Em uma manhã do início de outubro de 2017, a esforçadíssima Natália de Souza, estudante de jornalismo do Fiam-Faam Centro Universitário, havia sido uma das primeiras a chegar bem cedo, ao local onde o vereador Gilberto Natalini (do Partido Verde) faria uma palestra sobre meio ambiente. O esforço de Natália (tanto em acordar para ir àquela palestra, quanto em chegar mais cedo que outros alunos) acabaria lhe trazendo um inesperado e feliz resultado…
Como a jovem moradora do Canindé (Zona Norte de São Paulo) tem visão de águia e acaba percebendo as coisas bem antes dos demais – uma competência que todo jornalista deve buscar – ela vislumbra uma oportunidade e tanto: a de mesmo sendo tão jovem (à época, tinha apenas 19 anos) trabalhar no meio político; no gabinete do vereador Natalini, na imensa e luxuosa Câmara Municipal de São Paulo, na Bela Vista, Centro.
Ao final da palestra, Natália já se preparava para ir embora, quando se chocou com a assessora de comunicação do vereador — Luciana Feldman — que falava com um professor organizador do evento sobre o trabalho que já exerce há 20 anos. A jovem, rapidamente se lembrou de que guardava alguns currículos na bolsa, então se desatou a indagar: “por que não entregar meu currículo a ela? Um ‘não’ já tenho, mas tenho de ir em busca do ‘sim’”. Como estava já na metade da faculdade (4° semestre, 2° ano) Nat (como é conhecida pelos mais íntimos) não podia mais controlar a ânsia por um estágio antes do TCC… Então, educadamente aproximou-se de Luciana: “Oi, você pode analisar meu currículo”? Para desânimo de Natália, a assessora foi logo tratando de tirar seu cavalinho da chuva: declarou não haver vaga de estágio naquele momento, mas ela ia sim, dar uma olhada em seu currículo.
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Passaram-se duas semanas desde esse acontecido.
Natália já estava completamente desesperançada em relação à vaga de estágio desejada, quando recebeu uma animadora mensagem via WhatsApp: “Oi, lembra mim? Posso lhe entrevistar aqui no gabinete, semana que vem?”.
Conforme combinado, lá estava Natália, uma semana depois, vestindo roupa social, acompanhada de seu avô (“para dar aquela força moral”, como ela explica).
Nesse dia “o santo bateu”, como diz Nat. Luciana admitiu ter gostado dela logo de cara, e que gostaria muito que viesse ajudar no mandato do vereador. Mas teria de esperar até dezembro daquele ano, quando a outra estagiária se despediria de todos do gabinete.
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Assim, desde janeiro de 2018 que Natália é uma das estagiárias do gabinete do vereador, médico e ambientalista Gilberto Natalini (que já está em seu quinto mandato). Em suas redes sociais, vemos como Nat é engajada em relação aos ideais do vereador. Tudo quanto é passo dado, frase dita, ou campanha lançada, Natália acompanha e posta em seus stories no Facebook. “Gosto dos ideais do vereador. Ele é um dos poucos vereadores honestos, que cumprem com o mandato e apolítica. O que ele fala, ele faz. Não se trata apenas de conversinha de político”, diz ela.
Natália é uma das responsáveis pelos artigos publicados no site pessoal do vereador Natalini; pelo clipping (seleção de notícias sobre o vereador que circulam na mídia) e pela cobertura de eventos dos quais ele participa (como fotógrafa oficial, inclusive). Natália também recebe e-mails e ligações de moradores de diversas regiões, que vez-em-quando relatam algum problema grave em seu bairro (buracos a céu aberto, por exemplo) e a assessoria do Natalini envia a denúncia para a subprefeitura.
Por incrível que pareça (já com tanta experiência e proatividade) esse ainda é o primeiro emprego de Natália. “No jornalismo e na vida”, conta. Seu contrato de estagiária se encerra em dezembro de 2019, quando ela também termina a faculdade de jornalismo. E como acontece com a maioria dos estagiários depois que se formam: “Quando acabar acabou, né? Dificilmente um estagiário é efetivado aqui. Depende muito das demandas no gabinete etc”. Nat gostaria muito de seguir trabalhando com Natalini, não apenas porque se identifica com os ideais do vereador, mas também porque gosta do clima descontraído no trabalho (os estagiários ficam livres para usar celular e conversar alegremente em meio ao trabalho) e do ambiente político.
