Ressignificação do espaço de consumo

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Após a construção dos viadutos do Chá e Santa Efigênia no início do século XX e com o aumento de circulação possibilitado por essas obras, seguiu-se uma intensa especulação imobiliária em diversas regiões centrais[1], incluindo o bairro da Luz, principal ponto de circulação da região onde embarcavam e desembarcavam pessoas e cargas vindas principalmente do interior de São Paulo. Políticos, atletas, estudantes, comerciantes e moradores das regiões menos urbanizadas transitavam por esta ponte férrea de acesso a metrópole que se expandia paulatinamente.

Na região do bairro da Luz e em seu entorno existiam fábricas de tecidos e aviamentos que atraiam comerciantes de todas as regiões paulistana. Muitos vinham fazer suas compras de trem e uma minoria, com maior poder aquisitivo, chegava de automóvel.

O período entre vir para São Paulo, fazer as compras e voltar para o interior poderia levar alguns dias, logo se hospedar na cidade era uma necessidade do viajante. Diversos empreendedores, sabendo dessa demanda, construíram hotéis nas proximidades da Estação Ferroviária da Luz, badalada estação dede o final do século XIX. Foi dessa iniciativa que surgiram o Hotel Rebecchino (vindo do Largo São Bento), Hotel Roma, Aviz Hotel e com a euforia do aniversário de 400 anos de São Paulo, foi inaugurado o Hotel Santos Dumont na rua Mauá, 340.

Figura 01: Hotel Santos Dumont na rua Mauá, maio de 1953. Foto de Gabriel Zellaui[2].

O Santos Dumont funcionou como hotel até o final dos anos 1990, depois virou um misto de salas comerciais com pensão, uma biblioteca particular e quarto-depósito com mobílias e pertences dos familiares. Ainda na década de 1950, em seus primeiros anos do seu funcionamento, o comércio, fiscalização e a conservação da rua Mauá eram algumas das maiores preocupações do governo estadual e municipal. O bairro da Luz era o cartão postal da cidade, mas depois de algumas décadas a degradação do espaço se tornou pauta frequente do noticiário policial cotidiano nos jornais.

Entre alguns conflitos que se deflagraram na região, em 2003 ocorreu a primeira ocupação do hotel Santos Dumont por integrantes do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), mas logo saíram do prédio — a polícia militar executou uma ordem de reintegração de posse em favor do proprietário do imóvel. Em 2007 o hotel foi ocupado novamente pelo mesmo grupo de sem teto que permanecem no local até os dias atuais.

A presente investigação se iniciou com a visita ao local para conhecer o hotel Santos Dumont, o comércio local, os tipos de consumo e seus arredores. Entender melhor as informações que deveriam recompor e estruturar a história do consumo local nos anos 1950 e como está nos dias atuais (2017). Nos interessa saber e investigar os modos de consumo do espaço no período em que foi inaugurado, as mudanças de uso e consumo até a ressignificação do espaço que está presente nos dias atuais.

 PANORAMA GERAL DO BAIRRO DA LUZ

O bairro da Luz foi o primeiro vetor de expansão do núcleo original da cidade de São Paulo[3], espaço de conflitos entre militares e civis na década de 1920 e 1930 — Revolução Tenentista de 1924 e a Revolução Paulista de 1932, que deixaram marcas de bomba na antiga chaminé da primeira usina elétrica de São Paulo —, do uso das proximidades da rua Vitória para atores e cineastas da Boca do Lixo[4] ao abandono e apropriação do espaço por usuários de crack, o bairro da Luz ainda é um problema a ser resolvido pelo governo da capital paulistana.

A Estação da Luz, depois de fechada parcialmente devido ao grande incêndio de 1946 que a danificou quase que totalmente, foi reaberta em 1950 para a população. Ampliada e ainda mais grandiosa para combinar com o crescimento vertiginoso que a cidade passava — apesar do bairro não ter mais o glamour que as décadas de 1920 e 1930 proporcionaram —, os preparativos para o IV Centenário da cidade instigavam novos empreendimentos e renovava os ânimos de crescimento e investimentos na região.

