Democracia: A propaganda agora é outra
O Brasil ainda vivia um Regime Militar no ano de 1982, e agora o país está no seu 30º presidente, o General João Figueiredo, sucessor do temido Ernesto Geisel, tempos diferentes de anos passados, debates políticos voltavam a ser permitidos na televisão, uma forma mais vulnerável no congresso atrai candidatos não militares. No futebol, a Seleção Brasileira iria a disputa da Copa do Mundo na Espanha, mas uma derrota para a Itália marcava o medo do nome Paolo Rossi para o torcedor verde e amarelo, a considerada até dias atuais a seleção de ouro, o melhor elenco de todos, perdia o sonhado tetra, futebol e regime não caminhavam mais juntos.
Porém, um movimento que iria confrontar ideais militares, forma de governo e de vida da sociedade em geral, começara a surgir em São Paulo, dessa vez não um movimento protestante das ruas e sim dentro de um dos maiores clubes do Brasil.
Sport Club Corinthians Paulista
Fundado em 1910 no bairro do Bom Retiro em São Paulo, inspirado no time Corinthian-Casuals da Inglaterra que fazia um tour pelo país, era feita a criação, Corinthians Paulista, o time que derrubou barreiras e questionou a elite do futebol nacional, em pouco tempo era campeão paulista, quatro anos após sua fundação e confrontava uma difícil época em que o povo não tinha tanto acesso às partidas do esporte. Logo o Corinthians ganhou força, era conhecido nos quatro cantos do Brasil, com o passar dos anos foi se agigantando cada vez mais e se consolidando dentro da modalidade e, adjunto com o carioca Flamengo, tinha a maior torcida do país.
“O time do povo” denominado por todos, rivais e amantes do clube, com a torcida dos mais humildes, a simplicidade e a força de vontade, raça e garra sempre marcaram o torcedor corintiano, conseguiu grandes feitos como a famosa invasão do Maracanã em 1976 e o título mais expressivo do século, o Campeonato Paulista de 1977, com o recorde de público da história do estádio do Morumbi, de seu rival paulista. Sendo um time do povo, que sempre lutou por si, pelo esporte e pelas ideias do povo, foi no Corinthians que um dos maiores movimentos esportivos de luta social do Brasil foi criado, em meados de 1982 nascia para o mundo a Democracia Corintiana.
Os Personagens Democráticos
Para entender o que foi a Democracia Corintiana precisamos saber quem foram seus personagens e o momento em que eles apareceram. No Corinthians, o comando era por conta de seu folclórico presidente Vicente Matheus, empresário espanhol com naturalização brasileira, uma hegemonia dentro do clube, Matheus teve oito mandatos não consecutivos como presidente do Corinthians, muitas das vezes utilizou recursos financeiros de seu próprio bolso para ajudar o time, deixou a presidência por conta do estatuto do clube, devido números de vezes que poderia ser eleito. É neste momento que a história começa a ser escrita. Vicente Matheus indica Waldemar Pires para a presidência do clube na intenção de continuar, mesmo que de fora, tomar decisões dentro do Corinthians. Waldemar vence as eleições para a presidência do clube em 1981.
Waldemar Pires em pouco tempo afastou Matheus completamente da chapa que venceu as eleições naquela ocasião, e trouxe para a diretoria do Corinthians seu confiável elenco de diretores. Estudado, Pires se uniu aos nomes mais importantes conhecidos pela Democracia. Adilson Monteiro Alves, o barbudinho sociólogo, novo, com fome de luta, era integrado ao Corinthians, mesmo sem entender absolutamente nada de futebol.
O nome principal de todos esses já residia no Corinthians, integrava o elenco profissional do time, Sócrates Brasileiro, jogador que iniciou sua carreira no Botafogo de Ribeirão Preto, até hoje é o maior ídolo do clube, formado em medicina ganhou o apelido de Doutor Sócrates, foi contratado pelo Corinthians em 1978, fez 298 jogos e 172 gols com a camisa do alvinegro. Sócrates era diferente de outros atletas, lia muito, era inteligente e jogava de um jeito que encantava os olhos de quem o via jogar, desde o menino na rua ao jornalista esportivo, muito estudado, foi um dos principais líderes da Democracia Corintiana e ativista do movimento Diretas Já. Magrão, como era conhecido por familiares e pelo elenco corintiano, deu início à seletiva de quem iria junto a ele lutar por Democracia dentro dos campos pelo Brasil a fora.
