Do jornalismo na fabulação do real: narrativa jornalística e ficção (02)

publicado na Ed_23_abr/jun.2022 por

A CONSTRUÇÃO DO ACONTECIMENTO (Parte 02)

JORNALISMO E OBJETIVIDADE

A ciência pressupõe a existência de um objeto que pode ser concreto ou um ente sensível, mas ambos têm em comum o fato de serem dados à experiência humana. O objeto da ciência precisa ser próprio, claramente determinado e delimitado.

A ciência pressupõe ainda a existência de uma metodologia própria, um conjunto de procedimentos empregados na abordagem do seu objeto quanto ao conhecimento, domínio e utilização. Uma metodologia apropriada corresponde a cada domínio científico.

É consenso no mundo científico a existência de três modalidades distintas de ciência: as formais ou lógico-matemáticas; as empírico-formais ou ciências da natureza e demais disciplinas científicas cujos objetos são fenômenos do mundo material (Química, Física, Biologia); e a hermenêuticas, também chamadas de ciências humanas ou do espírito, como é o caso da Sociologia, Economia, Psicologia, História, Direito, só para citar as mais tradicionais.

Vale ressaltar que ainda hoje não é consenso entre os cientistas a existência das chamadas ciências humanas. A justificativa para tal resistência se deve ao fato de as disciplinas desse segmento terem como objetos as ações humanas, consideradas por demais casuais, o que comprometeria a objetividade dos métodos científicos usados na abordagem daqueles.

A objetividade é uma das propriedades da ciência, fundamentada na certeza de que está se atém ao objeto da forma como ele de fato é, e não como deveria ou poderia ser.[1]

A objetividade possibilita também a certeza de que a metodologia empregada não comprometerá os resultados a serem obtidos.

Segundo Corbisier (1974), “o método é sempre o meio ou a técnica que se emprega para alcançar um objetivo previamente estabelecido”. Em sentido amplo, método pode ser o processo ou conjunto de processos que possibilita o conhecimento de uma realidade, a ação de produzir certo objeto ou mesmo desempenhar este ou aquele tipo de comportamento.

Em relação à ciência, por um lado, o método possibilita a apreensão do conhecimento que, na ausência daquele, seria obtido ao acaso e, por outro, permite a articulação e a ordenação dos conhecimentos em um conjunto lógico e sistemático, ou seja, a ciência.

As ciências lógico-matemáticas utilizam o método dedutivo também chamado de analítico[2]; as da natureza empregam o cálculo matemático e o método indutivo[3], motivo pelo qual também são conhecidas como ciências experimentais; já as humanas estabeleceram como metodologia: a observação, as estatísticas e o cálculo das probabilidades, como é o caso da Economia e da Sociologia, e a reconstituição dos fatos passados mediante a interpretação de documentos e fontes ordenadas, como faz a História.

Esse rápido resumo sobre a ciência e os métodos empregados em cada modalidade nos serve como parâmetro para abordar a questão da objetividade no jornalismo.

Apesar de sugerir a ideia de uma metodologia que se aproximaria dos procedimentos adotados pela ciência, a objetividade praticada pelos jornalistas é de outra “natureza”.

Ainda que hoje seja lugar comum a certeza de que a objetividade no jornalismo é um ideal inatingível, portanto uma ficção, mesmo assim, certos critérios para tornar a notícia mais objetiva possível continuam sendo uma “realidade” nas redações.[4]

Traquina (Apud, TRAQUINA,1999) aponta para o caráter mitológico desse jornalista como “comunicador desinteressado”, observador neutro, desligado dos acontecimentos e sempre muito cuidadoso com suas opiniões pessoais no exercício de sua profissão.

O autor lembra que esse “mito”, ou seja, essa concepção que acabou se tornando dominante no campo jornalístico do Ocidente pode ser historicamente identificada em dois momentos.

O primeiro se deu a partir de meados do século XIX, com o surgimento de um “Novo Jornalismo”, e o segundo, já no século passado, com o advento da objetividade em jornalismo nos anos 20 e 30.

Também chamado de jornalismo informativo, o “Novo Jornalismo” se fundava na ideia de que era possível separar “fatos” de “opiniões”. Traquina cita o que, segundo ele, viria a ser a bíblia da nova tradição jornalística, a saber, o pronunciamento, em 1856, do correspondente em Washington da Agência Noticiosa Associated Press:

“O meu trabalho é comunicar factos: as minhas instruções não permitem qualquer tipo de comentários sobre os fatos, sejam eles quais forem.” (TRAQUINA, 1999, p. 167).