Figura 02: O incêndio de 1946 deixou a Estação da Luz parcialmente paralisada por quase 04 anos[5].

No entorno da estação o comércio de vestuário já existia e estava bem estabelecido, principalmente devido a grande comunidade judaica que habitava o Bom Retiro, bairro que conjugava as funções residencial, comercial e industrial — o comércio judaico se concentrava na produção de vestuário, roupas finas e com oficinas de costura no fundo das lojas, concentrados na rua José Paulino — e as fábricas têxteis do bairro do Pari. A partir de 1950 outros grupos de imigrantes começaram a assumir as funções industrial e comercial, tais como os armênios e os gregos[6].

Nas fotos aéreas comparativas de 1954 e 2013 (figuras 03 e 04)[7] é possível ver as mudanças da vegetação, algumas diferenças nas construções e trilhos da estação. Mesmo com a diferença de mais de cinco décadas entre as fotografias, nota-se que o desenho arquitetônico que conhecemos hoje não era muito diferente do que existia no passado. As ruas, prédios e o Jardim da Luz parecem não ter sofrido nenhuma alteração em sua estrutura e ocupação do espaço. Essa é uma constatação fácil de visualizar quando se anda pelo entorno da estação da Luz, vários prédios antigos permanecem com suas fachadas primitivas e deterioradas, alguns foram reestruturados internamente, mudaram, foram retalhados.

Figura 03: Vista aérea do Parque e Estação da Luz em 1954. Crédito: Arquivo Histórico de São Paulo.

Figura 04: Vista aérea do Parque e Estação da Luz em 2013. Crédito: Reprodução/Google Earth.

O COMÉRCIO NA RUA MAUÁ

Tentar reconstruir o tipo de comércio existente na década de 1950 na rua Mauá, principalmente nos prédios de frente à Estação da Luz, pode parecer uma tarefa hercúlea, mas foi possível descobrir alguns anúncios em jornais da época, e até mesmo uma propaganda como pauta para reportagem de página inteira. Esse resgate do comércio local, principalmente nas proximidades do hotel Santos Dumont podem apontar para o tipo de público (classe social, poder aquisitivo, etc.) que costumavam frequentar a região e possivelmente o perfil dos hóspedes que procuravam os hotéis dessa região.

Na rua Mauá, 466 e 490 — quase ao lado do hotel Santos Dumont — ficavam as Casas Santiago e Sertaneja, o “maior varejo de harmônicas da América do Sul[8]”, que estava no local há 34 anos. Nas imagens que estamparam a edição de 13 de agosto de 1950 do Jornal de Notícias[9], as lojas ganharam uma página inteira.

Figura 05: Fachada da Casa Santiago, 1950.

Figura 06: Interior das lojas Sertaneja e Santigo. Além de vender, eram ministradas aulas de harmônica, 1950.

Também é do mesmo jornal as informações de autuação feita por fiscais do Departamento Geral de Fiscalização da Economia Popular[10], todos por desrespeito ao tabelamento de preços de produtos como: brinquedos, artigos de natal e miúdos. Os comerciantes estavam localizados nos números 426, 432, 494 e 534 da rua Mauá[11].

Na esquina com a rua Casper Líbero, o hotel Rebecchino — considerado um dos mais luxuosos da região —, além de diversos outros hotéis que se espalhavam pela rua Mauá e seu entorno desde o início do século XX:

Já no início da década de 20, São Paulo tinha inúmeros hotéis de diferentes classes concentrados nas gares ferroviárias ou nas ruas centrais, Jacinto Silva relata no Guia Ilustrado do Viajante de 1924 a existência de vários hotéis nas imediações das estações Luz e Sorocabana. Em frente à estação Luz ficavam entre outros: Hotel Fraccaroli, Hotel Rebecchino, Hotel Federal, Hotel Paulista, Hotel do Comércio, todos na rua Mauá[12].

Os hotéis não serviam somente como hospedagem de poucos dias, há indícios de que alguns hóspedes passaram a residir por tempo indeterminado, virando moradores da região e criando novas demandas de consumo.

