E foi um difícil começo*

publicado na Ed_06_jan/mar.2018 por

Para muitas pessoas, conhecer São Paulo é um sonho. O Fran, como gosta de ser chamado, nasceu em Jequié, cidade do Sol, interior da Bahia, tinha esse sonho. Moreno, cabelo escuro, nem magro nem gordo, sempre social casual, com sua mochilinha na mão. Sua infância foi muito conturbada, mais isso o ajudou a tomar a decisão de construir uma nova vida na grande cidade da garoa. Durante nossa conversa, em uma pausa rápida, ele me disse:

— Mas assim: você vai tirar minha história como se fosse a música de Caetano Veloso, né? O nome é Sampa. Já ouviu, né? Eu sou fã e é a realidade da vida da gente que vem de longe.

Sorri para ele e continuamos nossa conversa que, na verdade, mais parecia um bate-papo “sincerão”, daqueles que você joga conversa fora numa mesa de bar. Não fossem as dificuldades e muitos pesos de uma infância perturbadora e que lhe deixou grandes sequelas. Francinei, hoje com 36 anos, teve que tomar decisões bem cedo para conquistar seu espaço.

— Eu não sou mais aquele menino que sonhava ou que era bonzinho e comunicativo que sempre fui.

Marcas da infância o fazem refém até hoje e, com os olhos brilhando lacrimejantes, ele me contou seus momentos mais difíceis. Marcas essas que o fazem sentir dor, não aquela como uma simples dor na cabeça ou nas costas, mas uma dor que médico algum conseguiu explicar, talvez porque fosse algo em seu interior. Flashes de lembranças ainda o perseguem, mesmo tantos anos depois, e o fazem lembrar-se de momentos de sua infância bem diferentes da de uma criança comum.

Aos quatro anos ele foi abusado sexualmente pelo pai de seu amigo, vizinho da família. E essa é uma de suas lembranças perturbadoras. Após brincar com seu amigo durante uma tarde, foram dormir, e quando ele e o amigo estavam dormindo, ele se recorda de acordar no colo daquele homem, mas sem entender nada, e voltou a dormir. No dia seguinte, ele acordou com fortes dores, mas com toda a inocência de uma criança, não imaginava o que era. Sua família não sabia e nunca percebeu o que acontecia com ele. Mas sua conduta mudou: na escola ele não era mais aquele garoto inteligente e participativo; em casa, na rua, tudo era diferente. E as pessoas começaram a perceber, a criticar e a zombar dele. Ele passou a ter vergonha.

— As pessoas começaram a me chamar de diferente, falando que eu seria gay.

Os jovens da rua passaram a se aproveitar da situação. Aos 10 anos, seu comportamento já não era o mesmo e quando passou a decidir com quem queria ou não se relacionar, sofria ameaças e era agredido. Lembra-se de levar socos, chutes e de ser ameaçado com faca.

— Se eu dissesse não, eles me ameaçavam dizendo que contariam pros meus pais.

Para Fran, a vergonha era pior que o medo de morrer.

— Era um, era outro, aí foi indo.

Passou a dormir com medo, às vezes pedia para dormir até no colo de sua mãe, para se sentir mais seguro. Então, o tempo passou. Seus pais foram percebendo suas atitudes, observando os comentários na rua e passaram a questioná-lo para saber porque ele estava agindo diferente. Mas ele nunca contou sobre os abusos que estava passando.

— Eu não tinha medo de morrer, mas tinha vergonha dos meus pais ficarem sabendo.

 “Eu só sinto prazer se eu sentir dor”

 Sua vida foi, na verdade, construída por abusos, vergonha, cobranças, ignorância, tristeza e muita indecisão. Situações que transformaram sua vida, tornando-o uma pessoa em que o prazer é estabelecido pela dor.

— Hoje eu tenho um vício, que é sentir dor. Depois eu sinto nojo de mim, eu tomo banho, me sinto sujo.

Concluiu essa frase dizendo que sua vida ainda é confusa e que questiona Deus sobre o motivo de viver tal situação.

Com a voz cuidadosa ele me conta que sempre se sentiu o culpado por tudo o que aconteceu e que sabe o quanto um pedófilo pode agir, até mesmo sem dizer uma só palavra, mas com gestos e olhares, na mente de uma pessoa.

