“A ciência de hoje é a tecnologia de amanhã.”
Edward Teller
O elevador parou no quarto andar. Caminhamos para um corredor que tinha uma iluminação cada vez mais fraca, porém estava repleto de pessoas em silêncio. Professores, funcionários e alunos observavam parados do lado de fora, pelas paredes de vidro, preocupados em não fazer nenhum barulho, enquanto algo interessante ocorria do lado de dentro. Fui convidada a entrar e descobri o que estava acontecendo ali. Eu estava dentro de uma cabine de transmissão, recheada de computadores que trabalhavam em tarefas distintas. O homem sentado no comando estava atento, analisando o que estava acontecendo na parede de vidro à sua frente: o professor de Anatomia vestindo o seu jaleco branco. Enfim, uma imagem familiar: o jaleco branco.
O ambiente que estava prendendo a atenção de todos simulava uma sala de cirurgia. Uma decoração cenográfica, equipamentos médicos instalados, objetos de operação e uma cama, como aquelas reclináveis de hospital. Em cima dela, um boneco. Dentro da cabine, percebi que os computadores podiam controlá-lo e fazê-lo simular situações de dor ou emergência que precisariam ser resolvidas pelos alunos. Eram as máquinas que, inclusive, faziam curiosamente o objeto mexer o abdômen, como um movimento de respiração. Mesmo que não estivesse acontecendo uma aula, eles respiravam. O professor falava em um microfone e sua voz era reproduzida pelo boneco – que era complexo demais para ser chamado como tal.
Na atividade que estava sendo realizada por dois alunos, havia um tempo estipulado para ser cumprido, caso contrário, o “paciente” morreria. Enquanto isso, os outros alunos da turma assistiam em uma sala atrás desse local, também com uma parede de vidro. Entretida com aquela situação, apressei-me em abrir a bolsa para procurar a câmera, mesmo sem saber se eu poderia fazer uma foto. Ninguém precisou me repreender. Fui automaticamente castigada quando meu celular caiu no chão, fazendo um estrondoso barulho no lugar silencioso. Todos me olharam. Minha vergonha e presença, que certamente atrapalharam aquela aula, fizeram com que eu fosse conduzida a um outro corredor.
Nele, havia mais paredes de vidro, e cada uma delas mostrava algo diferente. Na primeira, um boneco estava no chão, recebendo uma examinação ou socorro de três alunos vestidos com uniformes verdes, como enfermeiros. Nas paredes seguintes, uma grande sala que simulava um hospital, com decoração, camas, equipamentos e os tais pacientes inusitados. Nossa última parada foi em um lugar similar a um laboratório, totalmente branco, com muitas gavetas e até geladeiras. Alguns alunos vestindo jaleco estudavam algo nas bancadas. Em outra parte da sala, uma pilha de caixas que pareciam ser embalagens de iPad. Dei uma pequena risada e imaginei quantas pessoas gostariam de apenas uma daquelas inúmeras caixas… inclusive eu. Perguntei se alguma peça era real naquele local. A resposta foi uma negação.
Senti-me privilegiada de enxergar tudo o que estava presenciando, como se o andar daquele edifício fosse um universo paralelo… ou como se grande parte dos brasileiros não soubessem que aquele tipo de educação pudesse acontecer em seu país. O tour que eu estava fazendo naquela instituição de ensino foi guiado e orientado por uma professora com estatura baixa, de cabelos cacheados e bem-vestida, que aparentemente dispensava a vestimenta de um jaleco branco para passar a impressão de uma boa postura e firmeza em sua presença.
“Vou te falar como eu tive aulas. Utilizávamos um papel que chamávamos de ‘transparência’. Colocávamos esse papel colorido no retroprojetor e o professor projetava aquilo, utilizando o mesmo equipamento e papel por décadas. Depois acabou. O mundo nunca é o mesmo. Não dá para oferecer a mesma aula por anos e anos. A tecnologia está aí e o conhecimento está à disposição de todos.” Essa foi a declaração da professora de Anatomia Vivian Alessandra Silva, enquanto caminhávamos em direção ao elevador novamente.