PREFEITOS DE SÃO PAULO

Nesse período, o prefeito de São Paulo era indicado pelo governador do estado. Permaneceria dessa forma até 1953, quando as eleições pelo voto direto elegeram Jânio Quadros. Em cinco anos, a capital paulistana teve seis prefeitos: Asdrúbal Euritysses da Cunha (04/01/1949-28/02/1950), Lineu Prestes (28/02/1950-01/02/1951), Armando de Arruda Pereira (01/02/1951-08/04/1953), Jânio da Silva Quadros (08/04/1953-31/01/1955), José Porphírio da Paz (07/07/1954-17/01/1955) e William Salem (31/01/1955-22/06/1955)[13].

É desta época a construção do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a primeira Feira Internacional, o Monumento às Bandeiras e diversas obras que tinham como objetivo a comemoração do IV Centenário da cidade.

DADOS DO IBGE SOBRE A POPULAÇÃO PAULISTANA

A população no município de São Paulo em 1950 era de 1.635.997 habitantes entre homens e mulheres, a maioria da religião Católica, 94% sabia ler e escrever, mais de 420 mil pessoas trabalhavam na indústria de transformação e 122 mil no setor de comércio de mercadorias (IBGE, 1956, p. 240).

Hoje, a população paulistana estimada é de mais de 11 milhões de habitantes, com mais de 550 mil empresas atuantes e 1.572.070 pessoas com o ensino superior completo[14].

HOTEL SANTOS DUMONT

Construído pelo comerciante polonês Mayer Wolf Szifer em 1954, com a pretensão de atender a demanda turística e a euforia vivida em São Paulo pelo seu IV centenário, Mayer adquiriu o terreno onde existiam algumas lojas, as demoliu e ergueu o prédio na rua Mauá, 354.

Um modesto hotel, comparado com outros que existiam não centro de São Paulo, pois dentro da categorização estabelecida pela Comissão Estadual de Preços, os hotéis da capital receberiam a classificação A, B, C, D e E, sendo A mais luxuoso e E os mais simples (popular). Para fins de entendimento de qual classificação estava o hotel Santos Dumont, que estava na classificação E, vamos descrever a categoria D, pois na ausência dos itens desta o hotel automaticamente cairia para a próxima classificação. Um hotel classificação D deveria atender as seguintes exigências mínimas que estava em vigor desde abril de 1950:

1 – Quanto ao prédio: a) elevador, quando o prédio tiver mais de 3 pavimentos; b) vestíbulo para a portaria, mais salão de estar; c) aparelhagem de prevenção contra incêndio com extintores químico nos locais próprios; d) pia com água corrente nos quartos.

2 – Quanto as instalações de copa, cozinha; a) paredes da copa e cozinha cobertas de azulejos até 2 metros de altura; b) coifa sobre os fogões (ferro, cimentos, zinco, cimento ou alvenaria); c) pias de ferro esmaltado com água quente e fria; d) geladeira ou geladeiras com capacidade normal de copa e cozinha respectiva.

3 – Quanto ao mobiliário dos quartos: a) solteiro: cama, mesa de cabeceira, um guarda-roupa com espelho, uma mesa e uma cadeira; b) casal: cama de casal (ou duas camas), mesa de cabeceira, um guarda-roupa dupla com espelho, uma mesa e duas cadeiras; c) o guarda-roupa poderá ser substituído por embutido de capacidade igual e com espelho.

4 – Quanto as instalações sanitárias: a) 2 WC, 2 banheiros, 2 chuveiros, 2 lavatórios separados por sexo, para cada grupo de 12 quartos.

5 – Quanto aos serviços de portaria e comunicações: a) portaria organizada dia e noite com porteiro permanente; b) aparelho telefônico na portaria ou um pavimento.

6 – Quanto ao serviço de arrumação e limpeza: a) uma arrumadeira para cada 15 quartos; b) um empregado para limpeza para cada 20 quartos; c) corpo de empregados decentemente trajados; d) manter em todas as dependências do hotel, a pintura, o mobiliário e os utensílios em geral, em perfeito estado de conservação, limpeza e higiene.