Os principais nomes de jogadores do Corinthians a se juntar e fazer parte do movimento foram o do lateral Wladimir, o jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube paulista, foram 806 vezes em campo pelo alvinegro. Casagrande, revelado no clube paulista, fazia parte da linha de frente da Democracia, era um jovem rockeiro e gritava por revolução. O jornalista Juca Kfouri vencedor do prêmio ESSO de jornalismo 1982, com marcas expressivas no jornalismo investigativo no esporte, se juntou a Sócrates e companhia para engajar o plano democrático corintiano. Em tempos em que o futebol era utilizado como propaganda, um dos principais nomes extracampo foi o do publicitário Washington Olivetto, corintiano e na época vice-presidente do Corinthians. Estava consolidado, o futebol realmente não era brincadeira, a Democracia Corintiana estava com seu time revolucionário em campo.
Celso Unzelte, historiador do clube, comenta seu ponto de vista sobre o momento em que a Democracia Corintiana entra em foco:
“A Democracia Corintiana era parte de um contexto maior, se falava de redemocratização em todo Brasil, nas escolas, sindicatos, no trabalho e principalmente no Futebol. A grande diferença era os objetivos da sociedade, o movimento da Democracia Corintiana foi muito específico de uma época, era parte de um todo. A Democracia foi um movimento de anseio por liberdade, num contexto com uma sociedade pedindo maior participação.”
A Democracia parte de um momento político sério e que algo precisava ser feito e um gigante como o Corinthians só teria a crescer ainda mais com tais feitos, mesmo se opondo a atual gestão do país.
Sócrates atuando pelo Corinthians com a camisa “Dia 15 vote” – Reprodução Imortais do Futebol
O crescimento democrático corintiano
Logo que se consolidou a Democracia Corintiana, se visava à autogestão, com decisões colaborativas, onde todos tinham voz, na verdade uma só voz fazia o Corinthians, todas as decisões envolvendo a entidade eram tomadas em conjunto, por meio de um democrático sistema de voto. Hora da viagem, se haveria concentração, novos dirigentes e jogadores, entrevistas, uniforme e até as rendas (o famoso bicho esportivo) que eram divididas igualmente entre os atletas que entravam em campo. Nessas decisões exatamente, todos faziam parte e eram considerados iguais dentro do clube não importando classe ou cargo. O roupeiro, massagista, jogadores e os engravatados dirigentes e sócios tinham o mesmo peso nos votos pelas decisões do que aconteceria no momento e assim por toda sua extensão de campeonato, o Corinthians era um clube participativo.
Coisas como as de jogadores casados não concentrar e do direito de cada jogador de fazer o que quisesse com sua imagem como a de ingerir bebidas alcoólicas e fumar em publico, participação em filmes da época, tudo era votado, até a saída de alguns jogadores. Os atletas Rafael, ex-Coritiba, e Paulo César Caju foram afastados, talvez pelo apoio ao ex-presidente Vicente Matheus, mas o grupo não pensou duas vezes, em unânime decisão de afastar os atletas.
A sede por luta e justiça social era clara, a Democracia não derrubou o Regime Militar no Brasil, mas fez parte de uma engrenagem entre tantas outras de oposição, liberdade e revolução. O Corinthians era então utilizado como propaganda política, dessa vez o futebol ia contra os governantes, o time passa a entrar em campo com publicidades de seu movimento, tudo era votado como sempre e criado pelo publicitário Olivetto, como as inserções de escritas na camisa, o logo do movimento e, principalmente, as faixas que os jogadores levavam ao entrar em campo. A parceria com a cantora Rita Lee e com o diretor Boni, que era um grande influenciador de mídias, logo difundiu o movimento para o país todo e o crescimento iria refletir dentro de campo.
Time do Corinthians entrando em campo com o lema da Democracia Corintiana - Foto: Irmo Celso
“Ser campeão é detalhe…”
Esta famosa frase que embalava os vestiários do Corinthians em 1982, por muitas vezes entoada nas entrevistas na saída do campo, foi criada junto ao movimento que residia no clube. O Corinthians tinha feito uma péssima campanha no Campeonato Paulista e no Brasileiro, disputando naquele ano a Taça de Prata, isso era inaceitável para a torcida e no ano seguinte com um time amado e temido, que jogava muito bem, tudo deveria ser diferente, “Ser campeão é detalhe”, pois a luta que o time trazia quando entrava em campo, pela liberdade fora dele, era mais importante naquele momento, mas tudo caminhava tão bem que o Timão chegaria ainda mais alto.