Após o grande tour, entramos em uma sala de aula diferenciada. Com a lousa branca à frente, uma fileira de computadores ocupava a lateral do espaço, enquanto mesas redondas ficavam ao centro, com peças artificiais em cima. Sentamos em uma dessas mesas para iniciar nossa conversa. A anatomista sentia-se completamente à vontade por estar inserida no cenário de uma educação que propõe um novo método para a matéria que ensina o complexo sistema do corpo humano, fundamental nas grades curriculares da área da Saúde. Mas não foi sempre assim.
Formada em Fonoaudiologia pela Universidade de São Paulo, realizou mestrado e doutorado em Anatomia Funcional, também na USP. Dar aulas faz parte de sua rotina desde 2000, sendo professora da Universidade Anhembi Morumbi desde 2002 e, por isso, presenciou a grande mudança na instituição. “Em 2005, a Anhembi foi comprada pela Laureate International Universities e, em 2008, ocorreu essa mudança na área da Saúde. Quando disseram que não iríamos mais trabalhar com cadáveres, foi um grande choque. Imediatamente, disseram que os bonecos seriam insuficientes para o estudo, e isso se tornou uma grande discussão. Então, percebemos que precisaríamos buscar ferramentas complementares. Fomos até a Inglaterra ver como eles faziam nas universidades, para começar a fazer igual aqui. Hoje, temos tecnologias que custam mais de um milhão de reais para compor a chamada ‘nova anatomia’, e tudo que sugerimos a instituição realmente leva a sério, avalia e compra”, informou Vivian.
A profissional que cuida da voz das pessoas mostrava que a sua estava nitidamente prejudicada e baixa ao falar. Ela pediu desculpas e afirmou que isso é consequência de falar muito em muitas aulas. Para me explicar em detalhes o significado da nova anatomia, Vivian solicitou que uma funcionária trouxesse um iPad. Ela ligou o aparelho, com o objetivo de mostrar os aplicativos que os alunos utilizam e a forma como estudam com imagens reais que podem ser copiadas, manipuladas e analisadas também fora da sala de aula. Cada aluno possui um aparelho, mas são incentivados a não utilizarem apenas eles. Observei que, além das peças em cima da mesa, havia uma estante ao lado da porta, que armazenava ossos e peças artificiais. “Os modelos físicos que temos aqui estão entre os mais baratos do mercado. Esse pulmão na mesa fica em torno de R$ 1.500,00. Um torso como aquele, custa em média R$ 5.000,00 e as orelhas gigantes no topo da prateleira, por volta de R$10.000,00. As pessoas acham que, quando sai o cadáver para entrar a nova anatomia, é devido ao custo. Na realidade, obter tecnologia custa muito mais caro do que manter os cadáveres. As universidades tradicionais mantêm o corpo real para estudo pois não há dinheiro para comprar essa outra possibilidade ou porque realmente não querem, então ficam com o cadáver e lutam contra as dificuldades que ele traz. A Anhembi optou por uma metodologia focada na simulação, utilizando as ferramentas tecnológicas. Quando alguém diz ‘eles trabalham com bonecos’, é uma visão muito equivocada do que realmente é esse novo método. Sabemos a importância do que estamos fazendo, não se trata de substituir o cadáver por um boneco”, salientou Vivian, revelando que, entretanto, nem todas as faculdades que substituem o cadáver têm essa preocupação.