O “Novo Jornalismo” surgiu em uma época dominada pelo positivismo. Citando Smith, Traquina (1999) observa que tanto a ciência como todas as disciplinas de então, incluindo a Filosofia e a Sociologia, tinham por ambição imitar a máquina fotográfica, “que parecia ser o espelho, há muito procurado, capaz de reproduzir o mundo real.” O “Novo Jornalismo” nasce nos Estados Unidos, país que foi marcado, a princípio, por um jornalismo bastante opinativo, dominado pelos editoriais.

A situação começa a mudar na primeira metade do século XIX, com a entrada em cena da chamada Penny Press ou Penny-Papers, como ficou conhecida a imprensa que popularizou os jornais na época, uma vez que cada exemplar custava um centavo de dólar, portanto, muito mais acessível aos leitores.

Mais do que popularizar a imprensa, os Penny-Papers inventaram o moderno conceito de notícias, de acordo com a tese defendida por Michael Schudson (1978), no livro Discovering the News: a Social History of American Newspapers.[5]

O primeiro Penny-Paper surgiu em 1833, na cidade de Nova York. O New York Sun tornou-se logo muito popular, atingindo 15 mil cópias diariamente em apenas dois anos, um marco, se comparado à tiragem de 26.500 exemplares de todos os 11 jornais de Nova York que circulavam no ano de fundação do primeiro jornal da Penny-Press.

Outros Penny-Papers apareceram no rastro no New York Sun nos anos que se seguiram em Nova York e cidades como Boston, Filadélfia e Baltimore, localizadas em áreas mais populosas e urbanas do leste dos Estados Unidos.

Segundo Schudson, a maioria desses jornais buscava independência política, atitude raramente adotada pela imprensa de então.

Ainda de acordo com o autor, a Penny-Press também procurava manter uma postura indiferente em relação aos fatos políticos, uma vez que esses eventos não interessavam ao seu público.

Os jornais americanos começaram a publicar com regularidade notícias políticas vindas do exterior, mas também domésticas (nacionais e locais).

Também foram pioneiros na divulgação de matérias policiais, dos tribunais, acontecimentos esportivos, da alta sociedade, das ruas e até da vida privada. Schudson (1978, p.22), lembra que, “pela primeira vez, o jornal refletia não apenas o comércio ou a política, mas também a vida social.”

Para ser mais preciso, afirma o autor (1978) que, a partir do ano de 1830, os jornais começaram a deixar de refletir os fatos relacionados a uma pequena elite de negociantes e progressivamente passaram a noticiar as atividades de uma sociedade variada, urbana e de classe média ligada ao comércio, transporte e indústria.

Produto novo em vários aspectos, as notícias relatavam os eventos sem a influência dos partidos políticos.

Lembra Schudson que os Penny-Papers inovaram ao adotar uma atitude democrática em relação aos eventos, a partir do momento em que qualquer acontecimento, por mais banal que fosse, era qualificado para ser publicado.

Alguns anos depois do advento da Penny Press, na década de 1840, o telégrafo chegou aos Estados Unidos.

Os Penny-Papers incentivaram o desenvolvimento dessa tecnologia, em especial o jornal Baltimore Sun, que participou da primeira transmissão experimental naquele país, comunicação que se deu entre as cidades de Washington e Baltimore (1978, p. 34)[6].

Schudson cita o ensaio escrito, em 1931, por Walter Lippmann, autor que pensa as mudanças ocorridas no jornalismo americano, bem como em outros países, como uma passagem natural, ou uma evolução social. A imprensa, de acordo com essa visão, teria passado por três estágios de desenvolvimento.

No primeiro, a imprensa era um monopólio do governo, depois passou para o controle dos partidos políticos para, por fim, tornar-se uma atividade comercial. Observa Schudson que, “nos Estados Unidos, esse último estágio se deu com o advento dos Penny-Papers”(1978, p. 40), durante a transição da república liberal mercantilista arraigada a valores tradicionais e aristocráticos para uma sociedade de mercado igualitária e democrática, processo iniciado em 1815 e cujo auge se deu quase duas décadas mais tarde, nos anos 30 e 40.

A nova sociedade favoreceu o surgimento da Penny-Press, que contribuiu diretamente para a expansão do mercado, quer por meio da publicidade que divulgava, quer por transformar o próprio jornal em um produto de consumo.