7 – Quanto à rouparia: a) depósito ou depósitos para roupa limpa; b) depósito ou depósitos para roupa servida; c) roupas em bom estado de conservação e asseio; d) roupa de cama composta de lençóis, 1 colcha, fronhas, cobertores, toalhas de rosto e de banho; e) mudança geral da roupa de cama uma vez por semana para os hospedes permanentes e sempre que houver mudança de hospedes; f) mudança de toalha de rosto e banho duas vezes por semana.

8 – Quanto a primeira refeição: a) café completo pela manhã: leite, café, pão e manteiga[15].

Além dessas exigências, havia uma tabela de preços que deveria ser referência para os hotéis de acordo com a sua classificação. A diária máxima que deveria ser cobrada por pessoa:

Classificação Valor diária por pessoa
A Cr$ 121,00 a 180,00
B Cr$ 71,00 a 120,00
C Cr$ 36,00 a 70,00
D Cr$ 20,00 a 35,00
E Cr$ 20,00

Tabela 01: Preços estipulados para cobrança de hospede individual para hotéis em SP (1950).

 Classificação Valor diária por pessoa
A R$ 171,53 a R$ 255,18
B R$ 100,65 a R$ 170,12
C R$ 51,04 a R$ 99,24
D R$ 28,35 a R$ 49,62
E R$ 28,35

 Tabela 02: Preços estipulados para cobrança de hospede individual para hotéis em SP (1950) e atualizados para Real (2017) pelo IGP-DI[16].

De acordo com a classificação do hotel Santos Dumont e o valor sugerido da diária por pessoa, é possível supor que quem o procuravam para se hospedar não queria gastar muito ou ficaria mais do que alguns dias hospedado. O prédio, construído com seis andares, não possuía elevador, cada pavimento formava um anel com 30 quartos, totalizando 180 unidades. No térreo há um pátio central — essa estrutura base é a mesma encontrada em 2017.

Se o hotel ficasse com todos seus quartos ocupados, com apenas uma pessoa, em um dia os proprietários do hotel poderiam ter um lucro de Cr$ 3.600,00. O que não representa um grande valor para um empreendimento em tal localização privilegiada na época, mas que era mais do que o dobro do salário mínimo da época — Cr$ 1.200,00[17].

Na parte térrea do hotel existia uma garagem, que na verdade era uma loja de automóveis[18] com o mesmo nome do hotel, onde se comercializavam veículos das marcas Volkswagen, Citroen, Fiat, Peugeot, Ford, Chevrolet, Jipe Nissan e Land Rover e Studebaker. Um fusca 1953 na época custava em torno Cr$ 150.000,00, o que seria aproximadamente R$ 45.000,00 hoje — valor corrigido pelo índice IGP-DI.

Existiam diversos hotéis concorrente com acomodações e fachadas mais elaboradas, mas que também possuíam um maior custo por diária, isso talvez fosse um impedimento para quem fosse se hospedar por semanas ou ficar como mensalista.

A RESSIGNIFICAÇÃO

O entorno da Estação da Luz continua como pauta frequente dos jornais de notícia, principalmente devido aos recentes confrontos na chamada Cracolândia — denominação popular da região ocupada por quase dois mil usuários de crack[19].

Mas o conflito com os dependentes de crack não é o único problema social que habita a região do bairro da Luz. O projeto Nova Luz (2011), apresentado pela primeira vez na gestão do prefeito Gilberto Kassab (2006 a 2012) gerou enorme desconforto em diversos movimentos sociais e moradores que o acusaram de gentrificação[20]. O Projeto foi engavetado mas continua disponível para consulta na internet[21].

Figura 07: Setores: Identidade e senso de lugar (Projeto Nova Luz).