O técnico escolhido para comandar o Corinthians durante este período da Democracia foi Mário Travaglini, com um jeito diferente de se pensar sobre futebol e métodos de treino, era o ideal para o posto de comandante do esquadro alvinegro. Travaglini é considerado até hoje por muitos personagens ligados ao esporte, um dos indutores do futebol moderno no Brasil. O democrático Corinthians sagrava-se campeão paulista de 1982, o slogan principal dessa empreitada era “ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. O time daquele campeonato era o mais bonito de se ver jogar e fora de campo o mais participativo nas questões políticas.
O elenco campeão de 1982 tinha como peças principais de seu elenco: Solito, Alfinete, Zé Maria, Mauro, Daniel Gonzáles, Wladimir, Paulinho, Sócrates, Zenon, Eduardo, Ataliba, Casagrande e Biro-Biro. O time que jogou a final e venceu o São Paulo por 3 gols a 1 no estádio do Morumbi.
Em 1983 o Corinthians precisava se reforçar para a disputa de mais uma temporada difícil que viria pela frente, muitos dirigentes de clubes desaprovavam a forma politizada como a que os corintianos tinham naquele momento, contratações eram mais difíceis, mesmo que alguns jogadores de outros times demonstrassem apoio e interesse de jogar no clube do Parque São Jorge. Já existia muita oposição ao movimento corintiano e mesmo com o envio dos formulários aos militares, passaram muitos nomes sem uma declaração prévia. Com a chegada de novos jogadores, sendo alguns deles favoráveis ao atual momento do país, seria mais fácil ficar longe dos olhos do governo. Alguns atletas tinham em mente que a Democracia Corintiana só possuía democracia no nome, uma oposição dentro de um movimento que também em sua função era lutar contra o Regime Militar.
Celso Unzelte comenta sobre a situação momentânea do clube naquele instante:
“A Democracia Corintiana, é movimento polêmico, quem foi ou ainda é a favor, defende aquilo com unhas e dentes, como se aquele fosse o movimento mais puro do mundo. Quem foi ou ainda é contra, nega sua existência. Eu não me refiro só ao Emerson Leão, que entre os jogadores era o principal opositor, mas me refiro a dirigentes de futebol, que inclusive alguns estiveram até recentemente no poder.”
Justamente um dos nomes citados foi sem duvida o mais inquieto no meio dessa revolução, Emerson Leão.
Adilson Monteiro Alves: “Eu perguntei a quem conhecia o Leão, o que achavam de trazer o Leão. Sócrates, Wladimir, Zenon, Zé Maria, Mario Travaglini. Então fui e contratei, aqui está o Leão, arrogante, orgulhoso, mascarado, prepotente, desbocado, personalista, mas era um grande goleiro, um grande jogador de futebol e a partir de hoje nosso goleiro”, em entrevista ao documentário Democracia em preto e branco, de 2014.
“Eu cheguei entendendo que democracia tinha suas obrigações e tinha suas liberdades dentro da sua obrigação, menos pra mim. Dentro da sua democracia você pode fazer o que você quiser, desde que seja aquilo que eu permita! Então isso estava bem estabelecido, e o pior, eu tinha que repetir o êxito, porque se perdesse quem seria o culpado? Leão!” Emerson Leão em entrevista ao documentário Democracia em preto e branco.
Emerson Leão era um jogador com ideais próprios, disputou até ali três copas do mundo, era reserva de Felix na copa de 70, em que o Brasil foi campeão. Passando por muitos clubes, Leão foi acostumado a ganhar taças e ter status de um excelente goleiro, seu difícil temperamento era constante e poucos atletas simpatizavam com ele, mas era clara a qualidade de arqueiro dentro da meta de onde jogou. Com a contratação, Casagrande ficou semanas sem falar com o novo goleiro alvinegro, muitos discordavam da contratação do goleiro. A revista Placar, que apoiava o movimento desde sua criação, publicou em uma de suas edições que o que os jogadores fizeram foi uma antidemocrática situação.
“Disseram pra mim: — Nós fizemos essa reunião por sua causa’. Falei: ‘Por minha causa? Imenso prazer, tô muito satisfeito por minha causa, tô aqui só há um mês.’
— Pelas suas atitudes nesse um mês, suas falas, suas entrevistas, você tá desunindo um pouco o grupo.’ Eu? desunindo o grupo? Vamos interpretar o que é isso!
— Várias pessoas já estão com você, já passaram pro seu lado’, então eu falei o seguinte: Não me deixa mais que um mês, não, porque se não vai passar 100%”. Emerson Leão em entrevista ao documentário Democracia em preto e branco de 2014.