O Penny-Paper mais importante desse período foi New York Herald, fundado em 1835, por James Bennett, importante figura do jornalismo americano, só perdendo em importância para Joseph Pulitzer[7].

Bennett criticava seus concorrentes da Penny Press por não terem talento, conhecimento do mercado e nem da sociedade; também acusava os demais concorrentes, os Six-Penny Papers, aos quais chamava de Wall Street Press, de estarem à mercê do poder econômico.

Uma das inovações adotadas por Bennett em seu jornal foi a inclusão de artigos econômicos, informações que atraíam um público de negociantes e de anunciantes desse segmento. Esses artigos não se limitavam ao relato dos fatos, mas também a uma análise da economia de mercado, ou como o próprio Bennett definiu, o espírito e a filosofia dos acontecimentos, que muito interessavam aos homens de negócio.

Já no final daquele século, o jornalismo praticado nos Estados Unidos começa a sofrer forte influência de uma sociedade cada vez mais era orientada para o consumo. Os jornais desse período foram aos poucos se adaptando ao novo estilo americano, a começar pelas transformações adotadas em suas edições.

A mudança da classe média para bairros mais afastados dos centros das cidades e o aparecimento do transporte público proporcionaram um tipo de leitor que começava a criar um novo hábito: a leitura durante o trajeto feito nesses veículos e, portanto, exigia um novo padrão de jornal.

Em pouco tempo, os estilos das publicações foram se tornando mais fáceis para a leitura. O corpo das letras aumentou, bem como o dos títulos. As páginas também foram reduzidas para facilitar o manuseio do jornal.

Outra tendência dessa época foi o uso intensivo de imagens, em particular das ilustrações.

Por fim, surgiu um tipo de padrão usado até hoje no jornalismo, o lead, uma forma de concentrar no primeiro parágrafo da matéria a informação considerada mais importante.[8]

O entretenimento também podia ser observado no conteúdo das notícias veiculadas no final do século XIX, quando muitos jornais apresentavam o estilo de vida urbana como se fosse um espetáculo, revelando aos leitores os mistérios e maravilhas das cidades.

Paralelo a essas mudanças, dois tipos de jornalismo se desenvolveram na passagem do século XIX para o século XX, tendo a frente dois importantes periódicos de Nova York: O World e o Times.

O primeiro praticava um jornalismo de estória, enquanto seu concorrente adotava uma linha editorial mais centrada na informação. O World tinha uma crença de que tudo poderia se tornar notícia e os acontecimentos eram vistos como incomuns e imprevisíveis. Já o Times era direcionado a um público mais racional, com um padrão de vida ordenado. As notícias eram tratadas como conhecimento e não como revelações.

Até o fim da Primeira Guerra o termo objetividade era desconhecido das redações, mas poucos anos depois, já na década de 20, tornou-se bastante comum entre os jornalistas. Nessa época, os profissionais de imprensa não mais acreditavam que os fatos poderiam ser entendidos por eles mesmos.

A suspeita e o ceticismo de pensadores do final do século XIX em relação aos fatos, entre eles Friedrich Nietzsche, começou a influenciar o pensamento na segunda década do século XX. Agora, por trás de cada fato, sempre se via algum tipo de interesse e valor.

Por essa época, o ideal de objetividade passou a ser consenso como uma forma de validar o mundo, o que levou a uma radical separação entre os acontecimentos e os valores. A objetividade tornou-se um método em uma sociedade onde tudo passou a ser questionado.

A própria história não mais acreditava em fatos, mas apenas no julgamento subjetivo dos historiadores. Essa descrença geral em relação aos fatos acabou por aumentar ainda mais a suspeita em relação às notícias entre os jornalistas, já bastantes desconfiados da atuação dos agentes de relações públicas, profissionais que não eram bem-vistos pelos jornais daquela época.

Segundo Schudson (1978), os editores temiam que a ação desses agentes aumentasse ainda mais a possibilidade de as instituições promoverem como notícias o que deveria ser divulgado como propaganda.

Schudson (1978) cita as considerações de Lee, um dos mais importantes relações públicas americano, para quem a propaganda era um esforço para gerar idéias. O autor também acreditava que as interpretações dos fatos eram sempre individuais, percepção que, na visão de Schudson, não passava de uma epistemologia cínica utilizada pelos agentes de relações públicas para defender interesses comerciais.

