1997, p. 32-33) fala que “essa espécie de jogo de espelhos refletindo-se mutuamente produz um formidável efeito de barreira, de fechamento mental.” Bourdieu chama essa prática de efeitos do mecanismo de circulação circular ou efeitos de fechamento e, por fim, de uma censura invisível. Escreveu o sociólogo:

“em suma, há objetos que são impostos aos telespectadores porque se impõem aos produtores; e se impõem aos produtores porque são impostos pela concorrência com outros produtores. Essa espécie de pressão cruzada que os jornalistas exercem uns sobre os outros é geradora de toda uma série de consequências que se retraduzem por escolhas, por ausências e presenças.” (BOURDIEU, 1997, p. 39).

Contra a tese de que o mundo jornalístico é dividido e diversificado o suficiente para representar opiniões e pontos de vista diferentes, Bourdieu recorre ao conjunto de pressupostos e de crença que constituem o campo jornalístico[9]. Nas palavras do sociólogo:

“esses pressupostos …estão no princípio da seleção que os jornalistas operam na realidade social, e também no conjunto das produções simbólicas […] não há discurso (análise científica, manifesto político etc.) nem ação (manifestação, greve etc.) que, para ter acesso ao debate público, não deva submeter-se a essa prova da seleção jornalística, isto é, a essa formidável censura que os jornalistas exercem, sem sequer saber disso, ao reter apenas o que é capaz de lhes interessar, de ‘prender sua atenção’, isto é, de entrar em suas categorias, em sua grade, e ao relegar à insignificância ou à indiferença expressões simbólicas que mereciam atingir o conjunto dos cidadãos.” (BOURDIEU, 1997, p. 67).

O sociólogo defende que, em relação aos demais campos de produção cultural, como o da matemática e literatura, além do jurídico e científico, o campo jornalístico se encontra muito mais dependente das forças externas e está sujeito à sanção do mercado.

Por encontrar-se sob pressão do campo econômico e, por ser um campo muito heterônomo e fortemente sujeito às pressões comerciais, o campo jornalístico acaba por exercer uma pressão sobre os demais campos, enquanto estrutura. Escreveu o sociólogo:

“penso então que atualmente todos os campos de produção cultural estão sujeitos às limitações estruturais do campo jornalístico, e não deste ou daquele jornalista, deste ou daquele diretor de emissora, eles próprios vencidos pelas forças do campo. Essas limitações exercem efeitos sistemáticos muito equivalentes em todos os campos. O campo jornalístico age, enquanto campo, sobre os outros campos. Em outras palavras, um campo, ele próprio cada vez mais dominado pela lógica comercial, impõe cada vez mais suas limitações aos outros universos.” (BOURDIEU, 1997, p.80-81).

Bourdieu defende a existência de um campo televisual como um subcampo do campo jornalístico e destaca o papel da televisão como sendo a mídia que confere uma “autoridade” aos apresentadores e repórteres ao falarem sobre os demais campos de produção cultural (BOURDIEU,1997, p. 86). Com as considerações de Bourdieu fechamos essa terceira parte do presente capítulo, em que procuramos abordar questões mais relacionadas aos dia-a-dia do universo jornalístico. Aqui tratamos de temas como notícia, acontecimento e objetividade, tendo como principal referência o jornalista, em particular, o profissional de televisão.


[1] Durante 19 anos, Walter Cronkite foi o apresentador do mais antigo telejornal noturno dos EUA. Ele substitui outra lenda do telejornalismo americano, Edward Murrow, o jornalista que pôs fim ao macartismo – tema do filme Boa noite, boa sorte. Walter Cronkite foi por mais de década escolhido em pesquisas o homem mais confiável da América. O âncora permaneceu à frente do noticiário até 1979.

[2] Lembra o autor que a narrativa realista é o modo dominante do uso da linguagem na sociedade burguesa. O realismo, ressalta, procura estabelecer uma identidade entre os significantes, significados e outros referentes extralinguísticos do “mundo real”. “Mas uma tal identidade é uma ilusão…numa língua, um significante não aponta univocamente para um único significado que, por seu lado, esboça um único referente.” Ainda segundo o autor, o realismo procura ocultar a produtividade da linguagem da mesma forma que o mercado capitalista reprime a produção e salienta o produto. Ele cita então MacCabe ao abordar o texto clássico realista: “Em primeiro lugar, a sua incapacidade de tratar o real como contraditório e, em segundo, o posicionamento do sujeito numa relação de ‘especulação dominante’. O discurso dominante, num texto clássico realista, realiza o encerramento dos discursos subordinados e o leitor é colocado numa posição ‘da qual tudo se torna óbvio’. Isto é conseguido através do apagamento do sistema de significação do texto, através do encobrimento da sua construção.” HACKETT, R. A. Declínio de um paradigma?A parcialidade e a objetividade nos estudos dos media noticiosos. In: Jornalismo: Questões, Teorias e “estórias”, org. Nelson Traquina. Vega, 1999, pp 124/125.

[3] O livro surgiu a partir da gravação de dois programas realizados em março de 1996 em um canal de televisão francês.

[4] Filósofo irlandês, George Berkeley (1865-1753) negava a existência da matéria e afirmava que os objetos materiais somente existem enquanto são percebidos. Como Deus sempre percebe tudo, argumentava o filósofo que os objetos materiais continuavam a existir, independente de ser ou não percebido por alguém. Berkeley pensava a realidade somente enquanto um fenômeno mental.

