Dores

publicado na Ed_14_jan/mar.2020 por

Como toda doença epidêmica, o abandono paterno também tem seus efeitos. Sigmund Freud, médico neurologista e psiquiatra criador da psicanálise, em sua obra “Luto e melancolia”, atribuiu às neuroses dos adultos traumas infantis. A extensão do dano decorrente do trauma, ainda segundo Freud, varia de acordo com a vulnerabilidade de cada indivíduo.

Freud falava sobre esse tema há décadas, mas hoje ainda são escassos os estudos (no Brasil) sobre os efeitos dos traumas infantis nos adultos, pelo menos quando se diz respeito aos adultos que sofreram abandono durante a infância. Ainda assim, localizei algumas pesquisas muito interessantes, como artigos científicos e monografias desenvolvidas em universidades brasileiras que tratam especificamente dos efeitos da ausência paterna na vida dos filhos.

Um estudo desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais, pelos pesquisadores Fábio Roberto Rodrigues Belo, Marcela Rêda Guimarães e Kaio Adriano Batista Fidelis, e intitulado “Pode um pai ser cuidadoso? — Crítica à teoria da paternidade em Winnicott”, aponta que o pai é responsável por construir, através de sua interação com o filho, a relação deste com o próximo e a relação que este tem em seu círculo social.

Os especialistas (não só deste estudo) atribuem ao pai a função de ser o primeiro “outro” da vida da criança, ou seja, a primeira pessoa além da mãe com quem a criança interage. Por ter essa atribuição, a relação com o pai se torna o alicerce, a base para a criança construir sua relação na sociedade, com o mundo exterior. A autoestima e o senso de valor da criança estão diretamente ligados a este “alicerce” oferecido pelo pai, que ao interagir com o filho, ajuda a gerar autoconfiança, independência e flexibilidade.

Já a ausência do pai no ambiente familiar tende a acarretar o oposto na personalidade dos filhos. Por não ter essa base fundamental na qual se firmar, os filhos podem ter em sua personalidade vários transtornos psicológicos, como baixa autoestima, sensação de inadequação, insegurança e desamparo, além de gerar dificuldade para se expressar com os outros “outros”.

Conversei sobre isso com Patrícia Manozzo Colossi, doutora e mestre em psicologia clínica e especialista em psicoterapia familiar e de casal. Aos 43 nos de idade, possui 19 anos de profissão. Ela orientou um dos poucos trabalhos que identifiquei, denominado “A ausência física e afetiva do pai na percepção dos filhos adultos”, trabalho de conclusão de curso feito por Camila Ceron Damiani para o curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

A pesquisa feita pela Dra. Camila sob orientação da Dra. Patrícia foi um estudo de caso, para o qual participaram quatro adultos com idade entre 25 e 40 anos, sendo uma mulher e três homens. Todos os participantes tinham como característica em comum a ausência do pai, sendo dois filhos de pais ausentes física e afetivamente, e dois filhos de pais presentes fisicamente, mas ausentes afetivamente (ou seja, pais que moravam na mesma casa que os filhos, mas que não demonstravam afeto por eles).

  A Dra. Patrícia contou que o motivo pelo qual esse estudo foi elaborado foi porque elas identificaram que existem diversos estudos sobre o efeito da ausência paterna nas crianças e em adolescentes, mas quando se fala dos filhos adultos, a pesquisa é escassa:

— Será que quando um adulto cresce, ele para de sentir a ausência paterna? Não, ele continua sentindo. Na verdade, ele se acostuma, ele não chora mais. Às vezes, ao longo do tempo, ele fez terapia ou terapias, às vezes passou por diferentes processos psicoterápicos e ele consegue então lidar melhor com isso, mas a ausência está ali.

A psicóloga exemplificou mais:

— Uma analogia que a gente pode fazer é pegar uma folha de papel e amassar. Amassa bem e depois desamassa. Mesmo que tu passes a ferro, ela vai ficar lisinha, mas as marcas estão ali.

Os resultados encontrados nesse estudo identificaram que questões como insegurança, dependência e instabilidade emocional se mostram relevantes na fase adulta (assim como aconteceu com estudos realizados em crianças e adolescentes). Também foi constatado prejuízo na conquista da autoestima, da autonomia, da separação da mãe (independência) e na formação de novos vínculos.

O que constatei nas entrevistas que fiz com filhos adultos que foram abandonados pelo pai, infelizmente, não foi muito diferente.

Suely

Suely (direita) e sua mãe (centro) em um dia na praia.
Foto cedida por Suely Vianna.

Suely Graberth Vianna é professora, tem 58 anos de idade, é mãe de dois filhos — Aline e Igor — e avó de Maria Eduarda.

Mas, antes de tudo, é a filha mais nova em uma família de nove filhos (mais um adotivo – filho de sua irmã mais velha). Quando criança, morou com sua mãe e seus irmãos. Nasceu em Brasília/DF e aos cinco anos de idade se mudou para São Paulo.