As divergências entre jornalistas e agentes de relações públicas se baseavam ainda no fato destes promoverem uma espécie de filtro das notícias. Depois da Primeira Guerra, aumentou muito no mercado o número de agentes de relações públicas, o que levou as notícias a passar cada vez mais pelo controle desses profissionais, tornando o material divulgado pelas empresas, o press release, bastante racionalizado em termos de informação.

Outros dois fatores importantes nesse processo de descrença também se deram durante o mesmo conflito: a censura sofrida pelos correspondentes na Europa e o fato de os jornalistas que cobriam a guerra terem se tornado agentes da máquina de propaganda americana, tanto dentro como fora dos Estados Unidos.

Lembra Schudson (1978) que o New York Times descreveu o conflito europeu como “a primeira guerra dos agentes de imprensa” e o historiador Roth classificou o mesmo conflito de “primeiro esforço moderno e sistemático nacional de manipulação das paixões coletivas.” Nada poderia ser mais persuasivo do que as experiências de guerra em convencer os jornalistas americanos de que os fatos por eles mesmos não são necessariamente verdadeiros. Durante a guerra e depois dela os jornalistas passaram a ver “tudo” como ilusão.

A propaganda de guerra influenciou diretamente a expansão dos agentes de relações públicas nos anos 20. A proliferação desses profissionais foi determinante para que fosse minada de vez a antiga crença nos fatos. Boa parte das matérias veiculadas nos jornais americanos na década de 20 e 30 era originária das agências de relações públicas.

Nos anos 30, uma outra importante inovação na imprensa americana: o desenvolvimento de um jornalismo interpretativo, contribuiu para aumentar o debate sobre a objetividade. Essa nova tendência possibilitava uma maior subjetividade na divulgação dos fatos analisados nos editoriais e em colunas opinativas.

Porém, nem todos os jornalistas eram colunistas, a maior parte não estava livre para fazer uma interpretação dos fatos. Esses jornalistas precisavam seguir certas normas de objetividade para que as informações por eles apuradas fossem vistas com seriedade pelos leitores.

Um dos maiores defensores da objetividade no jornalismo, Walter Lippmann acreditava que a adoção de normas, a exemplo da metodologia científica, poderia ser uma solução para validar a prática do jornalismo. Ele defendia uma profissionalização do jornalismo e para isso era preciso uma educação séria, que deveria tornar os jornalistas mais sábios em conhecimentos.

Schudson (1978) lembra que Lippmann defendia uma nova forma de profissionalismo porque estava certo da subjetividade presente nas notícias e suas consequências. A melhor forma de se combater os “erros” do jornalismo era a ciência, ainda que, na visão de Lippmann, perseguir uma metodologia científica não tornaria o jornalismo mais profissional, porém mais liberal e heroico.

A objetividade nos anos 20 e 30 era entendida como um ideal a ser adotado contra a subjetividade do jornalista, mas esta era pensada mais em termos de uma linha editorial seguida pelo profissional a uma predisposição pessoal. Mesmo concordando com a análise de Schudson, Traquina acredita que hoje em dia as origens da objetividade estão esquecidas e que a ideologia da objetividade reforça um ‘empirismo ingênuo’, ainda reinante no campo jornalístico.

As notícias são vistas pelos jornalistas “como emergindo naturalmente dos acontecimentos do mundo real”, bastando àqueles serem os espectadores do que se passa, para então transmitir os fatos de forma fiel. Portanto,

“a metáfora, habitualmente evocada no campo jornalístico, do jornalista como ‘espelho’, reflete bem esse conceito do jornalista como simples mediador cuja existência se suprime quando o acontecimento é ‘reproduzido’ na notícia.” (TRAQUINA,1999. p.168). 

Tuchman (Apud, TRAQUINA, 1993) faz uma outra abordagem da objetividade no jornalismo. No artigo A objetividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objetividade dos jornalistas, ela defende que a reivindicação da objetividade por parte dos jornalistas funciona, na verdade, como procedimentos adotados que “exemplificam os atributos formais de uma notícia ou de um jornal. ”A objetividade, segundo a autora, precisa ser evocada pelos jornalistas, uma vez que estes trabalham com fatos relativos à realidade social.

