Na província de Nampula, norte de Moçambique, especialistas em ecossistemas marinhos alertam um futuro sombrio das espécies marinhas, a semelhança do que aconteceu no sector de florestas, onde milhares de árvores de medeira foram devastadas e transportadas para fora do país, com destaque para China, sem especificações.
O uso das artes nocivas, tanto pelos pescadores nativos, como, pelas emergentes empresas de proveniência chinesa que se instalara para além de outras regiões costeiras, nos distritos de Moma e Angoche, está na origem deste aviso.
Um membro do Conselho Comunitário de Pesca residente no distrito de Moma, que lamenta a falta de condições de transporte para a fiscalização da actividade pesqueira, relata que os chineses fora de pescar no mar aberto, colocam armadilhas diversas nos estuários, onde recolhem todo tipo de espécies marinhos, o que segundo ele, pode colocar em causa, a existências de espécies mais raras nos ecossistemas aquáticos.
“Faço parte do Conselho Comunitário de Pesca, mas não conseguimos realizar o nosso trabalho de fiscalização de forma livre, porque não temos transporte para o efeito, pelo menos, sequer um barco ou motorizada para assistir mais de 20 centros de pesca que compõem o nosso comité”- disse a nossa fonte, para depois acrescentar que “nós fiscalizamos os pescadores artesanais que usam redes mosquiteiras, mas aqueles chineses não fiscalizamos porque têm licença semi-industrial, entretanto, sabemos que eles também colocam armadilhas nocivas para capturar muita coisa que agente não sabe”— concluiu.
Por sua vez, Alide Assumane, Presidente do Conselho Comunitário de pesca do distrito de Moma, circunscreveu as palavras do nosso entrevistado, acrescentando que “existem pescadores que vem de outras províncias para pescarem neste território sem licença, mas nós ficamos limitados como intercetar, porque estamos desprovidos de meios de locomoção”.
A nossa reportagem, soube que os barcos usados pelos chineses são fabricados localmente e a pesca é praticada preferencialmente no período nocturno, uma escolha, segundo as nossas fontes, estratégica que tem em vista a pilhagem de outras espécies não especificadas nas suas licenças de exploração.
O governo distrital, na pessoa do Administrador, Chale Ossufo, olha o surgimento das empresas chineses de exploração e processamento do pescado em Moma, como mais uma valia, na medida em que serão abertos mais postos de emprego para a população.
Chale Ossufo, acrescenta ainda que com a entrada daquelas unidades pesqueiras no distrito estão incrementado os actuais níveis de captura do pescado, avaliados em mais de 35 por cento.
“Moma é um dos distritos que contribui em mais de 35% na produção pesqueira global da província de Nampula e pensamos que com o inicio das actividades das duas empresas de pesca iremos aumentar a nossa produção, bem como, criar postos de emprego para a população”.
Corte indiscriminado do mangal
Cremildo Armando, especialista em matérias de conservação dos ecossistemas marinhos na WWF, baseado no distrito de Angoche, no projecto das Ilhas Primeiras e Segundas abrangendo Moma, despertou o registo da exploração desenfreada dos recursos marinhos, sem observância da componente de conservação dos habitats dos mesmos, o que segundo suas palavras, poderá no futuro, provocar escassez desses recursos.
“Não basta apenas explorarmos os recursos marinhos, temos que explorar os mesmos a olhar no futuro. Porque se não tivermos em conta a conservação dos ecossistemas do mar, correremos o risco de algum dia ficarmos sem eles”— observou Cremildo.
Numa outra abordagem, o técnico da WWF, disse que paralelamente ao processo de exploração está o corte indiscriminado do mangal praticado pela população dos pescadores de forma massiva. Segundo ele, os mangais são importantes para a reprodução das espécies marinhas, dai que ao invés de corte, a sociedade deve manter estas plantas.
“Reconhecemos que a população precisa de combustível lenhoso, construir suas casas, que são principais fins do corte do mangal, mas queremos apelar que este corte deve acontecer de forma responsável, porque em causa, está o futuro da população aquática”- disse a fonte.
Erosão
Uma outra ameaça da actualidade face as mudanças climáticas, é o deslize da terra que também é acelerada pela devastação dos mangais, provocando sérios problemas de erosão costeira. A contracosta das vilas distritais localizados ao longo do Oceano Indico, está sofrer uma invasão das águas oceânicas destruindo diversas infra-estruturas erguidas a beira do mar, um dos indicadores do aquecimento global e a destruição da camada ozono.
Fontes conhecedores da matéria ambiental, apelam a implementação de medidas urgentes contra as mudanças climáticas, com vista reduzir os seus efeitos no mundo.
A contaminação dos rios, lagos e oceanos devido uso e descarte incorreto de objectos e produtos agrotóxicos como por exemplo, garrafas, plástico, adubos e fertilizantes, águas dos esgotos, entre outras formas, constituem uma ameaça para a Saúde pública e aquática para o futuro.
Papel da sociedade
A massificação da educação ambiental, através de campanhas de sensibilização das comunidades sobre os cuidados a ter com o ambiente, como por exemplo, o combate a erosão, repovoamento das florestas marinhas e terrestes, o descarte correcto do lixo, gazes e águas do esgoto, são algumas das medidas que devem ser tomadas de forma incondicional, observam os nossos interlocutores.
A mudança de comportamento, começa contigo!
Província de Nampula
Crédito da imagem: Autor
Idioma da reportagem: Português de Moçambique