Leão era opositor à Democracia, mas em campo dava o sangue pelo Corinthians, fechando o gol, o Coringão era bicampeão paulista e mais uma vez sobre seu rival São Paulo, o campeonato de 1983 era alvinegro, era o Bi da Democracia. Emerson Leão atuou até o fim da temporada e saiu para seu ex-clube e maior rival do Corinthians, o Palmeiras, time mais rico e de forma totalmente diferente de gestão.
“Há alguns exageros sobre a Democracia. Negar a importância da democracia é outro exagero. O que houve foi uma tentativa de maior participação de um grupo. Pode se discutir se esse grupo era democrático na medida em que talvez nem todos fizessem parte, até porque alguns não queriam fazer parte, não entendiam, você não tem um Sócrates em cada clube. O peso dos votos dos cabeças da Democracia tivessem um peso diferente, são acusações que se fazem à Democracia Corintiana”, afirma Celso Unzelte.
Logotipo da Democracia feito por Washington Olivetto
Diretas Já!
Proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira, nº05/1983, tinha como objetivo que as eleições diretas para presidente da república voltassem a acontecer e o povo pudesse decidir quem comandaria o país. A emenda foi para votação na câmara dos deputados e seriam necessários 320 votos a favor, mas apenas 298 deputados votaram pelo sim, a emenda não passou para o senado e a população precisaria esperar para eleger um civil ao trono máximo do Brasil.
Saindo da teórica história nacional, esta emenda ganhou força popular e logo um nome mais fácil e pegajoso caiu bem em gritos e protestos da população, o nome Diretas Já! foi o selecionado pelo povo que gritava por liberdade. Manifestações pelas diretas eram vistas em Recife, São Paulo, Goiânia, Curitiba e em outras diversas cidades pelo Brasil. Comícios eram cada vez mais comuns e dessa vez os militares não poderiam reagir de forma repressiva tão abertamente e o povo temia uma retaliação por parte do governo.
No futebol, as Diretas Já! ganharam mais força do que poderia se imaginar, o movimento da Democracia Corintiana apoiaria abertamente as diretas e a cada dia os jogadores envolvidos entravam mais nesse momento político. O mais emblemático caso é o de Sócrates, que em uma jogada de marketing com a torcida, da qual virou um dos maiores ídolos e símbolos da história, chegou a dizer em um comício das diretas que iria embora do país caso a emenda não fosse aprovada.
“Caso a emenda Dante de Oliveira, passe na câmara dos deputados e no senado eu não vou embora do meu país”, disse Sócrates em manifestação pró Diretas Já!, em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Mas o jogador já estava acertado com a Fiorentina da Itália, a emenda não passou da câmara, Sócrates então deixou o Brasil como um herói nacional e mais que isso, para os corintianos.
Fim da Democracia Corintiana
O “Campeão dos Campeões” como seu hino entoa, chegava a final do campeonato brasileiro de 1984, como nunca tinha sido campeão, havia uma enorme expectativa de o clube levantar o caneco do nacional, com seu esquadrão imbatível ou quase isso… parecia que o momento político interferia na hora de jogar, o elenco corintiano não se entendia mais tão bem, com a saída de Sócrates, o principal nome da linha de frente tinha abandonado o barco alvinegro. Casagrande foi emprestado ao rival São Paulo e com a debandada de outros atletas o movimento foi enfraquecido e não conseguiria se manter sozinho.
O publicitário Washington Olivetto, centrado em sua empresa W/Brasil também deixava de lado as obrigações corintianas e assim a Democracia Corintiana perdeu totalmente suas forças. O caixão da Democracia Corintiana era fechado quando Adílson Monteiro Alves perdeu a eleição à presidência do Corinthians para Roberto Pasqua, todos os envolvidos no movimento eram dissolvidos aos poucos e vistos com maus olhos por dirigentes do clube, sendo assim difícil para eles voltarem um dia a ocupar qualquer cargo dentro do poderoso Corinthians.
Celso Unzelte comenta de maneira peculiar o fim deste movimento:
“Foi um movimento libertário, saudável, porque oxigena as ideias, debates, principalmente naquele Brasil que se vivia, naquele futebol meio autoritário e conservador, oxigenou muito a discussão do futebol, esse é um grande plano da Democracia Corintiana. Um ponto contra foi que não conseguiu se manter sozinha, ela vivia muito em função do clima político que existia no país, quando a chapa do Adilson é derrotada em 85, isso coincide com a Nova República no Brasil. A própria Democracia Corintiana foi dissolvida nesse meio. Acho que a Democracia abriu um espaço, poderia ter contribuído muito mais se os jogadores tivessem uma conscientização, os técnicos, e todo mundo que participa do futebol, então conseguimos pequenas concepções.”