“Sou culpado até pela pessoa que eu sou”

Aos 11 anos, as pessoas que ele mais amava lhe viraram as costas, não o aceitavam por causa de seu jeito. Ele se tornou uma criança fechada. Dos 14 aos 19 anos, na fase da puberdade, ingeria hormônio feminino: em sua mente ele já se sentia mulher. Os hormônios rapidamente fizeram efeito: ele não tinha pelos no corpo, nem músculos nas pernas. Seu peito era como de uma mulher e os cabelos longos.

Sua identidade foi furtada por dezenas de abusos e omissão dos responsáveis.

Enquanto ele me contava sobre sua opção sexual, dei-me ao descuido de perguntar se, mesmo depois de quando ele já estava com aparência de mulher, continuava sendo perseguido e recebendo ameaças. E a resposta?

— Sim, eu me parecia muito com uma mulher. Depois de grande eu já entendia e já sabia o que eles queriam fazer, respondeu.

Agora, ouça essa história, ou melhor, leia:

Fran me contou que em um dia de chuva um policial que sempre o observava estava na frente da escola. Ele conhecia o policial e também conhecia a família daquele homem. Sua casa era próxima da escola, mas naquele dia ele resolveu conversar com o policial, que lhe ofereceu carona até sua casa e Fran aceitou. Ele foi levado a um lugar deserto com muitas árvores. Ele tinha 16 anos e foi ameaçado com uma arma na boca e no ouvido durante o abuso.

— Mas também eu já estava tão frio, estava acostumado com tudo.

Saída

Seu bloqueio é tão forte a ponto de não conseguir olhar para uma criança na rua que esteja com um pai ou conversando com outro homem, sem imaginar que aquela criança pode estar passando pelas mesmas situações.

Dominado pela vergonha, São Paulo era o refúgio que ele precisava para que sua família não soubesse o que aconteceu durante sua infância e adolescência.

— Eu amo eles. Mas as pessoas que eu mais amo me colocaram pra fora. Como eu vou querer ficar perto dessas pessoas?

Suas emoções são muito divididas. Mesmo sabendo que seus pais não o aceitavam e culpando-os por muito tempo por todo desprezo, também sabe que eles não tiveram culpa, inclusive até então eles nem imaginam o que Fran sofreu na infância. Tudo o que aconteceu mexeu muito com o psicológico dele. Mas isso virou rotina. Sempre que precisava de dinheiro, vender seu corpo era a única saída.

— Cheguei a ter relação com dez homens ao mesmo tempo. Eu fazia programas em Porto Seguro, mas pra chegar até lá eu precisava de carona e o pagamento era o de sempre: sexo.

O percurso da cidade de Jequié até Porto Seguro era realizado principalmente pela BR-101, cerca de 450 km de distância, e Fran não tinha como pagar.

— Eu já era grande, todos sabiam o que eu estava indo fazer, então eles se aproveitavam. Era uma troca: carona por relação sexual.

Quando ele tinha 19 anos sua família estava meio preocupada e ao mesmo tempo bem distante dele. Chegarem até a impedir que ele saísse de casa. Tanta humilhação que o faz lembrar que ter relação com vários homens na mesma noite não era bom, mas ele precisava daquilo.

— Ainda bem que eu não peguei vício nenhum de drogas.

Em busca de mudanças e identidade

Ele visitou então uma igreja católica, mas não foi aceito. As pessoas diziam que ele tinha que saber o que ele era. Sua irmã frequentava uma igreja evangélica e passou a falar de Deus para ele. Que Deus podia mudar sua vida.

— Eu fiquei pensando no que ela disse, porque eu realmente queria uma mudança na minha vida. Eu estava cansado de ser o bobo da corte, de ser colocado pra fora de casa…

Ele estava cansado de ir para as ruas para se prostituir, de dormir longe de casa porque tinha que esperar por carona. Estava cansado de ter que ir pra Porto Seguro, Ilhéus, Morro de São Paulo e Salvador.

Foi aí que ele resolveu ir à igreja. E novamente voltou a sonhar.

— Meu psicológico começou a mudar ou não sei se era Deus mesmo.