Seus pais se separaram no dia em que Suely nasceu, após mais de 20 anos de casados. Seu pai era alcoólatra e agressivo com sua mãe. Após a separação, a mãe de Suely (e seus filhos) permaneceram em Brasília por seis anos. Seu pai também permaneceu na cidade, mas não mais com eles.

Após algum tempo, o pai soube que eles se mudaram, descobriu o novo endereço da família e foi para São Paulo também. Começou a aparecer na casa de Suely, onde passava alguns meses, e depois ia embora:

— Ele era pedreiro. Enquanto ele estava sem trabalhar, era uma pessoa maravilhosa. Aí ele arrumava emprego e recebia toda semana, então ele já vinha da obra sujo e bêbado. Quando passava a bebedeira, ele tomava banho e ia para o bar encher a cara de novo. E isso durava meses. Era sempre na época de natal e ano novo que ele vinha. Quando chegava no carnaval, ele dizia: “eu vou embora dessa terra, eu vou para o coração do Brasil, eu vou para a cidade do carnaval”, e se mandava para o Rio de Janeiro, contou Suely sobre como foi boa parte de sua infância.

Os pais de Suely não conversavam, e ainda assim, a mãe de Suely nunca falou mal do pai para os filhos. Toda a percepção que ela teve sobre o pai se deu por conta do que presenciou (e de todo o tempo que ele passou longe dela e de seus irmãos). Ela não se lembra exatamente a quantidade de meses que ele passava em casa ou fora dela, mas ela se lembra que o pai sempre ia embora no carnaval.

Seu pai não a tratava mal. Era uma relação boa na medida do possível, mas não havia muito afeto. Suely sentia falta do pai quando ele não estava em casa. Quando entrou na adolescência, após ver muitos episódios tristes do pai alcoolizado e agressivo, preferiu se afastar dele.

A última vez que Suely viu seu pai foi alguns meses após o falecimento de sua mãe. Ele estava no Rio de Janeiro quando ocorreu, e ao voltar para São Paulo, soube da morte da mãe de seus filhos. Foi à casa onde eles moravam, ficou pouco tempo, mas chorou muito. Foi embora e nunca mais voltou. Após alguns meses, ele também faleceu. Suely acredita que foi de tristeza.

Sobre a sua própria personalidade, Suely se considera uma pessoa fraca e muito sensível, e acha que a ausência do pai pode ter influenciado essas características nela. Contou-me que sempre foi deprimida e muito insegura em tudo. Já passou por quadros de depressão e sofre de lúpus, doença inflamatória autoimune, que pode afetar órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro. A lúpus foi diagnosticada há cerca de oito anos, enquanto passava por um dos quadros de depressão.

Durante sua infância e adolescência, Suely era a “brigona” da escola. Não conseguia se impor de outra forma. Apesar disso, fez muitas amizades, pois havia muitas festas em sua casa. Seus irmãos mais velhos levavam os amigos para lá e ela considera que a adolescência foi uma fase boa. Ela gostava bastante de dançar, fosse nas festas em sua casa, fosse quando saía com os irmãos e amigos.

Já adulta e sendo professora, teve problemas de convivência com outros profissionais, se sentia excluída de grupos de professores, conforme contou:

— Eu estou ali para trabalhar, ganhar o meu dinheiro e esperar a minha aposentadoria. De dois ou três anos pra cá, eu mesma percebi que não preciso (deles). Ah: “quer almoçar comigo?”, tudo bem, eu vou. Não quer, tudo bem, eu não vou perder mais o meu apetite porque eu vou almoçar sozinha. Antes eu perdia, não vou mais perder não.

Suely acha que sua vida poderia ser diferente se seu pai tivesse sido mais presente, mas desde que ele não fosse alcoólatra:

— O fato de beber não quer dizer que você vai fazer mal para os outros. O problema é como ele ficava (em relação a perder o controle quando bebia). Se eu tivesse tido uma família com estrutura, acho que teria sido diferente, teria sido melhor, mais tranquilo.

Jéssica

Jéssica Milano Stefanovith Napi tem 28 anos de idade. Uma de suas principais lembranças da infância é de seu irmão mais velho, Ivan (eles têm doze anos de diferença de idade), fazendo-a dormir. Ele foi a sua referência de pai na infância. Outra memória forte sobre quando era criança é a de sua mãe fazendo de tudo por ela.  

Quando Jéssica ficava doente, era sua mãe e Ivan que a levava para o hospital. Eles dois e o outro irmão dela, Thiago (seis anos mais velho que Jéssica), eram a sua companhia em passeios.

O pai de Jéssica morou com eles até os seus onze anos de idade. Ela não consegue ter muitas lembranças dele. “Rola um lapso, eu tenho poucas lembranças do meu pai”, comenta.