Para a região que estamos analisando, o projeto previa um setor demarcado, que pode ser vista em rosa na figura 07 como Mauá. No seu descritivo para a mancha eles previam que

a Avenida Duque de Caxias, no seu trecho de confluência com a Rua Mauá, está sendo transformada em um grande bulevar de apoio para os usuários dos equipamentos culturais. O novo paisagismo proporcionará uma melhor configuração urbana para as edificações históricas e um melhor ambiente de permanência para o público em geral. As calçadas alargadas de pedestres oferecem ligação para a Estação da Luz, aos futuros empreendimentos da Escola de Ballet e ao centro de entretenimento na quadra 19, um conjunto de teatros, cafés e restaurantes adjacentes à nova estação de metrô.

Um grande pátio interno localizado no centro de entretenimento proporciona suporte para a realização de diversos eventos e atividades, tais como feiras locais, pequenos concertos, teatro ao ar livre, entre outros[22].

Figura 08: Ilustração de como seria a região Mauá (Projeto Nova Luz).

Essa visão urbanística da prefeitura é muito distante da realidade que encontramos nessa região.  Apesar da iniciativa, a maior reclamação dos moradores é que o projeto não considera de forma correta as necessidades de habitação da região e as formas existentes no local.

A Estação da Luz foi ampliada novamente em 2011 e ganhou mais uma linha de integração do metrô, o que aumentou consideravelmente o fluxo de passageiros, mas que não mudou muito a paisagem urbana no entorno da estação.

Entre tentativas e realizações de melhorias para a região, os prédios comerciais e residenciais continuam em degradação.

O antigo hotel Santos Dumont foi ocupado inicialmente pelo Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC) que posteriormente tornou-se o Movimento de moradia na luta por justiça (MMLJ) que tem sua sede no próprio local. De acordo com o Observatório de Remoções[23], hoje a situação da Comunidade Mauá

(…) está sob ameaça de despejo por conta de um laudo do corpo de bombeiros que alega risco de morte e solicita o despejo imediato. Além disso, há um laudo pericial que questiona o valor da desapropriação. A PMSP pagou 11 milhões pela desapropriação e agora o proprietário quer chegar aos 25 milhões[24].

Imagem 09: Atual fachada do antigo Hotel Santos Dumont. Crédito: Reprodução/Google Street View.

O estacionamento/loja que comercializava carros novos e seminovos na década de 1950 deu lugar a lojinhas de produtos importados, muitas vezes, sem procedência ou nota fiscal. Uma das bandeiras do movimento social é que o prédio seja transformado em habitação popular, pois alegam que os aparelhos de uso coletivos estão todos postos e prontos para uso e não aceitam serem removidos e enviados para conjuntos habitacionais distantes de seus trabalhos, onde precisariam ficar horas em coletivos para chagar ao centro de São Paulo.

A antiga loja de harmônicas virou um bar, muito distante do glamour que parecia ter ainda na década de 1950.

Figura 10: Fachada da antiga loja de harmônicas Casa Santiago. Crédito: Reprodução/Google Street View.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável que o tempo e a intervenção do homem modifiquem o espaço, principalmente quando existem conflitos de interesses sobre a propriedade e uso dele.

Os projetos que prometeram melhorar a forma do viver urbano no entorno da Estação da Luz e na rua Mauá ultrapassaram o tempo e continuam em disputa. Mais famílias se apropriam de prédios deixados sem uso, querem usufruir dos aparelhos de uso coletivos que já estão prontos e não ter maiores distâncias e custos para se chagar ao centro da cidade e aos seus trabalhos. Do outro lado, empresários e a prefeitura lutam para dar uma finalidade urbana reformada e lucrativa para os antigos prédios ocupados. O comércio que ficou restrito a pequenos bares e lojas de roupas e equipamentos de procedência duvidosa se apropriaram do espaço que antes era destinado a produtos para uma clientela com maior poder aquisitivo, e esse é um dos desejos que movem o governo e a iniciativa privada: trazer de volta o passado glamoroso que um dia viveu nessa região, mesmo que para isso tenha que remover de forma truculenta e sem um plano realmente viável para instalar famílias e comerciantes, que hoje habitam os espaços que foram abandonados, sem deixar de pertencer ao local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COELHO JUNIOR, Marcio Novaes. Processos de intervenção urbana: Bairro da Luz, São Paulo. 2010. 329 f. Tese (Doutorado) – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Projeto, Espaço e Cultura, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

FYSKATORIS, Tula et al. Práticas culturais e comerciais no Bom Retiro: Mutações e permanência. Moda Documenta: Museu, Memória e Design, São Paulo, v. 1, n. 1, maio 2015.