Foi aí que ele resolveu mudar. Cortou o cabelo e voltou a usar roupa masculina. Mas seus desejos não sumiram. Ele até hoje não aceita sua opção sexual. E, aos 36 anos, nunca teve um relacionamento sério. Ele se culpa por isso. Porque queria ter tomado a decisão logo.

“Eu vim pra São Paulo por causa disso”

— Eu converso sozinho. Não pense que eu sou louco, é só solidão (risos).

Hoje, mesmo de longe, tem um bom relacionamento com seus pais, mas diz que não voltaria à Bahia.

Sua chegada a São Paulo foi a realização de um sonho. Na Bahia ele trabalhou como atendente/vendedor na loja RAMARIM durante 10 anos, mas sempre teve vontade de vir a São Paulo. Ele ouvia comentários sobre a beleza e as oportunidades que a grande cidade oferecia e aquilo queimava em seu coração.

— Eu queria ser livre pelo fato de ser gay, pois eu acreditava que seria aceito.

Ainda na Bahia conheceu uma moça, a Maria. Eles saíam juntos, frequentavam bares e costumavam se encontrar para tomar cerveja depois do trabalho. Ela também sonhava em morar em São Paulo e foi quem, inclusive, teve grande participação em sua vinda.

— A gente falava muito na gíria, não liga não (risos).

Então, durante três meses, Fran ficou pedindo para ser mandado embora do trabalho para usar o dinheiro para a viagem. Sua amiga saiu dois meses antes e veio para São Paulo. Ficou na casa de uns familiares. Dois meses depois, quando ele conseguiu sair do emprego, ela voltou para convencê-lo a ir embora com ela.

— Ela disse que São Paulo era maravilhosa, que era loucura, muita curtição.

Quando conseguiu sair do emprego, com o dinheiro da rescisão, total de sete mil reais, Fran então resolveu que viajaria. Comprou passagem de ônibus, arrumou as malas e veio para São Paulo. Para ele era a hora de ter uma vida nova, realizar sonhos. O ônibus, como muitos clandestinos, tinha uma situação bem precária, muitas famílias com crianças de colo e idosos. O banheiro sempre sujo e sem possibilidade de utilização. Mas, passado o perrengue, chegou à tão sonhada São Paulo.

Fran completou 30 anos durante a viagem.

Chegando aqui, se entusiasmou. A realidade, aquilo que ele imaginava: prédios bem altos, as pessoas bem vestidas, tudo tão grande. A correria de São Paulo o fez se apaixonar pela cidade. Aquela rotina que muitos da capital querem fugir e Fran, pelo contrário, achou tudo lindo.

— Eu fiquei assustado também (risos). Nunca tinha andado de elevador, nem de escada rolante. Acabei me chocando!

Mas logo sentiu o choque cultural. O sotaque, as comidas, o modo de se vestir e de se comunicar. Logo viu que aquela seria sua nova realidade. Ter que acordar cedo para trabalhar, faça chuva ou faça Sol. Mesmo assim, sua paixão por São Paulo só crescia.

A amiga que o incentivou a vir para São Paulo foi morar na casa da sogra do irmão dela.

— Tô ficando tenso.

Antes de continuar, Fran me disse que estava ficando tenso e eu me lembro de dizer a ele para não ficar, falei isso em um tom bem amigável. Como eu queria que ele se sentisse bem naquele momento! Como se estivéssemos jogando conversa fora em um happy hour. Mas com tanta coisa que ele contou, era normal que estivesse tenso.

Então ele continuou.

Eles moravam na mesma casa: a sogra do irmão de sua amiga com a filha. E, agora, Fran e sua amiga também. Logo ele ficou impaciente. Eles eram sujos, não se preocupavam com a limpeza da casa.

Ele queria arrumar um emprego e conquistar seu espaço. Os parentes de sua amiga saíram da casa e foram morar em outro lugar. Fran e a amiga ficaram sozinhos. Logo ela começou a namorar outra mulher. Para que conseguissem se sustentar, ele estava usando o dinheiro do seguro desemprego.

— Eu achava que estava rico (risos).