Mas ela se recorda que ele nunca a levou para passear, ou a fez dormir, ou a acompanhou no hospital. Ele era alcoólatra. Jéssica se lembra que quando ela tinha cerca de quatro anos de idade, ele perdeu o emprego e recebeu uma boa rescisão, e com o dinheiro, montou uma “vendinha” na garagem de casa:

— Depois disso, e é aí que começam as minhas lembranças, ele pegava todo o dinheiro e gastava em bebida. Chegava muito, muito, muito bêbado em casa.

Após algum tempo, o pai de Jéssica conseguiu um emprego em uma dedetizadora, mas o vício permaneceu:

— Eu só lembro depois de chegar numa situação que eu e minha mãe tínhamos que ter uma bolsa térmica embaixo da nossa cama, porque o meu pai, se tinha alguma comida na geladeira, o que ele não comia, ele jogava fora. Ele não deixava nada de comida para a gente.

Jéssica não sabe o porquê seu pai fazia isso, e não se lembra de questionar sua mãe sobre o motivo.

E aqui me dou o direito de abrir parênteses. Foi difícil ouvir os relatos de Jéssica, carregados de tristeza. Quando comecei a pensar nos personagens para este livro, com essa temática delicada, sabia que não ia ouvir histórias fáceis, que não seria fácil encarar os sentimentos daqueles que foram abandonados. A história dela trouxe, além do abandono, os maus-tratos. O nó na garganta enquanto estava conversando com ela, e agora, enquanto escrevo, é inevitável. Qualquer ser humano sente.

Jéssica e a mãe dela sempre dormiram juntas. O pai dela dormia em quarto separado:

— Ele tinha uma fissura enorme pela minha mãe. Se eu estava na cozinha, e ele chegava do trabalho, ele não passava pela cozinha. Subia direto, porque a minha mãe estava no quarto. Ele não falava comigo. Normalmente o meu irmão mais velho estava trabalhando e meu outro irmão na rua, brincando. Mas comigo era assim. Ele chegava, falava com a minha mãe e não falava comigo.

Quando Jéssica fala sobre a fissura que o pai tinha pela mãe dela, é relacionada à obsessão. Ele era obcecado pela esposa, e apesar de neste período da vida não terem mais um relacionado afetivo, ficava o tempo todo (quando estava em casa) tentando se aproximar dela. Toda a atenção dele era voltada à esposa. Já a filha, ele ignorava.

O relacionamento dos pais de Jéssica acabou quando sua mãe estava grávida dela. Eles estavam com problemas sexuais, e durante uma conversa, o pai de Jéssica disse à esposa que “esse tipo de problema não acontecia quando ele estava com as outras”. A mãe de Jéssica não perdoou. Antes disso, os dois tinham uma relação “normal”. O pai de Jéssica foi um pai presente para os dois filhos mais velhos.

Depois disso, o pai de Jéssica não deixava a esposa trabalhar, sair de casa, pintar o cabelo ou usar uma calça jeans. Ela só usava roupas largas e ficava em casa.

Em 2001, mais especificamente no dia que o ex-presidente Lula ganhou o segundo turno, Solange, mãe de Jéssica, passou mal. Eles a levaram ao hospital, e foi diagnosticado que Solange estava tendo um infarto. Jéssica se lembra de chorar muito, e de seu pai chorar muito também. Solange chegou a ser dada como morta, o médico chegou a comunicar o pai de Jéssica que ia declarar o óbito, mas ela reagiu e conseguiram reanimá-la.

Jéssica tinha 11 anos de idade.

Solange passou alguns dias internada, e Jéssica teve tempos difíceis para lidar:

— Como eu sempre acompanhei muito a minha mãe, sempre soube lavar, passar e cozinhar. Eu não fazia, mas sabia fazer. Aí com minha mãe fora, não tinha ninguém para fazer. Eu lembro que no segundo dia que minha mãe estava internada, ele (pai) ligou aqui em casa e falou assim: “eu estou chegando aí. Vê se você já deixa uma panela de arroz pronta, porque eu vou chegar, comer, e te levar para o hospital. Se não tiver nada pronto e nem você pronta, você não vai para o hospital”.

Ela continuou a contar:

— Aí eu lembro que minha mãe tinha ensinado que, para ver se o arroz estava pronto, levantava um pouquinho a panela e se o arroz não desgrudasse, é porque estava pronto. Só que eu não tinha muita noção de peso, aí eu peguei e virei, e no que eu virei, o arroz caiu todo no meu braço. Tenho marca até hoje da cicatriz.