Quanto a seguir trabalhando em assessoria de imprensa, Natália já fica com o pé atrás. “Assessoria é bom e também é jornalismo, mas tem aquele porém: você fica preso à pessoa. Tem sempre de falar bem da pessoa, da marca ou do produto. Nós jornalistas temos um compromisso com a verdade, e é o que pretendo fazer: ser repórter e ir atrás dos fatos”.
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O esforço, a paixão e a dedicação de Natália pelo jornalismo são tão aparentes que ela acaba sendo recompensada frequentemente – do mesmo modo que conseguiu o estágio na Câmara, ao tomar iniciativa e chegar cedo em uma palestra. Os professores não se cansam de notar sua presença em tudo quanto é evento da Semana de Comunicação na faculdade.
Vira e mexe, Natalia é convidada diretamente pela coordenação de seu curso para participar de eventos (coberturas e palestras) fora da faculdade. Assim como no primeiro semestre de 2019, participou gratuitamente — e pela segunda vez – de uma conferência da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) só por ter feito na Câmara, um módulo do Projeto Repórter do Futuro — que funciona como um curso de extensão, que possibilita ao estudante: refletir mais sobre a área onde atuará e participar dos eventos promovidos.
O mais recente evento feito pela ABRAJI rendeu a Natália uma oportunidade única em sua vida de estudante: a de entrevistar e ser fotografada ao lado de jornalistas renomados e premiados, tais como: Vladimir Netto (vice-presidente da ABRAJI, repórter da Rede Globo e autor do best-seller sobre o juiz Sérgio Moro e a Operação Lava-Jato); Julia Duailibi (atualmente na Globo News e na Revista Piauí); Gabriela Coelho (do portal G1 e do Voz das Comunidades) e a “maravilhosa” Daniela Arbex, autora de aclamados títulos como Todo dia a mesma noite e Holocausto Brasileiro.
São oportunidades únicas que a jovem estudante, mesmo tendo um tempo tão curto, não deixa passar. “Porque sei que são importantes para mim, no futuro e no presente”, afirma.
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Natália é sem dúvidas uma das colegas mais talentosas da faculdade de Jornalismo. Isso não apenas por conta de sua dedicação no estágio e participação ativa em eventos dentro ou fora da instituição. Em sala de aula, ela também deixa claro seu esforço e interesse: sempre levanta a mão para perguntar algo ao professor ou complementar uma informação.
E além de aluna, jornalista e estagiária, Nat tem outra ocupação: representante de sala. Ou seja, é ela quem passa recados da coordenação para os alunos, ou vice-versa. Também tira dúvidas de seus colegas em relação às disciplinas e aos eventos na faculdade.
No início, logo ao ser votada pela maioria da turma, Nat ficou meio receosa por ser eleita a representante da classe; pois havia tido uma experiência parecida nos tempos de escola. “Eu era muito nova e não tinha gostado muito de ser representante. Então me perguntei: será que agora vai dar certo? E super deu… está dando até hoje”.
Natália gosta de ajudar os colegas de sala, inclusive a arrumar emprego: sempre compartilha no grupo da turma no WhatsApp, prints de vagas de estágio que ela vê publicarem na página “Vagas em Jornalismo”, no Facebook. “Se estivesse desempregada, gostaria que fizessem isso por mim. Então tento ser empática com meus colegas”, afirma.
Mas algumas atitudes dos colegas inquietam a representante. Exemplo: a falta de participação da maioria da classe nos eventos da faculdade. “O pessoal tem mania de reclamar de professor, mas deveria fazer sua parte”, afirma. Outra coisa que aborrece Natália em relação à sua turma (pelo bem deles, é claro) é a falta de interpretação textual, isto é: alguns alunos acabam perguntando o óbvio, mesmo quando a informação é passada com toda a delicadeza pela representante. “Isso é complicado! Nós jornalistas precisamos saber interpretar uma informação, ainda mais se estamos no último semestre.”