Ele tinha umas economias e o dinheiro que havia recebido lá na Bahia de FGTS. Os sete mil reais estavam numa conta da Caixa Econômica Federal. Como muitos que vêm de outro estado, Francinei não tinha maldade alguma, queria conhecer a cidade grande. A calmaria ainda o acompanhava. Andar devagar, olhando as vitrines das lojas, conhecendo a cidade, um passo de cada vez e essa era sua realidade. Vir para São Paulo era um plano e ele tinha de poder reescrever sua história.

Já tinha um curso técnico de segurança no trabalho, mas ele queria cursar uma faculdade. Esse era mais um de seus sonhos.

A amiga de Fran conseguiu emprego e já que ele não conseguia, resolveu sacar seu dinheiro para ajudar nas despesas de casa. Era o único dinheiro que tinha. Fran me contou que não sabia que existia a possibilidade de transferir de um banco para outro, pagando uma taxa. Então ele foi ao banco e sacou os sete mil reais.

Quando saiu da agência, encontrou um idoso, que deixou cair um pacote. Prestativo, ele apanhou o pacote e entregou a ele.

— Ele inclusive parecia ter a idade do meu pai. Então quando a gente se muda, a gente fica mais sensível. Eu via alguém de idade e queria ajudar, porque eu me lembrava dos meus pais.

O idoso agradeceu e o segurou dizendo que estava passando mal. Fran ameaçou chamar o SAMU e foi repreendido. Então, uma mulher se aproximou e o ajudou a levar o idoso para um canto, onde pudesse se apoiar.

— Foi quando ela colocou a arma em mim. E me pediu tudo. Tudo o que eu tinha. Na época eu tinha um celular top, que era aqueles de infravermelho, da Samsung. E também levaram todo o meu dinheiro.

“Foi então que eu caí na realidade”

Depois de toda essa situação, perguntei para o Fran se ele pensou em voltar para sua cidade. O que seria muito normal. Muitas pessoas acabam passando por uma série de dificuldades e problemas, acham que voltar para a cidade natal é a melhor solução naquele momento. Mas Fran não pensava assim. Mesmo perdendo todo o dinheiro que tinha, não passou pela sua cabeça deixar São Paulo.

Quando sua amiga soube o que tinha acontecido, passou a esnobá-lo. Os dois dormiam juntos em um quarto, depois disso, ele passou a dormir na sala. O relacionamento de amizade dos dois foi mudando e eles foram se distanciando mesmo morando na mesma casa. Maria trabalhava a noite e quando chegava pela manhã em casa, fingia que não o conhecia.

— Eu comecei a passar fome dentro da minha própria casa.

À noite, depois do assalto, quando foi dormir, começou a sentir dores e levantou para ir até a cozinha e sentiu que sua pressão estava caindo.

— Lembrei-me do meu pai que me dizia que quando a pressão caísse, tinha que comer sal.

Mas não conseguiu pegar o sal. Lembra-se que a hora em que levantou eram duas da manhã e só acordou as sete com o pote de sal derramado no chão. Maria chegou do trabalho, viu que ele estava no chão, mas não se preocupou em saber se estava tudo bem.

— Eu me levantei, deitei na cama e comecei a pedir pra Deus me ajudar.

Fran sempre foi muito comunicativo e expressivo. Ele, então, foi atrás do Ganha Tempo de Barueri e descobriu que quem estava desempregado conseguia bolsa de estudos. Foi aí que ele cursou logística por três meses. Conseguiu também cesta básica e o vale transporte para se locomover de casa para o curso e para procurar emprego. Mesmo com essa ajuda, nem sempre era o suficiente. Chegou a comer massa de milho (milharina) com açúcar, enquanto sua amiga na mesma casa comia pizza.

— Ela não falava comigo. Antes eu comprava tudo dentro de casa e ela só comprava absorvente. Eu não tinha paciência de passar fome ou de ver as coisas faltando dentro de casa.

Depois de tantas humilhações, Fran conseguiu um emprego em uma empresa que prestava serviços para a Cielo. Entrava uma hora da tarde. Como não tinha o que comer pela manhã, sempre chegava ao trabalho com muita fome, mas sua janta era às seis da tarde.

Pouco tempo depois, passou a ter problema com a encarregada, que percebeu que ele era gay.