Citando Hugher, Tuchman (1993) pensa o conjunto de procedimentos que serve para embasar a objetividade dos jornalistas como rituais, evocados para neutralizar prováveis críticas e também como forma de seguir “rotinas confinadas pelos ‘limites cognitivos da racionalidade’.”[9]

A produção de notícias não permite a adoção de uma análise epistemológica reflexiva, como ocorre na área científica. A realidade do jornalista é diversa da do cientista social, por exemplo, que pode ocupar-se da análise epistemológica reflexiva sobre os fatos. Escreveu Tuchman (Apud, TRAQUINA, 1993, p.76) citando Schudson:

“ao contrário dos cientistas sociais, os jornalistas têm um repertório limitado com o qual definem e defendem a sua objetividade. Nas palavras de Radi o cientista social é um “pensador”; o jornalista, um ‘homem de ação’. Isto é, o cientista social tem que ocupar-se da análise epistemológica reflexiva); o jornalista não.”

A produção de notícias requer a tomada imediata de decisões relativas à validade, fiabilidade e “veracidade” dos fatos, procedimento que não permite análise epistemológica reflexiva, a exemplo do que ocorre nos campos da ciência. Porém, como observa Tuchman (1993), é imprescindível aos jornalistas uma “noção operativa de objetividade para minimizar os riscos impostos pelos prazos de entrega de material, pelos processos difamatórios e pelas reprimendas dos superiores”.

Em geral, o repórter conta com apenas um dia de trabalho para apurar as informações e transformá-las em notícias. Mas antes destas tornarem-se o produto final que chegará ao público, passam por uma cadeia organizacional e hierárquica da qual fazem parte vários profissionais.

O repórter que apura os fatos é mais um componente dessa cadeia organizacional estruturada hierarquicamente a fazer juízos a respeito dos acontecimentos de acordo com os perfis de seus superiores ou, como prefere Tuchman, no processamento de uma notícia encontram-se envolvidas diversas “conjecturas”. Segundo a autora,

“o repórter ‘faz conjecturas’ sobre as preferências do editor da seção local e os seus assistentes, que fazem o mesmo gênero de conjecturas em relação aos editores da secção de política, e estes em relação aos editores principais, que, por sua vez, fazem conjecturas sobre as preferências do diretor, e todos eles ‘conjecturam’ a vontade do proprietário. Todos criticarão a notícia após a sua publicação.” (Apud, TRAQUINA,1993, p. 77).

Esse percurso pelo qual passa a notícia até chegar ao público acaba gerando, não raro, informações que não correspondem à “realidade” dos fatos. Riscos de retratação pública por parte do veículo e processos judiciais por difamação contra jornalistas e jornais são alguns dos fantasmas que rondam as redações.

Neste contexto, a adoção de critérios objetivos na produção de notícias se torna uma importante estratégia para evitar contratempos de toda ordem. A verificação dos fatos é o primeiro caminho nessa busca por objetividade, mas se a veracidade dos fatos não puder ser comprovada, outras estratégias que garantam a objetividade podem ser adotadas.

Tuchman (1993) enumerou quatro procedimentos estratégicos que fazem com que o jornalista seja objetivo em seu trabalho: a apresentação de possibilidades conflituais; a apresentação de provas auxiliares; o uso judicioso das aspas; e a estruturação da informação numa sequência apropriada.

O primeiro procedimento garante a possibilidade de que dois lados de um mesmo fato ou questão possam ser divulgados, possibilitando assim ao público decidir qual fala passa maior credibilidade. Porém, esse procedimento de fornecer informações para que o público tire suas próprias conclusões não garante a objetividade na transmissão das notícias, permitindo apenas que duas ou mais “realidades” reclamem a mesma validade potencial. Em relação a esse procedimento, escreveu Tuchman (Apud, TRAQUINA,1993, p. 80):

“como um fórum a arejar a ‘política da realidade’, a definição dos jornalistas da situação vai para além da apresentação dos dados suficientes para o leitor chegar a uma conclusão. Um pântano de pretensões de verdades contraditórias, como as hipóteses apresentadas, teriam mais vantagens em ser encaradas como um convite aos leitores para exercitarem a percepção seletiva, uma reação característica às notícias.”

A apresentação de provas auxiliares como procedimento estratégico para garantir a objetividade no jornalismo se baseia na crença de que fatos suplementares possam provar a veracidade da notícia.

Para exemplificar essa estratégia, Tuchman (1993) cita o exemplo de um repórter que convenceu seu editor de que na notícia da morte do músico deveria constar que ele teria sido em vida um profissional excepcional. Seu argumento se baseava no fato de que o músico morto havia tocado com John Philip Souza[10], o que dava àquele o adjetivo de excepcional.

