Inclusão: relatos de deficientes visuais no ensino superior brasileiro

publicado na Ed_11_abr/jun.2019 por , e

Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Educação (MEC), através da diretoria de políticas da educação especial, verificou que 29.221 estudantes com deficiência visual estão matriculados em curso de graduação em Instituições de Ensino Superior (IES). Mas o caminho até aqui foi e continua sendo dificultoso.

Como conquista das constantes reivindicações, em 1988, a Constituição Federal Brasileira decretou que qualquer pessoa que possua algum tipo de deficiência se matricule em classes comuns do ensino regular.  Em seu artigo 205, ela prevê que “a educação,  direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Professora Adenize Queiroz

Já o artigo 208  garante o direito ao “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. Mas para Adenize Queiroz de Farias, professora doutora de educação especial na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), essa é uma realidade distante. Ela, que também possui deficiência visual, acredita que “a falta de atitudes de professores voltadas para acessibilidade é uma grande barreira”, informa. “Mesmo hoje, vivendo em mundo globalizado, tecnológico e digital, existe uma ‘resistência’ de alguns professores em adaptar-se na elaboração e apresentação de conteúdos acessíveis para alunos”, relata.

Tal carência acaba dificultando a manutenção e ampliação da inclusão de mais estudantes com deficiência visual nas universidades. Além disso,  Adenize esclarece que são raros os materiais didáticos acessíveis para alunos com deficiência visual.Para proporcionar uma maior inclusão, a UFPB dispõe de alunos apoiadores que acompanham os alunos com necessidades especiais em todos os horários de aula.

A instituição também conta com o Núcleo de Educação Especial (Nedesp), que é responsável pela adaptação, transcrição e revisão de textos e obras acadêmicas para o sistema Braille.

William Véras nasceu cego devido um glaucoma congênito e cursa o último período do bacharelado em Jornalismo na UFPB.  Ele vive uma realidade mais próxima dos ideais de inclusão e já está habituado com a sala de aula: enquanto o professor explica o assunto, o jovem utiliza o material adaptado fornecido, seu notebook e celular, que através de softwares e aplicativos ajudam nas leituras dos textos. O celular, por exemplo, converte todos os textos em áudio.

Assim, o futuro jornalista consegue acompanhar todas as aulas igualmente aos demais alunos: “Em minutos, consigo criar textos e responder atividades graças à tecnologia e ainda conto com o auxílio do aluno apoiador na sala de aula”,  destaca.

Professora Joana Belarmino

Os avanços tecnológicos na área da acessibilidade revolucionam cada vez mais. Joana Belarmino, professora de jornalismo da UFPB, nasceu cega e conquistou com muito esforço o título de doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Recentemente, ela adquiriu a Orcam My Eye, óculos munidos de uma câmera  que captura textos e fala ao deficiente visual o que está escrito. “Através da Orcam eu posso ler materiais não-adaptados para deficientes visuais, o que é prático e facilita bastante minha vida”, enfatiza.

Diante deste cenário, e após os relatos de cada entrevistado, seguimos com a certeza  que as tecnologias estão auxiliando de forma técnica, porém, não podemos deixar escapar as relações humanas, ajudarmos uns aos outros, pensar no outro. O engajamento pela inclusão e acessibilidade não pode ser apenas dos deficientes visuais, todos os grupos sociais podem colaborar para melhorar essa realidade.

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Crédito das imagens: Autores – Imagem da capa: Estudante William Véras

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