— Ela achava que eu era bobinho, mas aquele era meu jeito. Às vezes ela me dizia que se eu não terminasse de fazer meu serviço eu não iria jantar. Era muita humilhação. Eu não tinha mais lágrimas pra derramar.

Muitas vezes ele não pôde jantar e, para não passar mal, tomava água com sal. Mesmo assim, sempre passando mal em casa ou na rua. Com tanta perseguição, alguns colegas perceberam e fizeram um movimento para tirar a encarregada do setor. E eles conseguiram.

— Fiz amizade com todo mundo.

Nesse trabalho, Fran ganhava pouco. E, ainda assim, tudo o que comprava, dividia. Inclusive, um dia depois do seu pagamento, Maria pediu 20 reais a ele para comprar pizza com os outros amigos que moravam com eles. Mas ele não tinha e falou que tinha usado o dinheiro para comprar frango.

— Ela falou uma coisa pra mim que pode até ser besteira, mas que me machucou muito. Ela falou: Nossa, recebeu ontem e já acabou o dinheiro? Mas eu tinha comprado tudo, até o sabonete que tinha dentro de casa.

Ele pedia ajuda a Deus, dizia que pegaria o dinheiro e que voltaria para a Bahia, não aguentava mais aquela situação humilhante. Até então moravam com ele sua amiga Maria e a namorada dela e mais alguns amigos. Mas pouco tempo depois, os amigos dela foram embora.

Foi quando Fran comentou com a dona da casa que sairia de lá em breve, que iria embora. Ela então conseguiu uma casa com três cômodos para que ele pudesse se mudar. Fechou metade de sua casa e reformou para ele. E Fran já tinha alguns móveis guardados.

— A dona da casa encontrou uma televisão no lixo e eu fui com ela buscar pra mim. Mas eu a ligava de manhã para funcionar só de noite. Quando eu chegava em casa eu assistia e ia dormir.

E assim foi conseguindo suas coisas. Ganhou um fogão de duas bocas dos amigos da empresa, outros pagaram o botijão de gás, outros dividiam a cesta básica com ele.

Fran trabalhava na produção da empresa e estava esperando por uma promoção para trabalhar no SAC. Mas não conseguiu. Teve problemas com um líder que também o perseguia pela sua opção sexual. Pediu para ser mandado embora e disse que usaria o dinheiro para voltar à Bahia, então eles o fizeram.

Mas Fran não voltou para Jequié. Foi atrás de um novo emprego e conseguiu trabalho em uma transportadora, mesma empresa que está até hoje. Ele trabalhava na rua como ajudante de carga e descarga de caminhão que faz entrega e coleta. Começou a fazer amizade com os colegas de trabalho, com os clientes da instituição e assim foi se readaptando à nova rotina.

— Eu fui me esforçando. Sofri muito também. Tinha dia que eu não aguentava mais ir trabalhar de tanto preconceito comigo. Me chamavam de “viadinho”, entre outras coisas.

Para ele essa foi uma das piores épocas. Sofreu muito. Chegou a ficar esquecido, desatento, nervoso, agressivo e chorava com muita facilidade. Mas ele sempre continuava tentando se aproximar das pessoas para fazer novas amizades.

Até que um dia ele chamou a atenção de um dos sócios da empresa que conheceu sua história e seu trabalho. Logo, a empresa mudou de endereço e foi para o centro da capital paulista. Com isso, surgiu uma nova oportunidade. Ele foi convidado a fazer parte do administrativo.

Hoje ele é responsável pelo almoxarifado da companhia. Antes eram outras duas pessoas.

Conquistou respeito, amizade e, acima de tudo, tem conquistado sua liberdade. Hoje, aos 36 anos, seu sonho é ter sua casa própria e continuar seus estudos.

Mesmo com tantos problemas e dezenas de traumas, o sorriso e a simpatia não mudam. Talvez seja esse o segredo que o fez conquistar tantas coisas boas e superar todo sofrimento de sua infância.

*Trecho da música, Sampa de Caetano Veloso

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Crédito da imagem: CC0 Creative Commons

Capítulo do livro:Mais fortes do que pensam: São Paulo acolhedora dos migrantes

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