Jéssica me mostrou as marcas em seu braço, e prosseguiu:

— Ele chegou e eu estava em prantos, porque eu tinha me queimado, eu era uma criança. Aí ele mandou eu engolir o meu choro e arrumar logo as minhas coisas, presumiu que eu já tinha comido, e mandou eu arrumar tudo para ir ao hospital. Aí eu arrumei o que eu podia, soquei coisas na minha mochilinha e fui para lá.

Jéssica não voltou com seu pai do hospital, ela se escondia, não queria ficar com ele na mesma casa, porque começou a perceber que era maltratada. Sua mãe estava na UTI (unidade de tratamento intensivo), e ela ficava lá. Alguns médicos e enfermeiros permitiam e a ajudavam, e ela se escondia quando aparecia algum que pediria para ela sair de lá. Sempre pedia para ajudar os enfermeiros, dando banho e lavando o cabelo de sua mãe.

Quando Solange teve alta, colocou um basta na relação com seu marido, que não aceitou bem, o divórcio teve que ser feito por meios judiciais. O pai de Jéssica ficou na casa de Solange até o último dia do prazo limite para deixasse a casa, e só saiu quando Solange ameaçou chamar a polícia.

Após o divórcio, foi pouco o contato que Jéssica teve com seu pai. As vezes ele ligava para ela, alcoolizado, e falava coisas sem sentido:

— Já teve vezes de ele me ligar e perguntar quem estava falando. Respondia: oi, pai, é a Jéssica. Ele respondia: “que Jéssica? Não tenho filha chamada Jéssica”.

Quando Jéssica tinha cerca de 15 ou 16 anos, seu pai a levou para passear pela primeira e única vez:

— Ele me levou para comer batata frita no Habibs[1]. É a única lembrança boa que eu tenho dele. Ele me prometeu rios e fundos, que ia me ver, que ia me ligar e seria mais presente. E estava bom, era isso que eu queria, não queria mais nada.

Jéssica lembra que esse dia foi muito divertido, que eles riram bastante. Contou que até onde sabe, a mãe dela não cobrou pensão, e ele também nunca pagou. Mas para ela, não importava, ela só queria ter um pai.

Ela faz aniversário dia 18 de março, e em determinado ano (ela se recorda que foi após 2009), seu pai ligou no dia da mulher (oito de março) e prometeu que a levaria para sair no dia do seu aniversário. Jéssica falou para todos os amigos e para o namorado que não sairia para comemorar com eles, porque seu pai a levaria para passear, e ela não ficava com ele há anos.

— Eu me arrumei, eu me aprontei. Fiquei esperando. Ele não apareceu.

Algum tempo antes, houve um dia que ligaram para a Jéssica porque o pai dela estava jogado na sarjeta, e quem o encontrou, viu o telefone dela anotado na carteira dele. Tinha um bilhete escrito “filha Jéssica”. Nessa ocasião, ele foi internado compulsoriamente numa clínica de reabilitação.

Jéssica e o irmão mais velho pagavam a internação dele. Ele passou cerca de um ano na clínica, alguns meses como paciente, os demais como funcionário (recebia pagamento para ajudar nas tarefas da clínica).  

Nesse dia do aniversário da Jéssica que o pai não apareceu, à noite, ele ligou para ela, muito alcoolizado, e pediu para ela dizer para a dona da clínica que ele passou o dia com ela, caso ela ligasse. Falou que ele iria vê-la no dia seguinte, que seria a sua folga.

— Aí eu falei: “não, você não precisa vir me ver. Não quero. Eu me aprontei, eu não quis passar o dia com ninguém, porque eu ia passar o dia com você. Faz anos que a gente não tem isso, e você me promete e não aparece?”.

Depois disso, Jéssica não quis mais contato, chegou a bloquear o número do pai no telefone.

Em 2015, voltou a falar com ele. No fim do ano, ela estava planejando um intercâmbio para a Austrália, e faltava R$ 400,00 para terminar de pagar. Ela sabia que as condições financeiras do pai estavam boas (ele havia se tornado bicheiro na cidade de Embu das Artes), e como ele nunca a havia ajudado financeiramente, pediu ajuda para ele, que garantiu que daria o dinheiro, mas não pagou.

Jéssica conseguiu pagar, e no início de 2016, quando tinha 25 anos, fez o intercâmbio. Quando voltou, seu sobrinho (filho de Ivan) estava fazendo aniversário — Ivan foi o único filho que permaneceu próximo ao pai. Ele não presenciou os fatos narrados anteriormente, pois quando morava com os pais, trabalhava e só chegava tarde. Logo casou e se mudou. Então não teve a percepção sobre o que estava acontecendo na casa de sua mãe —, e na festa, o pai de Jéssica espalhou para toda a família que ele deu o intercâmbio de presente para a filha. Isso gerou uma grande briga entre eles, Jéssica o desmentiu na frente de todos, e seu pai disse que sempre achou que ela não era sua filha.