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LEMOS, A. I. G. Consumo y comercio en la São Paulo contemporanea.

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MONTEIRO, Ana Carla de Castro. Os hotéis da metrópole: O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940-1960), São Paulo (USP), 2006.

MUNFORD, Lewis. A cidade na História: suas Origens, Transformações e Perspectivas. São Paulo: Martins

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Edusp, 2007, p.7-18.

SMITH, Neil. Gentrificação: A fronteira e a reestruturação do espaço urbano. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), São Paulo, v. 21, n. 1, p.15-31, fev. 2007. Quadrimestral. Tradutor: Daniel de Mello Sanfelici. Disponível em: <https://goo.gl/7Z4Tox>. Acesso em: 10 jul. 2017.

[1] LEMO, A. I. G. Consumo y comercio en la São Paulo contemporanea.

[2] Coleção/Fonte: Biblioteca Mário de Andrade. Resumo: Fachada do hotel Santos Dumont na Rua Mauá; estabelecimento comercial. Disponível em: < https://goo.gl/YFioR3>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[3] COELHO JUNIOR, Marcio Novaes. Processos de intervenção urbana: Bairro da Luz, São Paulo. 2010. 329 f. Tese (Doutorado) – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Projeto, Espaço e Cultura, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: < https://goo.gl/3xvdaK >. Acesso em: 03 jul. 2017.

[4] As ruas do Triunfo, Vitória, dos Gusmões, dos Andradas são as principais da chamada Boca do Lixo, no bairro da Luz, bem perto do centro de São Paulo. Durante muito tempo abrigou residências da classe mé- dia e hotéis e pensões familiares. Mas por volta de 1950 o meretrício, que ficava confinado quase que legalmente em duas ruas do bairro do Bom Retiro, um pouco mais adiante, do outro lado da estrada de ferro, se viu expulso de lá por decreto do então governador Lucas Nogueira Garcês. Na ilegalidade total, sem a proteção dos bordéis do Bom Retiro, as prostitutas se concentraram justamente nessas e em outras ruas da Luz. E, com elas, logo vieram outros marginais. As moças, além de atender à clientela local, podiam investir nos homens que estavam em trânsito por São Paulo, geralmente a trabalho, e se hospedavam naquela região. Eles faziam isso porque duas das três estradas de ferro que passam pela cidade, a Paulista e a Sorocabana (hoje pertencentes ao Governo do Estado), tinham nas imediações as suas estações de trens: a Luz e a Júlio Prestes. Mais tarde, ali perto, na Praça Júlio Prestes, foi construída, rente à Av. Duque de Caxias, a estação rodoviária que atendia todos os ônibus intermunicipais e interestaduais. Foi essa proximidade com as estações ferroviárias e rodoviária que atraiu o cinema. Primeiro as distribuidoras de filmes, tanto a de produções estrangeiras como brasileiras. STERNHEIM, Alfredo. Cinema da Boca – Dicionário de Diretores. Coleção Aplauso (coordenador geral: Rubens Ewald Filho). São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo / Fundação Padre Anchieta, 2005.

[5] Acervo Estadão. Incêndio destruiu Estação da Luz em 1946: Fogo destruiu arquivos, documentos e fachada do prédio. 2015. Disponível em: <https://goo.gl/PTv3sB>. Acesso em: 06 jul. 2017.

[6] FYSKATORIS, Tula et al. Práticas culturais e comerciais no Bom Retiro: Mutações e permanência. Moda Documenta: Museu, Memória e Design, São Paulo, v. 1, n. 1, maio 2015. Disponível em: <https://goo.gl/NoHiWt>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[7] G1. Fotos: compare vistas aéreas atuais de São Paulo com 1954. Imagens são do Arquivo Histórico da cidade. Clique no ícone no canto superior direito para ampliar a visualização. Disponível em: <http://glo.bo/10MaTYq>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[8] JORNAL DE NOTÍCIAS. São Paulo, 13 ago. 1950. Disponível em: <https://goo.gl/KoxmLG>. Acesso em: 05 jul. 2017.