A anatomista narrou como funciona a dinâmica daquela aula, citando um pulmão como exemplo. De acordo com Vivian, pegar um pulmão com as mãos e olhar como o órgão realmente é tem uma grande importância, porém, um estudante nunca mais vai tocar em um pulmão novamente, exceto se trabalhar em um transplante, uma cirurgia ou em uma situação muito específica. É preciso, sim, que o futuro profissional saiba sobre a anatomia de um pulmão durante um exame físico, escutando o relato de um paciente ou verificando um exame de imagem. Por isso, a tarefa é inserir o aluno dentro desses cenários profissionais. Assim, eles aprendem utilizando equipamentos como os que realizam ultrassonografia, ressonância magnética, entre outros, além de uma mesa interativa presente na sala de aula, onde o estudante pode analisar exames e imagens em 3D, tiradas de um ser humano real. Vivian salientou que o foco é fazer com que o aluno aprenda a complexidade do corpo como um todo e tenha a competência necessária como profissional da Saúde. Nesse momento, ela pegou o seu celular e o virou para mim, mostrando um vídeo. Na cena, alunos interagem entre si. Alguns estão sem camisa e outros utilizavam esses alunos para, junto com um roteiro medidas anatômicas, com o objetivo de desenhar um pulmão. A professora também fazia a pintura ao fundo da sala, junto com um modelo contratado. Fui informada que a aula onde estava sendo ensinado o sistema respiratório é chamada de Anatomia Palpatória. Nela é possível ter a noção de tamanhos e ocupações de uma parte interna do corpo, realizando uma pintura corporal. Além disso, Vivian explicou que os alunos também estão aprendendo a apalpar e abordar um ser humano, utilizando um comportamento e uma postura de profissional. “A gente acredita que só com o cadáver não é possível ensinar isso ao futuro profissional. Eles entram aqui com 17, 18 ou 19 anos e nunca viram uma pessoa desnuda sem estar em um contexto sexual”, destacou. Ao fim do vídeo, resolvi perguntar se estudantes mulheres também tiram as roupas para serem desenhadas. Vivian confirmou a informação com uma grande naturalidade, complementando que a maior parte dos alunos, principalmente na Medicina, são mulheres.
Em relação à metodologia das aulas, descobri que, diferente das instituições que utilizam o cadáver, ali não se ensina anatomia descritiva e topográfica. Segundo a professora, tudo o que um aluno aprende no primeiro ano já foi esquecido no quarto. Por isso, sabendo do peso que o estudo da anatomia carrega na importância da profissão, o método de ensino é chamado de “aspiral”, no qual o aprendizado é recuperado todos os anos do curso, sempre aprofundando cada matéria. Quando Vivian terminou sua explicação, recordei-me dos discursos sobre o fato de que variações anatômicas só podem ser vistas e ensinadas em cadáveres. Com um certo receio, expus essa polêmica afirmação na conversa. Completamente calma e centrada, sua resposta estava na ponta da língua: “As variações anatômicas são muito importantes para serem aprendidas pelos estudantes e estão presentes nos seres humanos. Eu sou um ser humano, você é um e os alunos também são. Se fizermos as palpações que a nova anatomia propõe, a artéria que está em mim estará no mesmo lugar em você? Não”, ela disparou, tocando em seu braço e, logo em seguida, no meu. “Acredito que não é preciso um cadáver aberto para perceber isso. Se eu vir um exame de imagem de uma angiografia, vou poder enxergar que os vasos daquele determinado indivíduo não é exatamente igual a outro. É claro que bonecos e iPads não oferecem as variações anatômicas, mas não é preciso estudá-las em pessoas mortas”, declarou.
Com todo o marketing e divulgação investidos pela instituição para mostrar a modernidade, comecei a imaginar o pensamento dos alunos que estudam nesse contexto. Vivian disse que muitos já entram na universidade sabendo que não haverá cadáveres, mas descobrem melhor a variedade de opções de ensino que existe e se sentem beneficiados, pois todos não aprendem da mesma maneira, pois uns são mais visuais e outros são mais táteis. Porém, a professora confessou que há questionamentos de estudantes sobre a ausência dos cadáveres. “Tudo o que estou te contando também é explicado a eles. A Anhembi optou por esse novo método, por não conseguir manter um cadáver – junto com suas dificuldades técnicas – no ambiente da instituição.”
Novamente, acabei trazendo uma nova controvérsia. O fato de os alunos não estarem lidando com a realidade de um corpo, o sangue e a imagem impactante, que pode ajudar o indivíduo a conhecer suas limitações, não faz com que o aluno esteja limitado, podendo até mesmo desistir da profissão no futuro? A professora, sem mostrar alterações em sua postura, garantiu que, mesmo com as ferramentas atuais, o novo método prepara o psicológico dos alunos que, principalmente naquela instituição, têm probabilidade de facilmente manifestar aversão ao cadáver, escolhendo uma universidade baseada nessa questão. Pergunto como é possível trabalhar isso. “Nada disso exclui a situação da vida real. Esses fatores serão vistos quando eles se tornarem internos no hospital ao fim do curso, com seus pacientes.”