Transparecendo reviver o desapontamento, Jéssica relembrou o que respondeu a ele:

— Então tá bom. Você deveria ter falado isso antes, porque eu não me dava o trabalho de correr tanto atrás de você, se você acha que eu não sou a sua filha.

Jéssica não se conformou:

— Eu sou muito mais parecida com ele que com a minha mãe.

Mesmo assim, Jéssica chegou a questionar sua mãe sobre o comentário do pai:

— Ele não tem que fazer o papel de bom pai para os outros, ele tem que ser um bom pai para mim. Seria muito mais fácil ele ter me falado que não teve condição de me ajudar, mas quisesse saber se eu fiz uma boa viagem. Ele não me ligou para me desejar uma boa viagem, ele não quis saber o porquê eu estava indo fazer o intercâmbio, se eu estava indo para passear ou não, se eu estava indo para estudar ou se eu não estava. Ele não foi no aeroporto me dar tchau. Ele não sabe que dia eu fui ou que dia eu voltei. Aí eu perguntei para ele: “cara, por quê?”, e foi aí que ele respondeu que acha que eu não sou filha dele.

Esse dia foi o “xeque-mate” na relação quase inexistente que Jéssica tinha com o pai. Foi então que ela decidiu que definitivamente não queria mais saber dele. Jéssica chorou muito, ficou muito magoada.

Bom, voltemos a falar do período pós-divórcio dos pais de Jéssica. Solange, após algum tempo, conheceu o Sr. Anielo, com quem começou um relacionamento e com quem está até hoje. Nele, Jéssica encontrou todo o carinho que nunca tinha recebido do pai.

Da direita para a esquerda: Jéssica, Sr. Anielo e sua filha biológica.
Foto cedida por Jéssica Milano.

Na primeira vez que Jéssica o viu (no primeiro encontro dele e de sua mãe), ela tinha cerca de doze anos de idade. Eles foram ao Parque do Ibirapuera. Ele ofereceu um sorvete para Jéssica, e ela estranhou. Não sabia que alguém poderia simplesmente dar um sorvete assim, do nada.

Anielo pediu para ela escolher o sabor e ela procurou pelo mais barato, sabia que o doce “valia dinheiro” (como ela mesma descreveu). Ele percebeu a escolha, ofereceu outra opção de sorvete (um “Chambinho”) e pediu para ela não se preocupar. Mesmo assim, Jéssica ficava oferecendo o sorvete para ele toda hora, pois não conseguia entender que o sorvete era para ela, que era um presente.

O Sr. Anielo é pai socioafetivo de Jéssica, oficialmente. Fez o reconhecimento dela como sua filha em 2018. Jéssica, que até então era “Jéssica Milano Stefanovith”, aos 27 anos, recebeu o sobrenome “Napi”, de seu pai de coração.

Na certidão de nascimento atualizada, agora Jéssica tem uma mãe, dois pais e seis avós.

No dia 3 de dezembro de 2018, o pai biológico de Jéssica faleceu. Ele foi internado e Jéssica tentou vê-lo, mas seu irmão (Ivan) impediu, pois o estado em que o pai estava era muito impactante.

Nesse período, Jéssica estava fazendo tratamento contra a depressão que enfrentava. O irmão tê-la impedido foi uma forma de protegê-la.

O pai de Jéssica estava com trombose nas duas pernas. Se tivesse sobrevivido, teria que amputá-las. Também estava com problemas graves no pulmão e cirrose.

O sepultamento ocorreu no dia 4 de dezembro. Durante o tempo inteiro do velório, Jéssica ficou em pé ao lado dele.

Aos prantos, ela me contou o que sentiu. Percebi que não havia rancor no que Jéssica estava falando, mas a mais pura e genuína tristeza.

Contou que colocava a mão na cabeça dele e falava:

— Eu te perdoo, para você ter uma passagem boa, tranquila. Mas eu não aceito. Eu não aceito tudo o que você deixou de fazer para mim, mas eu te perdoo. Você tem que ir bem para o céu, você tem que ir para o céu.

— Ele tinha as razões dele para me tratar daquele jeito, que eu não entendo até hoje. É uma resposta que eu queria, mas eu não vou ter.

A dor de uma filha que não teve e nem terá respostas é avassaladora. De todos os efeitos da epidemia social que mencionei algumas páginas atrás, esse talvez seja o mais dilacerante.

A lacuna que a ausência física do pai causa na vida de um filho é imensa. O pai ter estado presente fisicamente durante parte da vida da filha, mas sempre ter sido ausente afetivamente, e ainda tê-la maltratado, é fato passível de vários questionamentos para quem escuta (ou lê) essa história. Imagine então a quantidade de perguntas sem respostas que quem viveu isso tem. Imagine não ter mais quem as responda.

