Esse tal Riocore (parte 01)

publicado na Ed_12_jul/set.2019 por

Dos Beatles até aqui, a história é sempre a mesma: todo jovem quer ter uma banda. Nenhuma geração, até agora, passou sem que grupos de meninos e meninas tivessem o desejo de se juntar a outros amigos e simplesmente tocar. Escrever alguns versos, mesmo que banais ou melosos, e se expressar por meio da música. A referência nem precisa se deter aos britânicos dos anos 60 que, de forma avassaladora, invadiram o mercado americano – embora muitas vezes seja. Em todo caso, foi a partir deles que esse sentimento foi introduzido, e continua vivo, como uma herança de família há décadas preservada. Soa estranho relacionar o frenesi da Beatlemania a um movimento deflagrado nos anos 2000, o caminho entre I Want to Hold Your Hand e História de Verão parece extenso demais e ausente de qualquer conexão, mas o processo é gradual.

Sem qualquer pretensão de narrar aqui uma história do Rock, é preciso antes voltar os olhos para Califórnia dos anos 90. Conhecida como um dos grandes celeiros de bandas Punks dos anos 70, a região também deu origem ao estilo Hardcore dos anos 80, uma segunda onda do gênero anterior. Balanceando melodias trabalhadas com a agressividade que trazia na bagagem, esbarrou na projeção da música Pop americana dos anos 90 e fez nascer o que se costuma chamar de Pop Punk, onde se encaixam bandas como Pennywise, Face to Face, NOFX, Offspring, Green Day e Blink-182 por exemplo. Das seis, as três últimas foram as que despontaram no showbusiness, causando aversão no público que privilegiava o cenário alternativo. Localizado no litoral americano, os verões do estado californiano são quentes, o clima de praia é intenso, a cultura do Surfe é tão forte quanto a do Skate. Tudo a ver com o Brasil, tudo a ver com o Rio de Janeiro.

Aqui no País Tropical, no final da década de 90, o cenário de Rock não era muito animador. O estilo passou a ser trabalho por desvios e misturas, usado apenas como escora para outras vertentes. Contemporâneos de Legião Urbana, Barão Vermelho e Paralamas do sucesso estavam perdendo o fôlego, ainda mais com a partida prematura dos vocalistas das duas primeiras – ambos não resistiram à AIDS. Os que começavam a despontar na mídia tradicional como as vozes da nova fase eram CPM 22 e Charlie Brown Jr., ambos de São Paulo. Na Cidade Maravilhosa, no entanto, o cenário que fervilhava era o underground, este nunca deixou de existir, mesmo abafado pela projeção de grupos de samba, pagode e funk, que sempre tiveram destaque na cultura local, sem contar a MPB, que em todo o tempo garantiu confortavelmente o seu lugar. Mas seus referenciais, assim como os dos paulistas, eram mais a geração californiana, e seus antecessores, e menos a nacional de Renato Russo, Cazuza e companhia. Apenas mais alguns anos de preparação e o grande público da metrópole se abriria novamente para a barulho estridente das guitarras.

*Texto construído a partir do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Esse tal de Riocore: uma grande reportagem sobre o cenário Pop Punk e Hardcore carioca dos anos 2000”, apresentado em dezembro de 2018 à Universidade Veiga de Almeida.
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