O orgulho em contar cada detalhe daquelas novidades, refletem em um fator intrigante associado àquela mulher. Vivian Silva é a docente líder no treinamento de escolas de Saúde da Laureate em nova anatomia. A ideia de que existe um treino para essa nova possibilidade de aprendizado e que a pessoa à minha frente é a responsável por isso era sensacional e eu vibrava por dentro, curiosa para entender como é possível que haja um treino para ensinar esta disciplina. Para ela, é tudo muito simples: ir nas escolas e ensinar os docentes a usarem essas ferramentas, mas principalmente, fazer com que todos entendam e aprendam, aproveitando ao máximo a performance da aula. “O professor precisa sair do foco central e ser capaz de apenas orientar e ficar ao lado do aluno enquanto ele aprende. E se quem aprende é o aluno, então ele precisa estar ativo, e não sentado escutando por horas outra pessoa. Escutar é bom, mas no tempo ideal”, brincou, ao esboçar um leve sorriso. “Então, é preciso colocá-lo para fazer as atividades na prática e, assim, descobrir resultados aos poucos. Dessa forma, tento convencer e inspirar os professores a utilizarem esses fatores em suas aulas. O que eles precisam entender é que o estudante possui o livre-arbítrio de como quer aprender, mas também é preciso saber qual ferramenta é a ideal para o determinado estudo”, enfatizou Vivian, complementando que faz os treinamentos em vários lugares dentro e fora de São Paulo e que são realizados na Anhembi Morumbi de duas a três vezes por semana. Novamente, a professora pegou seu celular e mostrou uma série de vídeos curtos, que exibiam os treinamentos entre professores. Assim como os alunos, os professores desempenham suas funções na anatomia palpável, na pintura corporal e utilizando o equipamento de ultrassonografia, revezando-se entre os grupos. Para que eu percebesse a consequência do treinamento, ela mostrou, em seguida, um vídeo no qual os alunos estão realizando a mesma ação, no mesmo local e com o mesmo equipamento. “O mais legal é que a prática também está sendo feita com os professores que estão no hospital – local em que os alunos vão nos últimos anos do curso –, para que eles também saibam como os futuros profissionais estão aprendendo aqui. Também já convidamos os próprios alunos para ensinarem no treinamento”, complementou.
Pintura corporal, anatomia palpatória, mesa interativa, iPad… nada de cadáveres. E se não há corpo humano formolizado e estirado em cima da mesa do laboratório, não há doações. Para dar seu ponto de vista sobre a prática, ela faz uma comparação bastante habitual. “Os brasileiros têm dificuldade em doar órgãos para manter uma pessoa viva ou melhorar sua qualidade de vida… Imagina doar um corpo inteiro para estudo? É definitivamente um tabu. Não se fala sobre isso nas escolas, por isso, muitas pessoas crescem sem saber que isso existe”, avaliou, ao dizer que a questão de como a sociedade encara a doação do corpo é cultural, considerando que a prática é fundamental para contribuir na capacidade do ser humano ser nobre em vida. “Pensar nesse ato após a sua morte é uma forma de evolução imensa”, enalteceu. Sua expressão entusiasmada logo chegou ao fim. Vivian se lembrou de onde está ao considerar que, com o passar do tempo, será cada vez menos necessário abrir cadáveres para aprender anatomia. “Com a tecnologia, isso vai cair”, opinou. Após uma pausa, a anatomista deixou claro que nem todos sabem disso. Para ela, parte da desconfiança com a nova anatomia está nas poucas informações divulgadas sobre como é ensinar a matéria sem o cadáver. Quando entendo que Vivian está introduzindo a mídia em nosso assunto, fiquei atenta à sua opinião e notei que tanto o estudo da anatomia tradicional quanto da que possui um novo conceito enfrentam um mesmo problema. “Algumas matérias [jornalísticas] são boas, mas a nova anatomia costuma ficar com um pouco de desconhecimento. De modo geral, passa-se uma impressão de que, se os corpos não forem doados, não há como ensinar essa disciplina. Não é verdade. Porém, estamos falando da pouca divulgação que existe. Eu vejo pouquíssima inserção da doação de corpos na mídia, por exemplo. Quando tem, eu fico sabendo, pois os alunos ou professores me falam”, disse.