O lado negro da Democracia Corintiana
A Democracia Corintiana é um peso nas costas de muitas pessoas e quem discordava ou ainda discorda sofre forte pressão, e palavras nada amigáveis de seus fiéis defensores. O maior questionamento é se realmente foi uma democracia de fato? E assim pontos são colocados.
Emerson Leão, o goleiro que publicamente era um opositor ao movimento foi perseguido por diversas vezes, o próprio contratante dele, Adílson Monteiro Alves, foi um dos acusadores dentro do vestiário, que se ele tomasse gol na final de 83 sofreria na imprensa com fortes boatos inventados de uma possível entrega. Não era uma democracia de todos, existia um líder máximo que tomava as decisões pelas quais iriam votar, e dadas opções já vencidas pelos democratas corintianos.
Sócios do clube tinham que conviver com os atletas de seu time bebendo e fumando no bar do clube, mostrando total desrespeito por aqueles que financeiramente bancavam as estrelas corintianas durante seu movimento. Pregar uma coisa e fazer outras era típico dos majoritários que estavam à frente, por diversas vezes em reuniões no clube, era questionado se realmente existia uma democracia para todos ou só para benefício de alguns que ali estavam.
A entidade Sport Club Corinthians Paulista, conhecido como time do povo e de diversas lutas durante sua história, teria seu poder de mobilizar muitos fanáticos ao seguimento político, o time apoiar as diretas foi algo naquele momento visto como correto pelo grupo, mas o nome da instituição foi utilizado para fazer propaganda para políticos. No seu início em 1982, o Corinthians teve sua imagem usada para fazer campanha para Lula, candidato a governador, o que nos olhos de alguns era redemocratização na verdade era uma lavagem cerebral para o Partido dos Trabalhadores. E assim muito dinheiro saía do clube sem explicação, para engajar campanhas políticas, para empresários e jogadores gastarem em uma considerada esbornia por jornalistas daquela época.
Podemos dizer que a Democracia Corintiana foi um movimento muito importante para a história do futebol mundial, para o Corinthians e para a história de luta social vivida durante o período que vigorou o Regime Militar no Brasil. Mas tudo tem dois lados, sua parte boa e a parte ruim, e interpretar os dois lados desta causa é o que realmente importa!
Frutos e Efeitos da Democracia Corintiana
Claro, que como qualquer movimento a Democracia deixou seu legado, muitos jogadores poderiam assim decidir depois disso baseado nas leis desportivas criadas, seu futuro, a escolha por algo maior na carreira, direitos trabalhistas dentro da sua profissão. Além disso, alguns dirigentes de outros clubes utilizaram alguns modelos de gestão de Adílson Monteiro Alves. Cruzeiro, Fluminense e Flamengo, analisaram a Democracia Corintiana para melhorar seu ambiente de trabalho. Um dos maiores efeitos da Democracia Corintiana foi o modelo de contrato para patrocínios, enquanto todos os principais clubes eram patrocinados pelo principal gestor financeiro do Campeonato Brasileiro, a Coca-Cola, o Corinthians tinha o maior contrato de patrocínio vigente na época com a Cofap e sucessivamente com a Kalunga e assim o carioca Flamengo entrou na onda para assinar com a Lubrax.
Os direitos de transmissão de jogos também partiram de uma ideia perdida já em tempos passados, mas que o Corinthians executou muito bem com essa nova forma de organizar o futebol. Algo negativo que o Corinthians colheu como um amargo fruto foi a facilidade na qual seu estatuto pudesse ser alterado, abrindo espaço futuramente para ditadores dentro do clube e crises tão intensas com seus novos influenciadores, como exemplo, Alberto Dualib e o afastamento da torcida organizada dentro do clube.
A Democracia Corintiana, amada ou odiada, correta ou não, foi um movimento muito intenso, mesmo que em pouco tempo útil de vida e estará com os opositores e seus defensores, eternamente… dentro dos nossos corações. Afinal o mundo é uma bola e precisa ser jogado com a vida e no esporte que todos nós amamos devemos lutar, pois no final seremos todos campeões!
Crédito da imagem: Print de tela do documentário “Democracia em Preto e Branco” de Pedro Asbeg
Capítulo do livro: “Futebol, uma questão de Estado: o desenvolvimento e a consolidação do futebol brasileiro através da propaganda“