[5] No Brasil, 98% dos domicílios dispõem ao menos de um aparelho de televisão. Pesquisa de 2001 do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) revelou que, dos entrevistados, 83% nunca vão ao teatro; 78% não freqüentam museus; 69% nunca retiram livros em bibliotecas; 68% não vão ao cinema. A mesma pesquisa mostrou que 81% dos entrevistados sempre assistem televisão e 78% ouvem rádio com freqüência. Ainda de acordo com a pesquisa do Inaf, a televisão é a mídia de maior alcance entre os entrevistados (97%), sendo 85% entre as classes A e B; 88% da classe C e 75% das classes D e E. Enquanto isso, somente 11% da população lêem jornal diariamente; 26% pelo menos uma vez na semana e 34% não lêem nunca. (In: Barbosa, S. A Educação para a Cidadania no Caminho da TV Brasileira. São Paulo, Revista Libero, 2004, ano VII, n° 13/14, p.58.

[6] Mais adiante, ao tratar da força da banalização da televisão, Bourdieu argumenta que, nesse meio, o objeto é construído de acordo com as categorias de percepção do receptor. “É o que faz com que todo o trabalho coletivo que tende a homogeneizar e a banalizar, a ‘conformizar’ e a ‘despolitizar’…convenha perfeitamente, embora ninguém …lhe seja o sujeito, embora ele jamais seja pensado e desejado como tal por quem quer que seja. É algo que se observa com frequência no mundo social: vê-se ocorrer coisas que ninguém quer e que podem parecer ter sido desejadas (‘é feito para’). É aí que a crítica simplista é perigosa: ela dispensa todo o trabalho que é preciso fazer para compreender fenômenos como o fato de que, sem que ninguém o tenha pretendido realmente, sem que as pessoas que financiam tenham tido de intervir tanto, tenha-se esse produto muito estranho que é o ‘jornal televisivo’, que convém a todo mundo, que confirma coisas já conhecidas, e sobretudo que deixa intactas as estruturas mentais.” (BOURDIEU,1997, pp.63/64).

[7] O “grupo violência e sua superação no âmbito da mídia” que se reuniu durante a VI Conferência Nacional dos Direitos Humanos, na Câmara dos Deputados, entre 14 e 17 de maio de 2002, concluiu que “a mídia não apenas propaga a violência, como constitui, ela própria, uma componente da violência organizada pelas elites contra a nação”. Relator do grupo, José Arbex Jr., cita no artigo Uma outra comunicação é possível (e necessária) alguns relatos de discriminação e preconceito por parte da mídia de representantes de movimentos sociais e de organizações não-governamentais ligadas aos direitos humanos e até de corporações como a Polícia Militar. “Assim, por exemplo, a violência em determinada favela é explicada pela ação de indivíduos ‘malvados’, de narcotraficantes e de ‘gangues de malfeitores’, sem que se explique o fato de que sua ação se dá num quadro de ‘desemprego estrutural’”. Arbex cita também os depoimentos de representantes da delegação da PM de Alagoas, que desenvolvem um trabalho educativo junto à comunidade, conseguindo redução no índice de violência, mas alegam que a mídia nada divulga sobre a experiência. Nas palavras de um tenente daquela corporação, a situação de inverte quando ocorrem casos de violência. “Se algum de nós der alguma declaração no estilo ‘Rambo’, pode ter certeza de que receberá total cobertura da mídia. Mas nossas atividades diárias, de um trabalho integrado com a comunidade, não merece sequer um comentário”. (In: MORAES, Denis de. Por Uma Outra Comunicação – Mídia, Mundialização Cultural e Poder. Record, Rio de Janeiro/São Paulo, 2004, pp. 386-389).

[8] Michael Kunczik tratou desse tema em Conceitos de Jornalismo, lembrando que a prática é uma forma de orientação entre os jornalistas. Escreveu o autor: “No setor de comunicação há os ‘grandes meios de comunicação de massa’, que funcionam como ‘líderes de opinião’ – o New York Times nos EUA, por exemplo – e que os ‘pequenos’ imitam.” Ainda, segundo ele, essa atenção que os jornalistas dão ao sistema de seleção dos outros meios de comunicação de massa é uma forma de reduzir as dúvidas quanto à insuficiência dos critérios próprios de seleção. “Não se deve subestimar a influência dos ‘jornais de opinião’ para formar estruturas relativamente homogêneas para os meios de comunicação dentro do país, e alguns meios de comunicação – por exemplo, o Time Magazine ou a Newsweek – ainda podem ser considerados como líderes de opinião internacionais. O fato de que alguns meios de comunicação de massa sirvam como guias para estabelecer orientações significa também que, em grande parte, os meios de comunicação não reagem aos acontecimentos em si, mas são impulsionados pelas reportagens dos principais meios de comunicação de massa e outros, fazendo o mesmo papel com suas próprias reportagens.” (In: KUNCZIK, Michael . Conceitos de Jornalismo. “Problemas Relacionados com o Trabalho no Jornalismo – a Ilusão da Profissão ‘Livre’”. São Paulo: Edusp, 2002, pp.170/171.

[9] Um campo, segundo o sociólogo, é um espaço social estruturado, um campo de forças, onde existem dominantes e dominados, mas também relações constantes e permanentes de desigualdades, que funcionam como um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de Forças (1997, p. 57). Os campos se baseiam em pressupostos e crenças partilhadas, que vão além das diferenças de posição e de opinião, e que se encontram inscritos em certo sistema de categorias de pensamento e em determinada relação com a linguagem (1997, p. 67).

REFERÊNCIAS

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