Ela continuou a narrar o que sentiu naquele dia, e falou sobre sua esperança de que mesmo em outra vida, seu pai seja uma pessoa melhor:

— Eu acredito em reencarnação, eu acredito no espiritismo. Então eu acho que ele tem que ir para o céu para poder voltar, e ser uma pessoa melhor, aprender que isso ele não deve fazer para ninguém.

Jéssica contou que durante o velório, os amigos de seu pai chegavam e perguntavam: “você que é a bonequinha do pai?”. Eles disseram que seu pai sempre falava sobre ela, e comentaram que ela nunca apareceu. Nisso, Jéssica respondeu: “ele nunca apareceu para mim”.

Em determinado momento uma moça chegou ao velório, chorando muito e falando “a sua filinha veio aqui te ver”, se referindo a ela própria. A moça chegou a dizer para Jéssica que ele era um pai para ela, que cuidava dela e a ajudava sempre, que dava conselhos. Ou seja, de fato, fazia o papel de pai para uma pessoa que Jéssica nunca tinha visto na vida.

É possível imaginar como isso machucou Jéssica.

Na hora do sepultamento, a moça começou a falar: “vai com Deus paizinho! Pai, pai, pai. Ele me chamava de filha, ele me chamava de filha”, e isso foi a gota d’água para Jéssica, que preferiu ir embora:

— Eu me lembro que eu abraçava o Henrique (marido de Jéssica) e falava: “eu não sei por que, eu não sei por que ele fazia isso. Como ele tinha alguém como filha que não era eu?”.

Antes do falecimento de seu pai biológico, Jéssica já sofria de depressão e crises de pânico. Com o tratamento, foi diagnosticado que o gatilho principal foram problemas profissionais.

Jéssica sempre teve independência financeira, principalmente por conta dos problemas do pai dela com sua mãe. Começou a trabalhar aos 15 anos de idade. Ela também sempre foi muito estudiosa e obstinada a ser a melhor aluna da sala. Hoje, Jéssica é advogada, passou no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) antes de terminar a faculdade de direito.

Em um dos escritórios onde trabalhou como advogada, foi discriminada pelos colegas por conta da faculdade na qual estudou (era política da empresa contratar apenas pessoas formadas na USP, PUC ou Mackenzie, e Jéssica não se formou em uma dessas faculdades). Em determinado momento, após muitos questionamentos e comentários preconceituosos por conta de sua formação, começou a duvidar de sua própria competência, achava que não era capaz de nada.

Ela mudou de emprego, mas a falta de confiança permaneceu.

Após algum tempo, passou a trabalhar como autônoma com seu marido (que também é advogado), e a falta de garantias que o trabalho autônomo traz (em relação a não saber se conseguirá clientes, se conseguirá se manter financeiramente etc.) piorou a insegurança que Jéssica estava sentindo, o que a sobrecarregou emocionalmente, principalmente porque ela se viu dependente do marido, sendo que ela cresceu sendo independente nas questões financeiras.

Então, começaram as crises de pânico e a depressão foi diagnosticada.

Aos 28 anos de idade, Jéssica não sabe se o relacionamento conturbado com o seu pai ao longo de sua vida interferiu em relação às doenças que ela teve:

— A gente não sente falta do que não teve. Se você me perguntar se eu sinto saudade dele, a resposta é não, eu não sinto. A questão é querer saber o porquê ele era assim comigo.

Durante o tratamento, a terapeuta de Jéssica tentou ir a fundo nas questões relacionadas ao abandono paterno, mas Jéssica sempre afirmou que isso não a afetava:

— Me emociona falar do dia da morte dele e daquela pessoa, daquela menina que chegou e falou que ele a tratava como filha. Aquilo me toca. Mas não que eu ache que seja um gatilho (para a depressão). Talvez se eu fizer uma terapia mais intensiva ou algo mais assim eu possa perceber que isso seja um bloqueio que eu coloco e que eu não queira acreditar que isso seja um gatilho. Mas hoje eu acredito que não é um gatilho.

Luis Paulo

Luis Paulo Shiniti Sato tem 29 anos e é professor de inglês. Nasceu em Embu das Artes/SP, onde passou toda a infância e adolescência. Seu pai foi embora quando ele tinha poucos meses de idade.

O pai de Luis é descendente de família tradicional japonesa, e seus avós paternos não aceitavam o relacionamento dele com Mara, mãe de Luis, que não tinha a mesma descendência.

Mara ficou grávida aos 15 anos, seu namorado tinha cerca de 21 e era pressionado pela família a deixá-la. Ainda assim, Paulo, o pai biológico de Luis, morou com Mara durante toda a gravidez e registrou seu filho. Três meses depois do nascimento, foi embora (acabou se mudando para o Japão), deixando o filho e a esposa, uma adolescente, à própria sorte[2].

A família de Paulo, como é de se esperar, não apoiou Mara, que teve que entrar na justiça para pelo menos ter a pensão alimentícia paga.