O uso das aspas é outro recurso adotado pelos jornalistas com a intenção de garantir a objetividade da produção das notícias. Lembra Tuchman (Apud, TRAQUINA,1993) que, ao recorrer à citação da fonte, os jornalistas acreditam que deixam de participar da notícia e, assim, os fatos acabam falando por eles mesmos.

O uso das aspas, no entanto, pode ser uma estratégia do jornalista para fazer com que outras pessoas falem por ele. Observa Tuchman (1993) que, “ao acrescentar mais nomes e citações, o repórter pode tirar as suas opiniões da notícia, conseguindo que outros digam o que ele próprio pensa” e, agindo dessa forma, consegue se proteger contra a censura por parte dos seus superiores. Além de serem utilizadas como estratégia para fazer desaparecer a presença do jornalista na notícia.

Tuchman (1993) entende que “esta afirmação pertence a qualquer pessoa, menos ao repórter”. As aspas também funcionam no texto como um recurso para colocar em questão a designação atribuída. Assim, mais uma vez recorremos ao exemplo dado por Tuchman. A autora lembra que a não utilização das aspas no termo Nova Esquerda é uma referência a um grupo de pessoas com posicionamento político em comum. Já a opção pelas aspas no mesmo termo, “Nova Esquerda”, caracteriza a existência de um grupo que assim se denomina. Neste caso, as aspas colocam em causa a legitimidade do grupo. Por fim, a estruturação da informação numa sequência apropriada, ou a sucessão das informações de acordo com o grau de importância, conhecida como Pirâmide Invertida[11], seria também um procedimento que indicaria a objetividade da notícia.

A escolha do lead, no entanto, é um indicativo de que foi feita uma seleção das informações em relação ao grau de importância.

Essa capacidade de escolha por parte dos jornalistas revela uma “perspicácia profissional” conhecida como News Jugement.

Essa capacidade de escolha objetiva entre “as informações” que concorrem ao posto de fatos mais importantes, de acordo com Tuchman, denota conteúdo. “Por outras palavras, ao discutir a estruturação da informação, o jornalista deve relatar as suas noções de conteúdo ‘importante’ ou ‘interessante’”. (Apud, TRAQUINA, 1993, p.83).

Nessa tarefa de selecionar as informações mais importantes ou interessantes, os jornalistas sempre podem recorrer aos “seis servidores” da notícia, a saber: “o quem, o quê, o quando, o onde, o porquê e o como”.

Assim, o jornalista pode afirmar que apurou as “coisas mais materiais” ou que foi “objetivo” em seu trabalho. Porém, como salientamos ao longo deste trabalho, a escolha dos fatos é sempre uma perspectiva, uma valoração feita pelo jornalista.

Portanto, podemos afirmar que valorações estão presentes em qualquer etapa da produção da notícia, seja ela de qualquer natureza, constatação que faz ruir a crença de que juízos de valor e interpretações subjetivas só existem em matérias opinativas ou de análise. Recorrer à distinção entre esses dois tipos de notícias, as factuais e as de análise, aliás, é também um recurso que garante a objetividade no jornalismo.

No entanto, lembra Tuchman, essa tática de separar os “fatos” das opiniões por meio do rótulo “notícia de análise” é uma forma de iludir o público “ao sugerir que a ‘análise’ é convincente, ponderada ou definitiva.”

A objetividade no jornalismo definida como um conjunto de procedimentos convencionalizados, em si mesmo, não torna as notícias mais objetivas ou verdadeiras. Os procedimentos adotados no jornalismo funcionam, no entanto, como um ritual estratégico, uma garantia aos profissionais da área de que, seguindo padrões estabelecidos que assegurem a seriedade das informações, as notícias chegarão ao público como um retrato fiel dos fatos.


[1] Outras propriedades da ciência são: o desinteresse, que parte do princípio que o espírito científico está ligado à busca da verdade, independente de qualquer fator; a sistematização, que visa formar um todo orgânico e ordenado do conhecimento; a criticidade, que submete ao julgamento crítico todas as conclusões; a abertura, que mantém o campo científico aberto a novas pesquisas e descobertas; e o método.

[2] Parte do geral para o particular. É chamado de analítico porque consiste em analisar, separar ou dividir o que está reunido em premissas. Os objetos abordados por esse método só existem em essência, por isso são chamados de ideais.