Apesar de tudo, Vivian estampa em seu currículo uma graduação na USP, universidade que valoriza e utiliza apenas cadáveres na Anatomia. Para a professora, não se trata de uma ferramenta ser melhor do que a outra, seja ela o cadáver ou as novas ferramentas do novo conceito. Didática, ela reforçou que não critica o método mais antigo. “Acho que a nova anatomia oferece condições melhores de aprendizado do que a tradicional que eu vivi. Aqui é possível escolher a ferramenta mais fácil para aprender; já no cadáver você só tem uma, não há escolha. Mas não tenho dúvidas de que o cadáver foi ótimo para mim, porém não significa que outros meios de ensino também não sejam bons”, garantiu. Eu me atrevi a instigar a anatomista.
Então, finalmente ela explicou que o cadáver provoca algo emocional nas pessoas, inclusive nos profissionais. Por ser um indivíduo real, o futuro profissional costuma cuidar do corpo, conversar e até dar nomes para o objeto de estudo. O apego faz com que a mente pense que o cadáver é melhor. Vivian afirmou que o profissional precisa ser racional e olhar as coisas do jeito que são melhores para aprender, e não as que tocam com o sentimento. Alegar não saber mexer na atual tecnologia não é desculpa para a professora. “É preciso ter paciência e se atualizar quando queremos ser bons profissionais. Isso vale para todas as áreas. Mas suponhamos que você vai em um médico e descobre que precisa fazer uma cirurgia. Quer ser operada em equipamentos de décadas atrás ou quer que eles utilizem uma tecnologia de última geração em você?”, questionou e aguardou minha resposta, olhando fixamente nos meus olhos.
No final de nossa entrevista, a professora lançou sua teoria sobre como será o estudo da anatomia daqui a algumas décadas. Para ela, o conteúdo da disciplina de Anatomia realmente vai absorver todas essas tecnologias, pois dentro das ciências básicas é a que tem mais chances de usá-las. A mudança será totalmente positiva, pois a era digital aumenta a velocidade de tudo, especialmente do aprendizado, deixando tudo mais fácil, divertido e aplicado. Mas Vivian alertou: “Tudo isso que você viu hoje não é exatamente novo. Como eu disse, está aí desde 2008. Isso já tem um certo tempo. Se não começarmos a fazer essa mudança, ela não acontece. É preciso gerar a mudança nessas instituições tradicionais”, considerou, ao citar que os alunos também estão caminhando positivamente para a mudança. “Estamos lidando com uma geração que é muito aberta, aprende rápido e sabe lidar com novidades até melhor que nós, professores. Imagine um professor catedrático de 80 anos lidando com isso? Eu, que tenho 40, adoro dar aulas e pretendo me aposentar fazendo isso. Não adianta eu virar as costas para a tecnologia. Ela vai me pegar. Ela vai entrar nas salas de aula e nos laboratórios de qualquer jeito. Será uma ida sem volta. E é melhor aceitar.”
O elevador parou no térreo. Saí apressada andando pelo pátio da Anhembi Morumbi, mas acabei diminuindo o acelerar dos meus passos para observar pela última vez os alunos que desfilam de jaleco branco em meio à multidão. Será que eles realmente poderão mudar o cenário da Saúde brasileira? Será que poderei confiar tranquilamente no profissional da Saúde que estiver disponível para cuidar da minha saúde, da dos meus filhos e netos? A tecnologia e a modernidade em que o mundo está caminhando vai prejudicar nossa capacidade de se doar com atitudes, pessoas, bens materiais… e até mesmo com o próprio corpo? A consequência está no futuro, mas o presente dá uma pequena, nobre, polêmica e não tão conhecida dica… de como podemos fazer para contribuir com esta imprevisível posteridade.
Crédito da imagem: Autora
Capítulo do livro: “O que você quer ser quando morrer?“