Até os 4 anos de idade, Luis morou com sua mãe e sua avó, e eles sempre foram muito próximos e apegados. Sua avó e bisavó (maternas) ajudavam com tudo o que podiam (financeira e emocionalmente). A família de sua mãe morava toda próxima, então Luis tinha seus primos sempre por perto, com quem costumava brincar.

Quando Luis tinha 4 anos de idade, Mara conheceu Jaime, com quem vive até hoje e é pai de consideração de Luis:

— Eu não me lembro muito bem como foi antes disso.

Luis conta que quando sua mãe começou a namorar seu pai, houve uma certa resistência de sua parte, mas que depois eles foram morar juntos, e se recorda de ter sido uma experiência muito legal, e ao mesmo tempo assustadora. Quando Luis morava com sua avó e sua mãe, tudo era voltado para ele:

— Eu era muito mimado, comenta.

Com a mudança e uma pessoa nova na família, houve toda uma transformação em sua vida:

— Eu já gostava muito dele (Jaime) antes, sempre foi muito legal comigo. Ele tentava muito ficar próximo a mim, e conseguia. Sempre me levava para passear, sempre comprava coisas para mim. Ele me ganhou assim, no começo. Eu gostava muito dele. 

Luis considera que sua infância poderia ter sido mais leve:

— Acho que eu esperava muito dos meus pais. Eles pecaram pelo excesso, porque foi muita cobrança, muita exigência em relação a mim, em relação às coisas da vida de uma forma geral, muita cobrança de responsabilidade para uma criança.

Houve problemas financeiros e emocionais na casa de Luis durante sua infância, o que talvez tenha intensificado essas cobranças que mencionou. Foi um período conturbado, cheio de instabilidades que talvez tenham afetado a forma como Luis foi criado e que fez com que ele tivesse uma percepção de grandes responsabilidades desde cedo.  

Sua adolescência também foi conturbada. Ele e seu pai de consideração passaram a se enfrentar. Luis contou que Jaime era bastante rígido, que muitas vezes o tratava com grosseria (“na base do xingo”) e não sabia conversar com ele, o que acabava gerando esses conflitos entre os dois:

— A gente já tem os problemas de adolescente, é tudo muito exagerado. Então eu me sentia bem mal, às vezes.

Durante a adolescência, Luis também se sentia muito deprimido e com uma raiva acima do normal, e que talvez essa tenha sido a parte mais difícil da vida. Seu depoimento sobre essa fase foi feito com o olhar para o chão, e tons de tristeza:

— Eu era muito reprimido, então na adolescência eu sentia isso muito forte e ficava muito chateado, muito revoltado. Minha tristeza era agressiva no sentido de querer bater nos outros, de querer me matar, matar os outros. Embora rápida, era bem volátil, mas era muito intensa. Era vontade de agredir, seja fisica quanto verbalmente. Não era uma depressão de tristeza, era uma depressão violenta assim.

Em casa, Luis também viveu um período muito conturbado. Seus pais estavam tendo que lidar com problemas financeiros, e ele se recorda bem sobre como sentia que não estava indo tudo bem:

— Foi uma época de muitas mudanças. A gente sempre mudava de casa, e cada vez que mudava de casa, as condições financeiras também ficavam mais difíceis. Então foi bem turbulenta a minha adolescência, de uma forma geral. Tanto pela questão financeira quanto pela questão emocional, porque eu acho que carrego muitos traumas, os quais estou tentando resolver agora.

Sobre os traumas, Luis se considerava uma pessoa muito insegura, retraída, contida. Ao falar sobre isso, os olhos voltaram a observar o chão, mas foi um desabafo:

— Sempre estava com vontade de gritar, mas retinha tudo. Retinha assim, porque eu, não sei, não conseguia expressar, sabe? Acho que é por isso que eu brigava bastante com o meu pai. Porque ele sempre me cobrou muito de eu falar as coisas pra ele, mas eu não queria falar. Como eu ia chegar nele e falar assim “você é grosso”, né? Não tinha coragem.

E continuou:

— Acho que era por conta disso que eu ficava muito retraído, porque se eu fazia alguma coisa de errado, ele não chegava e conversava. A minha mãe chegava assim às vezes, tanto que eu recorria a ela, minha mãe sempre me deu bastante suporte. Mas sempre que eu fazia alguma coisa de errado, sempre que não era do jeito que meus pais queriam, ele era bem grosso. Era aquela porrada… não física, era aquela porrada psicológica. Então eu acho que veio daí, alguns traumas… o fato de eu ter tido essa personalidade retraída nessa fase, sabe? 

— Eu cresci ouvindo tanto que eu não demonstrava amor e carinho. Sabe esse “tem que”? De alguma forma eu acho que acabei ficando assim.