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Desde pequena, Natália já parecia demonstrar certo interesse pelo jornalismo: adorava assistir ao Jornal Nacional, ao futebol (é corintiana desde bebezinha, quando um tio a vestiu com um macacão da equipe do Parque São Jorge) e de ler e escrever. Sempre foi também muito curiosa, mas só em brincadeira que seus avós (com quem ela mora desde que nasceu) diziam que ela deveria se tornar repórter, pois “falava pelos cotovelos”… “Até hoje eu falo”, conta aos risos. Por isso, à princípio Natália não cogitava fazer Jornalismo, mas Direito (mesma formação de sua mãe, “A.P.”) ou Letras.
Mas no último ano da escola (Natália estudou no Colégio da Polícia Militar, onde viveu anos primorosos) a futura jornalista percebeu que essas áreas não a atraíam, não a instigavam como a Comunicação Social. Também recebeu um documento que lhe dava direito a fazer o vestibular gratuito para entrar no Fiam-Faam.
E já no primeiro semestre de faculdade, Natália percebeu que havia escolhido a profissão certa. “Eu já sabia que ia ganhar mal (risos) e de outros desafios que viria a enfrentar, mas acho que se a gente gosta da área e se identifica, não deve desistir”, afirma. “Nós sempre achamos que não podemos fazer tal coisa por sermos limitados e tal. Mas acho que se a gente estudar e ir atrás dos nossos sonhos, conseguiremos.
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O ano de 2019 representa o fim de um ciclo (que já dura quatro anos) na vida de Natália: ela se forma na faculdade de Jornalismo do Fiam-Faam Centro Universitário, que com certeza a deixará com muitas saudades. “Nem acabou ainda e já estou com saudades… O curso me amadureceu muito. Fez com que eu enxergasse um lado até então desconhecido em mim. E com muito carinho me lembrarei das reportagens e entrevistas que fiz, das palestras que assisti, das monitorias de que participei e dos professores”, desabafa.
O tema do TCC de Natália é interessante, socialmente impactante e está notavelmente ligado a seu trabalho na Câmara Municipal de São Paulo, no gabinete do vereador Natalini: Mulheres Paulistanas na Política. Como acontece com a maioria dos estudantes (em fase de planejamento do TCC) o tema surgiu de um incômodo: Natália percebeu que havia menos mulheres do que homens trabalhando na Câmara, e pior: descobriu que há uma lei de cotas, estabelecendo que hajam mulheres nos três poderes (legislativo, executivo e judiciário). Segundo Natália, a taxa mínima de vereadoras, deputadas e afins atuando na política tem de ser de 30%, e o máximo de 70%. “Tem um máximo?! Não deveria ter, mas tudo bem…”
No livro-reportagem feito por Natália para o TCC, haverá uma mescla entre perfil e fotografia. “Todo mundo gosta de foto e acho que ela deixa tudo mais atraente e menos cansativo para o leitor, com tanto texto”, opina a estudante, repórter e fotógrafa.
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Até o dia da nossa entrevista (que primeiro aconteceu no gabinete do Natalini, depois, em um dos corredores do prédio da faculdade) Natália já havia entrevistado a vereadora Soninha Francine, do CIDADANIA. No dia seguinte ao encontro, ainda ia à Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) tentar negociar uma entrevista com a deputada-estadual Erica Malunguinho, do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que estava prestes a fazer um debate com vários estudantes. Nat pretende ainda entrevistar e perfilar Janaína Pascoal (deputada estadual pelo PSL, Partido Social-Liberal) e Marina Helou (da Rede Sustentabilidade) para também discutir sobre projetos que visam a maior inclusão feminina napolítica.
“E está indo. Estou fazendo tudo com calma, para não ficar nervosa, pois sabemos o quanto é difícil. Mas espero que saia um resultado bom e que as pessoas gostem”, declara.
Crédito imagem da capa: Pixabay License
Capítulo do livro: Cidade: Centro & Periferia