[3] Parte do particular para o geral, do contingente ao necessário, do finito ao infinito. Inclui a observação que é a contemplação do fenômeno tal como ocorre, o que possibilita o conhecimento do objeto em sua objetividade, seguida da hipótese, uma explicação provisória do fenômeno. Dessa forma, a hipótese antecipa-se à experiência, tornando-a possível. Os juízos indutivos são também conhecidos por sintéticos (Kant) porque fundados na experiência ou na realidade, mas carentes da universalidade e da necessidade, características do conhecimento científico.

[4] Assim como se considera a parcialidade como o oposto da objetividade, dois conceitos frequentemente associados ao jornalismo. Robert A. Hackett lembra que a maioria das definições em linguagem comum considera a parcialidade noticiosa uma intrusão da “opinião” subjetiva do jornalista ou do media, no que deveria ser, pretensamente, um relato “factual”. O autor cita ainda a tendência em se considerar a parcialidade enquanto uma forma de “seletividade” e também de diferenciação, que se faz entre a parcialidade política, resultante das simpatias partidárias ou condições ideológicas dos jornalistas, e as parcialidades estruturais, que surgem em função do caráter do media ou dos imperativos da programação comercial. (HACKETT. R.A. Declínio de um paradigma? A parcialidade e a objetividade nos estudos dos media noticiosos. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993, p.104).

[5] Antes dos Penny-Papers, os jornais eram de dois tipos: comerciais ou políticos, destinados a uma elite desses dois segmentos com assuntos limitados a esses universos. Esses jornais tinham em comum também o preço, alto para a maioria dos leitores da época. Cada edição custava seis centavos de dólar, numa época em que o trabalhador ganhava em média U$0,85 por dia, o que explica em parte a baixa tiragem dos jornais, em torno de dois mil exemplares/dia.

[6] O primeiro experimento foi realizado por Samuel B. Morse ainda em 1837, ao enviar uma mensagem através da distância de 500 metros. A primeira transmissão oficial se deu em 1844, quando a frase bíblica “O que Deus tem feito”, escolhida por Morse, foi transmitida entre as cidades de Washington e Baltimore.

[7] Húngaro naturalizado americano, Joseph Pulitzer adquiriu no final do século XIX o New York World, transformando esse jornal em um veículo de notícias de interesse humano de cunho sensacionalista. Pulitzer também criou o relatório investigativo no jornalismo, dando destaque a temas sociais como a pobreza em Nova York, uma forma de exigir mudanças e reformas na cidade. Foi processado em 1909 por matérias sobre fraude na construção do Canal do Panamá. Apesar de condenado pela Justiça, passou para a história pela sua luta em favor da liberdade de imprensa. O mais importante prêmio do jornalismo americano é uma homenagem a ele, concedido pela Universidade de Colúmbia, de Nova York. O Prêmio Pulitzer foi criado em 1917, seis anos após sua morte.

[8] Schudson ressalta que essa opção por reunir num primeiro parágrafo as principais informações de uma notícia não tinha a mesma finalidade do “lead” que surgiu com o telégrafo nos idos de 1840, uma vez que, naquela época, os motivos eram essencialmente econômicos, objetivando a redução dos custos das transmissões telegráficas (1978, p. 105).

[9] Esses rituais também estão presentes em outras profissões. Gaye Tuchman cita como exemplo os advogados que, entre outras normas, não advogam em causa própria, os médicos que não realizam intervenções cirúrgicas em familiares, uma vez que, “envolvido emocionalmente, o médico poderia não seguir os procedimentos médicos adequados.” Cf. TUCHMAN,G. A Objetividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objetividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo:questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993, p.90.

[10] Compositor e regente português, naturalizado americano. Nasceu em 1845 e morreu em 1932. Ficou famoso em sua época por melhorar a qualidade de interpretação e da riqueza instrumental das bandas de música. Compôs cerca de 140 marchas, além de óperas cômicas e poemas sinfônicos.

[11] A informação mais importante encontra-se no primeiro parágrafo, também chamado de lead, e as demais vão se seguindo em escala de importância nos parágrafos posteriores. Esse esquema em que as informações são apresentadas pela ordem decrescente de importância é um recurso utilizado para prender a atenção do leitor e também facilitar a edição da matéria, ou seja, corta-se pelo final, onde se encontram as informações menos relevantes para a compreensão da notícia.

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