Quando Luis tinha 8 anos, sua irmã, Lylandra, nasceu. Não foi muito fácil para ele, porque os dias que sua mãe passou fora de casa (na maternidade) pareceram uma eternidade, e como criança, sentiu muita saudade. Além disto, Luis teve bastantes ciúmes. Até o nascimento de Lylandra, ele dormia no quarto com os pais. Quando a irmã nasceu, teve que mudar de quarto para que a bebê dormisse com eles.

— Eu não queria dormir sozinho, queria dormir com a minha mãe. Eu tinha muito medo de dormir no quarto sozinho, dava muito trabalho para eles, porque eu chorava bastante.

Foi um período de “separação” para Luis, que teve que encarar a novidade de ter uma irmã e aprender a controlar os ciúmes.

Contou, rindo e um pouco sem graça:

— Foi quase um luto.

Sobre suas amizades, Luis considera que teve mais amigos que colegas. Seus relacionamentos foram duradouros, optou por ter menos pessoas por perto, mas que passassem mais tempo ao seu lado. Seus amigos foram um refúgio, principalmente no período que compreendia a puberdade.

— Na adolescência meus amigos foram uma rede de apoio, eles sempre me abraçavam, abraçavam a causa. Eu sentia isso, me sentia acolhido.

Luis é casado há três anos com Bianca (de namoro, são quatro anos). É pai de dois filhos, Athena e Gael.

Gael nasceu exatamente uma semana após a nossa conversa.

Assim como as amizades, seus relacionamentos afetivos sempre foram duradouros, nunca passou apenas alguns meses namorando alguém.

Luis e sua filha, Athena.
Foto cedida por Luis Paulo Shiniti Sato.

Apesar disso, Luis tem bastante dificuldade de se envolver emocionalmente. Contou que muitas de suas relações já foram mais superficiais, porque ele era um tanto quanto desapegado:

— Depois que eu fui morar com a Bianca (sua esposa) e tive filho é que eu mudei bastante. Em relação ao comportamento mesmo, às amizades, relacionamentos… tudo mudou bastante.

Perguntei o que ele queria dizer com “desapego”:

— Sobre o desapego, eu não me envolvia emocionalmente com ninguém, nem no grau da amizade. Era muito difícil, pra falar a verdade. Até hoje é um pouco difícil me envolver, é um pouco difícil. Embora, eu consiga, mas é difícil. Talvez seja por isso que eu tenha tido poucas amizades, porém, as amizades que eu tive foram muito significativas, porque é difícil eu me relacionar, mas quando eu me relacionava era mais profundo.

Luis passou a tentar trabalhar suas emoções há pouco tempo. Percebeu que há traumas e sentimentos que sobrecarregam a forma como vive, que sempre teve uma autodefesa emocional muito forte, e não conseguia atribuir esses fatores a nada. Começou a estudar terapia holística (alquimia floral) e percebeu que possivelmente existem questões de sua vida, desde a sua concepção, que podem ter desencadeado seu modo de ser e tudo o que sente. Atualmente, vem procurando respostas:

 — Há um medo de me magoar muito grande, de me decepcionar, de me entristecer.

O pai biológico de Luis o visitou uma vez, quando ele tinha cerca de três anos de idade. Luis ainda morava com sua mãe e sua avó. Após isso, nunca mais apareceu.

As poucas vezes que Luis entrou em contato com o pai biológico foram por conta de questões burocráticas, jurídicas.

Luis teve vontade de contatá-lo, de vê-lo, quando tinha cerca de 19 anos de idade, mas desistiu da ideia:

— Foi por influência externa também, dos meus pais. Mas não foi por mal, foi para me proteger. Eles se doeram muito por mim a vida inteira. Principalmente o meu pai, ele se dói por mim até hoje.

Sobre a ausência de seu pai biológico, Luis não sabe dizer se fez falta em sua vida:

— Eu acho que não tive espaço para isso. Não é culpa dos meus pais, mas eles sempre me privaram muito disso. Tipo: “ah, esquece o seu pai, ele não é seu pai”. Então acho que eu não tive nem espaço para sentir falta, sabe? Nem para pensar nisso, para falar a verdade. Eu não tive espaço não.

Apesar disso, Luis analisa que o medo de ser deixado pode ter sido uma causa para sua autodefesa emocional:

— Talvez o medo de ser deixado tenha feito eu me defender tanto a vida inteira, sabe? Essa defesa era automática, tanto que o meu pai e minha mãe sempre reclamaram muito disso, eles sempre falavam que eu estava em posição de ataque. Recentemente mesmo, ele falou isso para mim de novo, no mês passado. Ele falou que eu sou muito defensivo.


[1] Restaurante de rede de fast-food

[2] Voltaremos a falar sobre a família de Paulo no capítulo 4.3

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Crédito imagem da capa: Pixabay License

Capítulo do livro: Você que não me viu crescer: Os efeitos do abandono paterno na vida dos filhos adultos

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