A Fazenda Santa Cruz

publicado na Ed_07_abr/jun.2018 por

A fazenda Santa Cruz foi o primeiro lugarejo que os quilombolas habitaram. A maioria dos quilombolas pioneiros trabalhava com seringa, roça e o ciclo da pesca. Por volta de 1980, essa terra tinha um dono colombiano, e com o tempo as terras viraram uma fábrica de produtos-base para cocaína.

O governo desmontou essa boca, confiscou as terras de volta e deixou em posse do forte o empresário Renato Pereira Júnior, como fiel depositário que prestava serviço para o Governo para proteger todo o patrimônio que tinha. Ele, porém, nunca recebeu pelos serviços nestas terras da União.

As terras de Renato eram o lugar mais alto daquela localidade, pois todas asáreas no tempo das enchentes alagavam. Devido a isso, as famílias de Santa Cruz foram remanejadas para as áreas de Pimenteiras, praticamente moram todos na cidade. Pimenteiras do Oeste é um lugar peculiar, por se tratar de um quilombo urbano, onde os quilombolas não têm área rural para desenvolver suas práticas culturais.

De acordo com a historiadora Lorenza Silva Maciel, não se sabe ao certo se foi o próprio Renato que foi vendendo estas terras para os fazendeiros. Mas que, em 1986, surgiu a notícia que Renato estava vendendo as terras, alguns moradores que já residiam em Pimenteiras souberam e foram para lá cortar e demarcar terras, entretanto nem todos lograram êxito.

“Denominação de ser quilombola: De acordo com o ponto de vista da historiadora Lorenza, a pessoa precisa se declarar afrodescendente, porém, somos todos nós que temos nossos ancestrais negros. Ser quilombola é ser descendente de escravos que fugiram do cativeiro e se embrenharam na mata, construíram uma sociedade nestes locais foragidos, que são chamados de quilombos. Ser quilombola é ter ancestral negro” Lorenza Maciel.

“Quem achou a cruz foi o meu esposo, João Câncio Fernandes de Leite, que foi abrir exploração de seringa, e acabou tropeçando nela. Mas não deu tanta importância, chegando em casa me contou, como a mulher é mais curiosa que o homem chamei os meus filhos mais velhos para ir até lá pegar. Trouxemos a cruz, que estava registrada com os dados de Jaspe Von Oertzen, sua data de nascimento e local de nascimento e morte e atrás um versículo da Bíblia, e o mais curioso que nela estava escrito “Pimenteira” no singular. Não sei dizer a origem do nome, mas acredita-se que era a cruz de um missionário alemão. Eu na época morava onde hoje é a igreja católica, como não havia igreja, e gostava de venerar a igreja, doei a cruz para Dom Rey, bispo diocesano de Guajará-Mirim, escrevi uma carta para a diocese em nome do bispo, assim que recebeu a carta me pediu para não quebrar e nem jogar a cruz. Logo em seguida o diocesano veio de barco até a localidade e constatou que ali precisaria de uma igreja, então nós os moradores nos reunimos e compramos os materiais para construir a igreja. Todos os moradores acreditam que o nome de Pimenteiras, surgiu pelos dados que estava na cruz isto é fato” Alice Serrath.

O fogão a lenha é um símbolo de reafirmação e representação quilombola, e está presente na maioria das casas urbanas.

No município de Pimenteiras do Oeste é nítido a construção de casas de madeira é bem expressiva, por ser um material mais acessível, e também embora este padrão de moradia traga lembranças do antigo quilombo rural esteja se modificando lentamente. Mas os moradores mais tradicionais ainda optam por deixar as suas casas com materiais menos sofisticados.

Fim de tarde na casa de Alice Serrath.

“A benção de se pedir uma benção” antigamente as crianças aprendiam que pedir a benção é uma manifestação de respeito e de ser abençoado conforme os anos vão passando esses costumes vão se diluindo com o tempo, porém, na casa de João de Brito não, na verdade em Pimenteiras não, é comum os netos, filhos irem a casa de seus parentes “ tomar a benção” é uma forma de receber de fato a proteção Divina.

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Crédito da imagem: Autora

Capítulo do livro: “Pérolas negras do Vale do Guaporé”

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