Prefácio

publicado na Ed_11_abr/jun.2019 por

Primeiro semestre de 2018. A mídia brasileira centraliza atenções em duas edi­torias. Às vésperas de mais um período eleitoral, as manchetes políticas priorizam os escândalos de corrupção, com a prisão inédita de um ex-presiden­te — Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — e outras tantas denúncias envolvendo o nome do então ocupante do posto de mandatário supremo da Nação — Michel Te­mer (MDB). No Esporte, foco absoluto na expectativa pela vigésima primeira edição da Copa do Mundo de Futebol, a primeira na Rússia, e no sonho da con­quista do sexto título da “Seleção Canarinho”. Con­seguiriam os pupilos do técnico Tite apagar da nossa mente – ou pelo menos atenuar – o trauma daquele 7 a 1 imposto pelos alemães na semifinal disputada em Belo Horizonte, quatro anos atrás?

Longe da badalação em torno de Neymar Jr. e seus colegas nesta missão e do noticiário político-policial da capital federal, um homem que honra as raízes mineiras, com fala mansa e jeito discreto, seguia fazendo história e assombrando todos os que tomavam conhecimento de suas façanhas na corrida de rua.

Aliás, “seguia” não; segue! Aos 65 anos, uma idade que para muitos significa o mergulho definiti­vo em um ciclo de decadência física e mental, Nilson Paulo de Lima esbanja saúde, disposição e fôlego. Seu grande hobby é aumentar o currículo pessoal de mara­tonas ao redor do planeta.

No último dia 22 de abril, ele completou a sua 195ª prova com no mínimo 42.195 metros de dis­tância. Foi a décima quinta maratona concluída em um intervalo de apenas 30 dias – período no qual fez um tour por 13 estados e avançou um pouco mais no projeto de buscar pelo menos uma medalha de ma­ratona em cada uma das 50 unidades da federação estadunidenses. A volta ao Brasil foi justamente por conta de uma manhã de domingo especial, receben­do amigos na cidade que o acolheu como morador há pouco menos de meio século e que desde 2016 o reverencia com o nome de um evento: a Maratona Nilson Lima de Uberlândia.

Crédito da imagem: Thiago Crepaldi

Quem também marcou presença em meio aos cerca de 1.600 participantes inscritos na tercei­ra edição da “UDI 42” foi o sul-africano Bruce For­dyce, que possui marcas impressionantes[1] naquela que é considerada a maior e mais famosa ultrama­ratona do mundo, a Comrades – cujo percurso va­ria entre 87 e 90 quilômetros.

Atualmente com 62 anos, o sul-africano foi o palestrante do jantar de massas realizado na noite de 21 de abril. Na ocasião, foi perguntado por mim se tinha conhecimento de algum outro corredor cujo prestígio é tão grande, a ponto de poder participar de uma maratona batizada em sua homenagem, como ocorre com o brasileiro. Fordyce disse que não e o de­finiu como um atleta “incrível”.

O multicampeão está entre os mais de 20 entrevistados – pessoalmente, via e-mail, Facebook ou WhatsApp – durante as pesquisas para a pro­dução deste livro-reportagem e de um segundo tí­tulo que ainda está “em fase de gestação”, ambos frutos de um projeto desenvolvido para o curso de Mestrado Profissional em Tecnologias, Comunica­ção e Educação da Universidade Federal de Uber­lândia (UFU), sob a orientação do Prof. Dr. Rafael Duarte Oliveira Venancio.

Desde a nossa primeira conversa, Nilson sem­pre foi muito receptivo e atencioso ao trabalho, che­gando a abrir as portas de sua residência em setem­bro de 2017 para uma longa conversa que serviu para nortear a escolha dos demais autores de depoimentos especiais: pessoas próximas a ele, no ambiente fami­liar e, sobretudo, no das corridas, incluindo profissio­nais com amplo conhecimento a respeito da prática deste esporte e que já acompanham o “homem-mara­tona” há muitos anos.

Atleta amador que também sou, e com a “im­pressionante” marca de três maratonas cumpridas a duras penas até então, me propus a tentar acompa­nhá-lo durante os mais de 42 mil metros do trajeto do evento que o homenageia desde 2006, a Maratona Nilson Lima de Uberlândia – UDI 42. O relato desta experiência foi o fio condutor escolhido para narrar a trajetória esportiva do mineiro até chegar à sua corri­da oficial de longa distância de número 200, fato que aconteceria menos de três meses depois, no dia 9 de julho, na cidade de Wahpeton, localizada no estado de Dakota do Norte, nos Estados Unidos.

O raciocínio foi o seguinte: para apresentar este homem e o que o move, nada melhor do que vi­venciar o universo no qual ele transita, faz história e conquista tantos amigos e admiradores. Com os seus testemunhos, casos e “causos”, eles me ajudaram muito nesta tarefa.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa. No caminho eu conto!

[1] Bruce Fordyce venceu a prova por oito anos seguidos (de 1981 a 1988) e quebrou o recorde dela em cinco destas oportunida­des. A nona vitória foi obtida em 1990. Ao cravar o tempo de 5h24min07s, em 1986, estabeleceu um recorde que durou 21 anos na Comrades. Em 2012, aos 56 anos, com 8h06min10s, completou sua trigésima participação consecutiva naquela ultramaratona.

 

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Crédito das imagens: Diversos, atribuídos em legenda

Capítulo do livro:No caminho eu conto: a trajetória que transformou Nilson Lima em homem-maratona

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