[9] O Jornal de Notícias foi um periódico publicado em São Paulo de 1946 a 1951, tinha a sede na rua Florêncio de Abreu e pertencia a Companhia Paulista Editora e de Jornais que fazia parte do grupo Wainer.

[10] O Departamento era um serviço de fiscalização de preços da Comissão Estadual de Preços (C.E.P), criada pelo Decreto nº 18.230, de 9 de agosto de 1948 em São Paulo.

[11] JORNAL DE NOTÍCIAS. São Paulo, 22 dez. 1950. Disponível em: < https://goo.gl/ciSFNF >. Acesso em: 05 jul. 2017.

[12] ZORZETO, Ricardo in MEDINA, Cremilda (org.). “Vamos ao Centro”, p.50 apud MONTEIRO, Ana Carla de Castro. Os hotéis da metrópole: O contexto histórico e urbano da cidade de São Paulo através da produção arquitetônica hoteleira (1940-1960), Dissertação (Mestrado), São Paulo (USP), 2006. Disponível em: <https://goo.gl/dKggDu>. Acesso em: 06 jul. 2017.

[13] Todos os prefeitos da capital de São Paulo. Site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=288417>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[14] IBGE Cidades. São Paulo. População no último censo (2010). Disponível em: <https://goo.gl/ezZfVH>. Acesso em: 13 jul. 2017.

[15] JORNAL DE NOTÍCIAS. São Paulo, 1 abr. 1950. Edição 1.138, pp. 2-12. Disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[16] O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi concebido no final dos anos de 1940 para ser uma medida abrangente do movimento de preços e é usado como deflator do índice de evolução dos negócios, resultando um indicador mensal do nível de atividade econômica. Fonte: FGV/IBRE, disponível em: <https://goo.gl/9Ag5sK>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[17] Em 1952 o salário mínimo volta a ser aumentado pelo presidente Vargas, de Cr$ 380 para Cr$ 1.200. Fonte: FGV/IBRE. Disponível em: <https://goo.gl/U1FsTx>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[18] Acervo O Estado de S. Paulo, edição de 17 de abril de 1959, p. 30. Disponível em: <https://goo.gl/tejvZs>. Acesso em: 30 jun. 2017.

[19] Dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social. Disponível em: <https://goo.gl/dJqWXw>. Acesso em 12 jul. 2017.

[20] A expressão gentrification foi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass, em 1964, e sistematizada como fenômeno social por Neil Smith, professor de Antropologia e Geografia da City University of New York. Que designa os processos de valorização imobiliária e expulsão dos moradores originais nas experiências de renovação de áreas centrais.

[21] Projeto Nova Luz. Projeto Urbanístico Específico (PUE). Subproduto 5.1: PUE Consolidado. Julho de 2011. Disponível em: <https://goo.gl/Fh3dWW>. Acesso em: 12 jul. 2017.

[22] Projeto Nova Luz. Projeto Urbanístico Específico (PUE). Subproduto 5.1: PUE Consolidado. Julho de 2011. Partido Urbanístico 2-14. Disponível em: <https://goo.gl/Fh3dWW>. Acesso em: 12 jul. 2017.

[23] Sobre o site: “O Observatório de Remoções é um grupo de pesquisa-ação da FAU/USP e da UFABC que tem por objetivo monitorar e desenvolver ações colaborativas com territórios ameaçados de remoções que desrespeitam as condições de moradia digna nos municípios de São Paulo e do ABC”. Disponível em <https://www.observatorioderemocoes.fau.usp.br/>. Acesso em 13 jul. 2017.

[24] Observatório das Remoções. Mapeamento Participativo. Comunidade Mauá. Disponível em <https://www.observatorioderemocoes.fau.usp.br/mapeamento-participativo/map.html>. Acesso: 13 jul. 2017.

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Crédito das imagens: Diversos (Atribuída na legenda quando disponível)

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